Como a cena cervejeira do Uruguai se desenvolveu, enfrentou desafios e busca novos caminhos para o futuro
Aterrissando no Uruguai: conhecendo a cena local
No segundo episódio da série “Cervejas sem Fronteiras”, o Surra de Lúpulo aterrissou no Uruguai para entender melhor os bastidores do mercado craft do país, graças à participação especial de Pablo Pereiro, profundo conhecedor da cena cervejeira uruguaia. A conversa foi conduzida por Ludmyla Almeida e Henrique Boaventura, com comentários sempre pertinentes da sommelière, ícone e grande amiga do Surra Bia Amorim.
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A primeira pergunta foi direta: como é a cena artesanal no Uruguai, um país cuja produção muitas vezes passa despercebida pelo público brasileiro? 🇺🇾
O crescimento rápido e o impacto da pandemia no Uruguai
Segundo Pablo, o mercado cervejeiro uruguaio viveu um momento de euforia entre 2014 e 2019. Nesse período, o crescimento foi exponencial: de 30% a 40% ao ano, impulsionado por um movimento craft em alta no mundo todo. Cervejarias nasciam, bares se especializavam e a onda parecia interminável. Mas a pandemia chegou — e com ela, a retração.
Esse baque adiantou uma desaceleração que viria mais à frente, e 2020 marcou uma estagnação no setor. Apenas em 2023, com a realização da Copa Uruguaia, foi possível perceber uma leve recuperação. A qualidade das cervejas, que havia caído em 2022, apresentou melhora em 2024 — algumas superando inclusive amostras internacionais recebidas na Copa Internacional.
Menos volume, mais qualidade — mas com custo alto
Apesar do avanço na qualidade, o número de produtores diminuiu. Muitos que iniciaram na época de ouro fecharam as portas, e até a associação de microcervejarias sofreu queda no número de membros. A razão? O aumento drástico nos custos de produção. Energia elétrica, combustível, insumos como malte e lúpulo — tudo ficou mais caro. Isso elevou o preço final da cerveja artesanal, tornando-a menos acessível à população em geral.
Em resposta, algumas cervejarias passaram a diversificar sua produção: gin, whisky e rum começam a surgir como alternativas para manter o negócio funcionando. Mas o cenário ainda é de contração. Como resume Pablo, o mercado uruguaio não se estabilizou — vive um momento de incerteza, à espera de uma recuperação mais sólida.
Uruguai em números — o país por trás da cerveja
Ludmyla trouxe um panorama demográfico que ajuda a entender a dimensão dos desafios. O Uruguai é um país pequeno, com cerca de 3,4 milhões de habitantes — menos da metade da população da cidade do Rio de Janeiro. Quase metade dos uruguaios vive em Montevidéu, o que significa que o mercado consumidor é concentrado e limitado.
A economia do país é baseada principalmente na pecuária e em serviços, que representam 70% do PIB. Com um clima ameno e uma geografia relativamente plana, o Uruguai é conhecido por sua qualidade de vida e investimentos em energia renovável. Mas esse cenário, por mais positivo que pareça, também implica em uma produção industrial limitada — o que afeta diretamente a fabricação de insumos cervejeiros.
Um país de vinhos, com espaço disputado pela cerveja
Bia Amorim, que já visitou o Uruguai, destacou um ponto relevante: a forte tradição vinícola do país, especialmente com a uva Tannat, oferece uma concorrência direta à cerveja artesanal. Em um território pequeno, a luta por espaço nas prateleiras e nos copos é acirrada.
Comparações com o Brasil reforçam essa visão. Bia menciona que só a cidade de São Paulo tem 22 cervejarias, e o Estado inteiro, segundo Henrique, possui cerca de 410 — enquanto o Uruguai, país inteiro, não chega nem perto disso. É uma cena pequena, quase “de bairro” comparada à paulistana.
A paixão cervejeira entre dificuldades logísticas
Henrique, que visita o Uruguai com frequência desde 2008, relatou sua própria percepção do crescimento da cena local. Nas primeiras viagens, havia apenas duas cervejarias, e a qualidade era baixa. Mas, com o tempo, surgiram novos bares e cervejarias. Ele lembra com carinho do Montevideo Brewhouse, onde viu cervejeiros chegando com barris nas costas para vender seus produtos — um modelo mais caseiro e improvisado, mas apaixonado.
A dependência da importação de insumos é outro fator limitante. Enquanto o Brasil conta com maltarias e acesso mais fácil a equipamentos e ingredientes, o Uruguai ainda luta com restrições logísticas. Henrique cita o caso de Daniel, da Cerveja da Casa, que levava insumos do Brasil para amigos cervejeiros uruguaios em suas viagens.
Conclusão: a cena uruguaia e o espelho latino-americano
A trajetória da cerveja artesanal uruguaia é um retrato dos desafios enfrentados na América Latina. Com poucos recursos, mas muita paixão, profissionais como Pablo Pereiro mantêm viva a chama da craft beer no país. Que este episódio inspire mais conexões entre os mercados latinos — porque o futuro da cerveja também depende de união e cooperação regional! 🍻