No programa de hoje do Surra de Lúpulo, vamos falar com a Luiza Tolosa, dona da cervejaria Dádiva e que acabou de reinventar a roda com a criação do evento “Criado por Elas Liderado por ELAS”. Luiza também esteve conosco no episódio 052.

✨ O Surra de Lúpulo conta com o apoio dos nossos queridos Mecenas Empresariais: ✨ Cervejaria UçáViveiro Van de Bergen e Prussia Bier.

 

Reinventando a roda: “Criado por Elas, liderado por Elas”

 

A Cervejaria Dádiva tem 10 anos de existência. Imagino que vocês já tenham passado por todo tipo de altos e baixos neste tempo no mercado cervejeiro. Qual é a situação hoje? Quais os planos? Conta para a gente a sua percepção do mercado das cervejarias independentes atualmente.

 

copo dádivaEntão, esse ano a gente está fazendo 10 anos. Claro, é uma data super importante, acho que a gente começou esses 10 anos com esse projeto bem especial. A gente teve um começo bem acelerado, de um crescimento muito rápido, muito puxado por ciganos. Então, a fábrica cresceu. Muito rapidamente, em termos de capacidade, de equipamentos, muito porque a gente abriu essa possibilidade para o atendimento a outras marcas. E, claro, eu não posso não dizer que a pandemia foi um momento bem difícil, onde a gente reduziu de tamanho, a gente reduziu de tamanho como um todo, de equipe, de vendas, de produção, de tudo. E esse ano é um ano em que a gente está mais estruturado para voltar ao crescimento que a gente vinha tendo antes da pandemia começar. Então, a gente está com uma equipe comercial bastante consistente, temos menos marcas do que a gente já teve, acho que só a gente tem a marca Dádiva, que é a nossa marca, mas como empresa a gente também produz e vende outras marcas, como distribuidora. Então, a gente hoje em dia tem um portfólio muito bem montado, cada marca tem um posicionamento muito claro, então isso acaba fortalecendo bastante a nossa… Nosso portfólio, nosso portfólio comercial. Então, acho que isso a gente acertou, a gente está bem redondo nessa questão. E, claro, tem vários desafios, como o mercado cervejeiro, como a gente vê que nos últimos anos o mercado artesanal deu uma estagnada. A gente não vê mais tantos bares abrindo, bares de 10, 20, 30, 40 taps, a gente já teve tantos bares que já não abriram com uma quantidade tão grande de opções. Então, isso é algo que a gente já não vê mais. Acho que o mercado deu uma estagnada. E o grande desafio para a Dádiva, e eu sei que para outras cervejarias, é romper essa bolha. Então, é levar a cerveja artesanal para outros canais, para outro público. Que não é só o público que a gente já conversa, que já conhece a Dádiva, que já sabe o que é cerveja artesanal, entende o que é uma IPA, o que é uma sour, escolhe beber uma imperial sour com fruta XPTO, sabe? Com todo aquele abecedário de ingredientes e tudo. Então, eu acho que esse é o grande desafio da cerveja artesanal, é romper essa bolha que a gente ainda está. E como a bolha parou de crescer, a gente está meio que brigando entre si. Então, eu acho que… Está todo mundo tentando fazer esse movimento um pouco, de romper essa bolha, de conversar com outros públicos. E aí você tem várias possibilidades. Pode ser abrindo bar próprio, pode ser fortalecendo e-commerce, pode ser, enfim, atendendo outras regiões, outros países, Estados Unidos, Europa, Ásia. Então eu acho que esse é o movimento que a gente tanto vê quanto está fazendo. Claro que escolheu alguns canais para abordar. Então, mas eu acho que é mais ou menos esse o cenário que a gente tá. Eu acho que a gente completa 10 anos vindo de um período recente difícil, mas estamos bastante preparados pra fortalecer as vendas e o nosso volume com uma marca sólida que a gente construiu ao longo desses 10 anos”.

 

Como já falamos, você sempre teve uma postura bastante clara sobre a importância do movimento feminista no meio cervejeiro e, inclusive a Cervejaria Dádiva foi vencedora 2 vezes do Prêmio Lúpulo de Ouro como Cervejaria Mais Inclusiva. Como foi a ideia de criar essa iniciativa, que basicamente reinventa a roda, do Criado por Elas Liderado por ELAS?

 

 

Olha, tudo começou no dia do empreendedorismo feminino de 2023, do ano passado, que é o dia 19 de novembro. E a gente fez um post falando sobre onde, enfim, eu ali, uma foto minha, né, onde a gente indicava cervejarias fundadas por mulheres. Então, cervejarias, né, com mulheres empreendedoras ali. E assim, a minha expectativa era uma expectativa de um post normal, sabe? Normalmente esses posts de dia temático, assim, é meio uma incógnita. Muitas vezes é só ali mais um, as pessoas não dão muita bola e tal. Bom, beleza, fizemos ali a nossa pesquisa, o nosso conteúdo e tal. Mas confesso que a minha expectativa era bem, assim, nada muito grande. E o post deu uma super… bombada, sabe? Um monte de gente comentou e foi marcando outras cervejarias, mais de mil curtidas, centenas de comentários. Foi realmente um post com muito mais engajamento do que a gente costuma ter. E aí, eu já tinha uma vontade já há mais de ano, porque nos últimos anos, bom, já faz bastante tempo que a gente faz cervejas temáticas para o Dia Internacional da Mulher. E já fazia algum tempo que eu estava querendo fazer uma coisa, eu e a Dádiva, que a gente estava querendo fazer uma coisa um pouco mais… envolvendo outras cervejarias, algo não tão individual. Mas ainda não tinha conseguido chegar num modelo, num projeto, numa ideia muito… E aí, depois desse post, eu falei Bom, acho que o projeto do Dia da Mulher do ano que vem tá feito, sabe? E foi meio assim, um grande gatilho Porque eu falei, bom, se é um assunto que as pessoas se identificam E comentaram, e engajaram E a gente já tinha essa vontade, vamos juntar essas duas coisas Então a gente criou essa iniciativa, esse projeto Que se chama Criado por Elas, Liderado por Elas Que é um projeto que tem o objetivo de apoiar, de divulgar, de fomentar e de promover mulheres empreendedoras do meio cervejeiro. Então, assim, cervejarias lideradas e fundadas por mulheres, ou fundadas ou lideradas por mulheres. Então, é um projeto que tem tudo a ver com essa data, do dia 19 de novembro, mas que também está, obviamente, inserido no dia 8 de março. Então, a gente estruturou isso e a ideia qual era? Era convidar as cervejarias criadas ou lideradas por mulheres, para que essas cervejarias fizessem uma cerveja especial para março de 2024. Então a gente criou um layout de rótulo para que cada cervejaria colocasse ali a sua identidade, mas que tivesse um layout semelhante para que o consumidor conseguisse identificar essas cervejas dentro desse mesmo projeto. Então a gente criou esse layout, que é o que está estampado nas latas e nas garrafas das cervejas que estão participando. E aí a gente já queria fazer um evento, mas eu falei assim, bom, vamos primeiro liberar esses convites, porque para as cervejarias conseguirem fazer uma cerveja, a gente sabe que não é do dia para a noite, né? Precisa de um planejamento, precisa se organizar e tal. E aí o evento veio um pouco depois. Acho que a gente ainda pode falar do evento depois, mas enfim, o evento é uma coisa separada, né? Eu acho que isso é legal falar, assim, o projeto é uma coisa muito maior e o evento foi a primeira ação prática desse projeto, né? Mas o projeto tem o objetivo de apoiar, fomentar, e divulgar, promover cervejarias lideradas ou criadas por mulheres”.

 

A iniciativa virou um evento. Quais foram os desafios e soluções pelos quais vocês passaram para colocar esse evento de pé? Conte sobre a sinalização sobre o protocolo de assédio que tinha por lá.

 

Com certeza. Bom, essa é uma lei, tanto federal, os estados também acabaram criando as suas próprias leis, e os municípios também, cada estado, cada cidade acaba tendo o nome, o seu protocolo. E aí existe essa empresa chamada Livre de Assédio, que é uma empresa que se propõe a treinar e a capacitar os estabelecimentos, os eventos, os bares, os restaurantes, a agirem em casos de assédio. Então, como você reage, como você se identifica, como você trata um caso desse, como você acolhe a vítima, como você trata com o agressor. De fato, são momentos muito delicados, então é muito importante que a equipe esteja treinada para conseguir cuidar, dar esse acolhimento e esse cuidado que precisa ter na hora de lidar com uma situação dessa. Então, toda a nossa brigada fez um treinamento com essa empresa, que é fundada pela Ana. Então, toda a equipe fez esse treinamento e a gente deixou vários cartazes em toda a festa, nos banheiros e espalhados pela festa inteira, com um QR Code. Então, se a pessoa estivesse em apuros, ela apontava ali o celular e esse celular… Ele mandava uma mensagem automática para um número nosso, em que a pessoa iria receber e saberia que essa pessoa estava com alguma situação delicada e precisava de ajuda imediatamente. Então, esse foi um cuidado que a gente teve, a gente esperava que a festa fosse um ambiente seguro, como felizmente foi, mas a gente sabia que era importante garantir isso para as pessoas e também que isso servisse de chamar isso para que… Donos de bares e organizadores de eventos que estivessem ali no evento também falassem Olha, posso fazer isso no meu estabelecimento, que é super importante.”

 

O que esse evento mudou (se mudou alguma coisa) na Luiza Tolosa empreendedora cervejeira há tanto tempo?

 

Luiza TolosaMas… Então, sabe que na semana do evento eu fiquei bem reflexiva. Fiquei… Não, pensativa. Fiquei pensando, fiquei refletindo. Um pouco assim, sabe? De onde veio essa força, assim, sabe? Parece aquela piada paulistana do tipo, como tá essa força? Mas enfim, parece… Tipo, né? De onde veio um pouco isso? Porque, sem querer abrir muito o meu coração aqui que eu não tô fazendo terapia aqui, eu tô gravando um podcast. Mas eu acho que esse projeto me reconectou com a Luísa de 10 anos atrás, quando eu abri a dádiva. E é muito interessante, porque… Quando eu resolvi abrir a dádiva, montar a dádiva, foi porque eu estava trabalhando com empreendedorismo e eu percebi que era o caminho que eu queria seguir. E aí, dez anos depois, a gente lança esse projeto do Dia da Mulher, o nosso primeiro projeto que tem a ver com o empreendedorismo feminino. Então, eu achei interessante, achei importante isso, porque eu acho que me reconectou com dez anos atrás. com algo que foi realmente o que me levou até a dádiva, é algo que eu gosto muito e que eu acredito muito. E em um momento em que eu já tive meus altos e baixos, tenho meus altos e baixos, mas em um momento em que eu estava precisando de um alto. E eu acho que esse projeto me trouxe muita força, me trouxe… Essa lembrança de me conectar com pessoas é muito bom, assim. E acho que a pandemia foi o momento, todo mundo ficou meio mais recluso. Eu fiquei bem reclusa, bem no meu cantinho, bem gostoso, bem seguro. E aí, uma hora, eu estava precisando sair desse casulo. E eu acho que esse projeto me deu essa coragem de sair desse lugar seguro e confortável que eu estava. E lembrar que, meu, eu conheço um monte de gente, um monte de gente… acredita e confia na dádiva e quis participar junto com esse projeto e quer colaborar para que ele continue crescendo. Então foi uma troca mútua, sabe? Foi uma força de uma com a outra e lendo as histórias das mulheres, que a gente também fez um trabalho de pedir, né, informações sobre a cervejaria, sobre a história das mulheres empreendedoras e tal. Então eu li, eu li assim, a biografia de quase todas elas, sabe? E foi demais, porque eu falava, gente, essa pessoa que eu só conheço no Instagram, olha essa história, que maravilhosa. Aí eu falava, nossa, essa daqui que já é minha amiga há tanto tempo e eu não sabia disso tudo. Essa aqui que eu nem conheço, que legal. Então isso tudo foi dando uma força mesmo, sabe? Uma coragem, uma vontade, um ânimo, uma disposição, um tudo. Foi muito bom”.

 

Nós falamos recentemente sobre eventos cervejeiros no episódio 198. Mas no final, você junto com as outras mulheres, criaram um evento que o mercado ainda não tinha vivido, reinventando a roda novamente. O ingresso custou R$ 40,00, ganhava o copo e as doses lá dentro custavam 9 reais (150 ml) e 12 reais (250ml). O evento foi economicamente rentável? Quais são os ajustes na rota?

 

Sim, tem ajustes, sim. A gente não… Esse evento, esse primeiro evento, não foi economicamente rentável. Por pouco. Faltou um pouquinho ali pra ficar mais confortável. E aí, eu acho que sim, tem ajustes na rota. Eu acho que, primeiro, a gente fez questão de fazer valores competitivos. Valores que, enfim, não fossem ali tão excludentes, obviamente. Não tô falando de um evento barato, mas… A gente ficou bastante preocupado com isso, muito porque também a gente não sabia muito o que público esperar. Apesar de ter convidado muita gente do meio cervejeiro, muitas mulheres, essas mulheres chamaram os seus grupos, a gente achou que poderia ser um evento onde pessoas de fora do mercado fossem exatamente pela data, exatamente pelo conceito e por toda a divulgação. A gente saiu nas grandes mídias também, então a gente falou que talvez tenha bastante, tenha esse público. Então… Para o público que não está acostumado a pagar os valores de cerveja artesanal, a gente não quis colocar preços muito elevados. E aí, no fim, foi um evento super cervejeiro, tanto é que quando eu vi que a gente teria ali algumas cervejas das cervejarias que participaram, tipo assim, sour de 8% de álcool, eu falei, gente, esse negócio não vai vender, porque eu falei, meu… Será que esse público que não é cervejeiro não vai querer beber uma sour de 8%? Bom, errei. Foi um dos produtos que acabou mais rápido. Então foi um evento muito cervejeiro, né? E aí agora que a gente entende um pouco mais o público, a gente pode ajustar a rota para a próxima. Foi um evento de curta duração, se você parar para pensar. Foi das 13h às 20 horas, né? Das 13 às 20. E aí o que a gente percebeu é que teve gente que chegou depois do almoço e teve gente que foi embora antes do jantar, entre aspas, assim. Então, talvez, se a gente tivesse, se a gente conseguisse repensar um pouco os horários, a gente pudesse fazer com que as pessoas fiquem mais tempo no evento, né? E consumam mais, tanto comida quanto bebida, né? Eu acho que tem um pouco isso. Claro, alguns custos ali a gente também pode rever, algumas questões de estrutura e tal. E o lugar não era um lugar tão grande, né? Então, a gente ficou ali com a capacidade máxima, praticamente. Mas, então… Um pouquinho de cada coisa, sabe? É o preço, talvez aumentar, talvez aumentar a duração, talvez diminuir custo ali. Então, alguns ajustes já fariam com que a festa fosse economicamente rentável dentro do tamanho da festa que a gente se propôs a fazer”.

 

 

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✨Leia também: Surra de Lúpulo #172: Trajetória Cervejeira com Maíra Kimura

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Nana Ottoni

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