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Cerveja e Religião com Sérgio Barra | Ep.145

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No programa de hoje, vamos falar de como a cerveja e a religião se entrelaçam em diversos momentos históricos. Para nos ajudar nesse caminho, estamos com Sérgio Barra que é Doutor em História Cultural, Sommelier de cervejas, com especialização em Marketing de Cervejas. E que também já esteve conosco no episódio 41 (sobre a história da cerveja antes e depois do Brasil) e também no episódio 125 sobre os Mitos Cervejeiros Históricos. Ouça na íntegra:

 

Cerveja e religião é uma estranha relação ou no início era o nada e então houve uma grande fermentação?

 

Sérgio em 07’03’’:  Esse tema é muito interessante porque ele gera um certo estranhamento, né. Quando a gente pensa em cerveja, qual é a primeira coisa que vem na sua cabeça? Churrasco, boteco, amigos, rede, livro… porque é isso que marca a nossa cultura cervejeira. A nossa cultura cervejeira tá muito marcada pela relação da cerveja com a festa, da cerveja com o lazer. Quando a gente pensa em religião, quando a gente pensa em um universo religioso, tipo sacralidade, missa, padre, o máximo que costumamos pensar é em vinho. A nossa cultura nos leva em primeiro lugar para esse lugar da relação da cerveja com o lazer e não dá cerveja com religião. Mas o que é mais interessante é que a relação entre cerveja e religião é mais antiga inclusive do que a relação entre cerveja e lazer apesar de a primeira vista parecer mais esquisito. Se você pegar os primeiros resquícios de produção de cerveja foram encontrados nas urnas funerárias. […] Qual era a função da bebida alcoólica na sociedade do homem de dez mil anos atrás? E a primeira resposta é que a cerveja tinha uma função religiosa, uma função ritualística. O álcool altera o estado de consciência do homem e fez com que ele entrasse em contato com realidades metafísicas, realidades transcendentes. E depois a cerveja será ligada às festas, mas primeiro veio a religiosidade. 

 

 

A expansão do cristianismo na Europa 

 

 

Sérgio em 19’24’’:  A partir do momento que o cristianismo começa a se expandir para fora de Roma, nós já estamos falando da queda do império romano, ele começa em contato com povos não cristãos, principalmente os povos celtas,que dominavam boa parte do norte, do leste, da Europa… Chegar até a península ibérica… E esses povos, eles tem a cerveja desde sempre como um componente muito importante da sua cultura. A produção e o consumo de cerveja, como a gente vinha falando. Todas essas festas, esses rituais eram regados a bebida alcoólica, cerveja, hidromel… Então quando a igreja católica começa a entrar em contato com esses povos, ela começa a usar estratégias para cristianizar os povos. Uma das estratégias é justamente fazer um sincretismo entre os dogmas católicos e a cultura ancestral desses povos. A igreja vai começar a incorporar esse hábito da produção e do consumo da cerveja, por exemplo, por meio da criação dos santos cervejeiros que a gente conhece hoje. Eu separei dois exemplos que são dois santos ligados à cristianização da Irlanda, São Patrício que foi o pioneiro da cristianização da Irlanda e a Santa Brigite.

 

O papel dos mosteiros católicos na cultura medieval

 

Sérgio em 29’22’’: Aí nós vamos entrar na Idade Média, que é um período de prevalência da Igreja Católica, digamos assim. O que nós temos como quadro geral é um empobrecimento da Europa, em termos de vida urbana, de educação, de instrução. Nos séculos V e XX, nós temos um campesinato analfabeto, uma nobreza igualmente analfabeta, um clero regular um pouco menos analfabeto, o padre de paróquia é um pouco menos analfabeto… E aí temos os padres dos mosteiros, o clero secular, que vivia afastado, temos a guarda do estudo e do saber. As principais bibliotecas estão em Mosteiros, então o saber está concentrado em sua grande parte, nos Mosteiros católicos. Aí ao longo da idade média, até começarem a surgir as Universidades, lá no século XI, você vê que os mosteiros são autossuficientes. Seja na sua produção de comida, seja na sua produção de bebidas; onde se produziam diariamente vinhos e cervejas. E aí tem uma planta do mosteiro de San Gallen, mosteiro da Suíça, que é uma planta de uma reforma do Mosteiro do século 19 e já nessa planta você tem a previsão da construção de duas cervejarias! Uma cervejaria para uso dos monges, que fica na área reservada só dos monges, e uma Cervejaria na área das visitas. Isso porque os Mosteiros são centros também de peregrinação e de pouso. 

 

E o lúpulo?

 

É nos Mosteiros onde se começa a estudar o uso do gruit e o uso do lúpulo porque o que a gente tem antes do uso do lúpulo é um lindo gruit que você já deve ter ouvido falar. Ele é uma mistura de ervas onde você pega as plantas que estão disponíveis na sua região e coloca na cerveja. Isso como conservante e como aromatizante. E você começa a ter um estudo do gruit, e o lúpulo fazia parte do gruit. Você começa a ter um estudo dessas ervas e com isso o estudo do lúpulo. Em seguida, o lúpulo começou a ser usado para substituir o gruit. Então desde o século 8 você tem plantações de lúpulo, sendo a primeira que temos em registro na Abadia de Saint-Denis, na França, em 1768.

 

 

A Ordem Trapista

 

 

Sérgio em 47’36’’: Os trapistas tem o nome oficial de Cistercienses Reformados de Estrita Observância, que são uma subdivisão dos Monges Beneditinos. Eles surgem do século sexto, depois temos no século doze e por fim temos os Cistercienses Reformados de Estrita Observância que nascem lá em 500. Eles ficaram conhecidos como Trapistas porque eles nasceram na Abadia de Notre-Dame de la Trappe, que fica na França. Eles são Beneditinos e os Beneditinos fazem quatro votos religiosos: pobreza, castidade, obediência e estabilidade. Com isso, os trapistas vivem a vida inteira nos mosteiros, que são autossuficientes como já comentamos. Então eles produzem geléia, mel, cerveja – isso para consumo dos monges e para vender. Os principais mosteiros cervejeiros que conhecemos até hoje são beneditinos. Aí você tem depois, muito tempo depois, a fundação da associação trapista internacional, para regulamentar e criar o selo de authentic produto trapista para os produtos produzidos dentro de Mosteiros trapistas.

 

 

 

 

👉 Ouça também: Surra de Lúpulo ep 130 – Rota cervejeira com Gabriel Thuler Costa

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