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Podcast “Surra de Lúpulo”, ep. 16: paternidade e representatividade negra com Diego Dias, da Implicantes

ONDE OUVIR:
Diego Dias, da Implicantes

Diego Dias, da ImplicantesNo episódio 16 do nosso podcast sobre cervejas artesanais, Surra de Lúpulo, paternidade e representatividade entram em debate com Diego Dias, da Implicantes, a primeira cervejaria negra do Brasil.

Paternidade e representatividade

Em nosso especial de Dia dos Pais, o convidado tem gêmeos de 10 meses em casa e é designer e sócio da cervejaria que traz para a discussão temas importantes para a sociedade e o mercado cervejeiro. Afinal, ‘ a cerveja é democrática. Mas até que ponto?’

Pandemia e paternidade

Ao ser perguntado sobre como é ter dois bebês em casa no meio do caos da pandemia, Diego conta que o maior desafio é não poder ter o apoio da família por causa do isolamento social. Mas o empresário conseguiu amenizar um pouco essas dificuldades com a presença de sua mãe em casa.

A infância da criança negra

Diego lembra que quando era mais novo, seu pai tentava prepará-lo para a sociedade racista em que todos vivemos e destaca que, para os negros, as dificuldades são muito maiores, e precisam provar que são melhores e superiores, pois sempre serão julgados por suas ações e atitudes. O designer

“Muitas coisas vão ser passadas de pai pra filho, infelizmente. A gente tem que alertar, até mesmo pra evitar violência policial e bullying violento de racistas. Enfim, são muitas coisas que fico me questionando, o que vou passar como pai. Acho que vou passar grande parte do que fui ensinado e do que aprendi. Esse é o maior desafio”.

“Me considero um privilegiado. Meus pais tinham posição de chefia no trabalho e isso proporcionou um bom estudo pra mim e pro meu irmão. Desde o início, nós recebíamos ‘sermão’ sobre a questão de ser negro, e que fazem sentido quando você começa a te entender e se compreender como pessoa, porque naquela época você só quer saber de brincar. Depois você vai entendendo a questão do racismo estrutural, vai se questionando. Hoje sou o que sou devido aos meus pais”.

Criando filhos negros em uma sociedade racista

Sobre a paternidade, o designer e empresário conta que foi um dos momentos mais lindos e apavorantes da sua vida e destaca o instinto paternal de defesa, em querer proteger os filhos a todo custo.

“Cada evolução é uma comemoração e isso me deixava nervoso porque a gente não está preparado. Mudou minha vida por completo, não consigo me ver mais sem meus filhos. É uma coisa linda ser pai. É muito louco e não é fácil, mas é muito bom”.

A representatividade na vida de uma criança negra é importantíssima e desde bebês, Diego faz questão de incluir a cultura africana na criação dos filhos.

“Tento sempre trazer músicas africanas, do Congo, músicas infantis e eles começarem a se reconhecer. E isso é muito difícil pra uma criança porque os bonecos e bonecas são brancos”.

“São questões que você vai acrescentando para a criança entender que ela não vai ser igual a uma criança branca. E também para ela ir se construindo como uma pessoa negra, entendendo como agir com a questão do racismo. Essa é a maior dificuldade. É um dos maiores desafios que vou enfrentar”.

Racismo nas redes sociais

Lud e Leandro aproveitam o tema para falar com Diego sobre um post que viralizou sobre o crowfunding que a Implicantes abriu para ajudar a manter as contas pagas em meio à pandemia e a cervejaria foi atacada por racistas no Facebook.

“Tudo se baseou numa simples postagem. O único cunho racial que tinha é o que a gente emprega de sermos a 1ª fábrica cervejeira negra do Brasil. Quero dar ênfase nisso e não é uma questão de vitimismo, mas é para o povo preto saber que está sendo representado por uma cervejaria administrada por negros e que vamos trazer na nossa essência toda a representatividade da cultura negra”.

“Ela simplesmente postou pedindo apoio e, a partir disso, recebemos uma onda de ataques, inclusive de grupos cervejeiros. É assim que a gente vê que está fazendo um bom trabalho, porque nós queremos quebrar esse paradigma e mostrar que a cerveja é democrática. Se o espaço é pra todo mundo, porque logo nós que estamos fazendo um crowdfunding como diversas cervejarias fizeram, nunca foram atacadas e nós fomos?”

Diego conta que, apesar do episódio infeliz a que a marca e eles foram submetidos, descobriu que muitas pessoas se identificam com a Implicantes, mostrando os frutos de seu trabalho na representatividade negra e que o financiamento coletivo está quase batendo a meta para, além do pagamento das dívidas, ajudar na expansão da fábrica.

“Muitas pessoas não conseguem ver o negro numa posição de liderança, querem ver o negro como subalterno”.

Representatividade no meio cervejeiro

Como no episódio anterior, onde Madu Vitorino, do Pretas Cervejeiras apontou a falta de representatividade no meio, Diego corrobora e compartilha das mesmas opiniões que a colega de profissão.

“O mercado cervejeiro, principalmente artesanal, é sempre de pessoas brancas e voltado pro rock, então já há uma separação de público. E como a cerveja é pra ser democrática, tem que ter espaço pra todo mundo. Tem que ser convidativa. Não se deve basear em um só público”.

“Se a cerveja é pra todos, sai da teoria e vai pra prática!”

Ouça o episódio com Madu com mais um ponto de vista sobre o racismo no mercado brasileiro.

O empresário acredita que isso fez com que o público enxergasse a cervejaria como esse espaço de inclusão em meio a essa ‘bolha’.

“É uma questão muito elitizada, que não é debatida, porque é comum, e acaba passando”.

História da Implicantes e a luta por representatividade

Diego Dias aproveita para contar que junto do irmão, sempre se questionou sobre a falta de negros no mercado e em eventos cervejeiros. Além de ver uma tentativa dessas cervejarias em trazer essa representatividade, mas de uma forma desastrada, explorando a imagem do público negro de forma caricata e envolvendo termos pejorativos, relacionando sempre à cerveja escura.

Hoje ele diz que são 7 ‘Implicantes’ na fábrica fundada por ele e o irmão, e que o intuito é justamente o de implicar e provocar o debate sobre a representação e o mercado consumidor de cervejas artesanais. Os dois começaram a fazer receitas em casa sempre com o intuito em ter um produto que fosse de fácil acesso a todos.

“Surgiu uma oportunidade e compramos uma cervejaria de segunda mão e, obviamente, deu problemas com o maquinário, o que prejudicou nossa expansão porque estávamos com o dinheiro contado para arrumar a peça e não conseguia aumentar a produção”.

“Para a representatividade, tu tem que conversar e não simplesmente tirar da tua cabeça. E era o que a gente percebia nesses eventos ao ver esses rótulos absurdos. Foi daí que surgiu a Implicantes, porque queríamos implicar com diversos assuntos não-debatidos nesses eventos cervejeiros e nas rodas de happy hour. E nós trazemos personalidades negras que foram essenciais na luta contra o racismo, e também diversos assuntos relacionados a questão racial, desses termos pejorativos”.

Futuro da Implicantes

O maior intuito de Diego é expandir a fábrica com a ajuda do financiamento, continuar a distribuir a cerveja nos pontos de venda e atualizando o e-commerce para atingir um público maior.

“Tem muitas pessoas que querem a Implicantes no seu estado e isso mostra que o pessoal se sente representado pela marca”.

Leandro complementa o discurso apontando a desigualdade cultural e estrutural da nossa sociedade e Diego conclui:

“A evolução da pessoa é quando ela se questiona, ouve e tenta mudar. Acho que não existe perfeição, mas existe evolução. Inclusive tem casos de cervejarias que fizeram besteira, pediram desculpas e mudaram, estão mudando”.

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