Da paixão à polêmica — o papel (ainda pouco explorado) do Untappd no mercado brasileiro
Imagine um aplicativo em que você pode registrar cada gole, cada rótulo e cada experiência com cervejas artesanais. Agora imagine que esse mesmo app — idolatrado por uns e detestado por outros — pode influenciar medalhas, vendas, importações e até a autoestima de cervejeiros. Bem-vindo ao universo do Untappd, a rede social cervejeira que desperta amor e ódio em igual medida.
Neste episódio do Surra de Lúpulo, os apresentadores Ludmyla e Henrique recebem, mais uma vez, Carlos “Véio” Lima para continuar um debate que começou quente: o impacto real do Untappd no mercado, suas falhas, potenciais desperdiçados e o comportamento de usuários e cervejeiros frente a essa ferramenta tão controversa.
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Entre check-ins e tretas: o ponto de partida
O episódio já começa em tom de provocação: Henrique, claramente não fã da plataforma, e Carlos Lima, o defensor ponderado, voltam ao papo com a missão de aprofundar o debate. Carlos relembra os tópicos da primeira parte — o uso intenso da plataforma por usuários, as polêmicas em torno de notas e a visão dos cervejeiros. Mas agora o objetivo é ir além: entender se o Untappd tem ou não relevância real no Brasil e o que poderia ser feito com o volume gigantesco de dados que a plataforma coleta.
Untappd: uma rede global de cerveja artesanal com sotaque americano
Carlos começa trazendo um ponto crucial: o Untappd é um produto americano, e sua relevância ainda é maior nos EUA do que em outros países. Mas os dados mostram uma mudança de cenário. O número de check-ins fora dos Estados Unidos tem crescido, enquanto o uso interno tem diminuído — um reflexo global das mudanças de comportamento em redes sociais.
No Brasil, a estimativa é que existam cerca de 26 a 27 mil usuários, segundo dados de marketing acessados por uma campanha da Brosbeer. Parece pouco para um país com mais de 200 milhões de habitantes, mas revela um público engajado que pode crescer, especialmente considerando que o mercado de cervejas artesanais por aqui ainda está em formação.
Números que impressionam (e que não são tão acessíveis)
Lançado em 2010, o Untappd já acumulava 1 milhão de usuários em 2014. Em 2016, esse número saltou para 3 milhões, e em 2020, chegou a 8 milhões. Apesar de não sabermos quantos são ativos, é um volume respeitável. A cidade com mais check-ins no mundo? Londres, com 1,2 milhão em um ano — seguida por Nova York, Chicago e Estocolmo.
Esses dados, infelizmente, não são tão transparentes quanto poderiam ser. A plataforma poderia — e deveria — liberar mais estatísticas para permitir análises mais amplas. Imagine ter acesso a um painel com gráficos que mostram a evolução dos check-ins por país, cidade ou estilo de cerveja. A NextGlass, empresa dona do Untappd desde 2016, tem recursos técnicos para isso. Eles oferecem serviços como o Untappd for Business e Untappd Insights, mas são pagos e com acesso limitado.
Dados valiosos, pouco aproveitados
Carlos faz uma reflexão importante sobre o uso de dados no marketing cervejeiro: a quantidade de informações coletadas pelo Untappd é monumental. Como parte de um ecossistema maior, a NextGlass administra softwares de gestão para cervejarias, bares e restaurantes. Isso significa que, na teoria, eles têm acesso a informações desde o custo de produção até o preço final e o consumo — um verdadeiro ouro em termos de inteligência de mercado.
Mas na prática? A impressão geral é de subutilização. A comunidade reclama da falta de abertura da plataforma, da dificuldade de acesso à API, da ausência de relatórios ou insights para quem não paga. “É um oceano de dados com potencial para transformar o mercado, mas que fica trancado num cofre”, resume Carlos.
Quando a cervejaria te responde no check-in…
Outra faceta do Untappd é o relacionamento — nem sempre amigável — entre consumidores e cervejarias. É legítimo que uma marca acompanhe suas avaliações? Carlos acredita que sim, desde que com bom senso. Muitas já fazem isso: observam padrões, analisam notas por região, e até investigam se uma baixa nota pode estar relacionada a um problema de serviço no ponto de venda (como linhas de chope mal higienizadas, por exemplo).
Mas existem casos mais delicados: cervejeiros que reagem mal a notas baixas, que questionam diretamente o usuário ou tentam justificar a avaliação. Isso levanta a discussão sobre o uso estratégico dos dados versus a sensibilidade emocional de quem cria o produto.
Paladar internacional, feedback sem filtro
Carlos destaca como a exportação de cervejas brasileiras pode gerar percepções completamente diferentes no Untappd. Paladares estrangeiros, acostumados a estilos mais complexos ou ousados, costumam avaliar de forma mais generosa cervejas que, por aqui, podem parecer “exageradas” ou “difíceis”. O exemplo da Alma Mader, da Cervejaria Stannis — uma Mixed Fermentation Sour — ajuda a ilustrar esse ponto.
Essa disparidade cultural mostra que o Untappd, mesmo com seus defeitos, pode ser uma vitrine poderosa para quem exporta.
Untappd for Business: oportunidade ainda pouco explorada no mercado cervejeiro brasileiro
Na parte prática do papo, Carlos compartilha sua experiência com o Untappd for Business. Apesar do potencial da ferramenta — que permite criar cardápios digitais, usar displays com os últimos check-ins e até montar um site com os dados cadastrados — o impacto ainda é limitado no Brasil. A razão? Poucos bares e usuários utilizam o app de forma ativa.
Ainda assim, ele reconhece o valor da ferramenta para atrair turistas cervejeiros, principalmente estrangeiros que já usam o app como bússola para encontrar bares e cervejas em viagens.
Dados, integração e o futuro da inteligência cervejeira
Carlos aponta que cruzar os dados do Untappd com os sistemas internos de bares e brewpubs — como CRMs e históricos de venda — pode ser a próxima fronteira da inteligência de mercado cervejeira. Mesmo sem integração nativa, já é possível exportar listas, criar relatórios e usar as informações para afinar estratégias de venda e fidelização.
Gamificação, promoções e o poder da geolocalização
E se o Untappd permitisse criar promoções por geolocalização? Se você está perto de um bar parceiro, recebe um cupom de desconto. Se atinge um número X de check-ins, ganha um brinde. Carlos defende que essa funcionalidade, presente em apps como o Foursquare, poderia gamificar o consumo e atrair novos usuários, além de fidelizar os já existentes.
O que faria o “Imperador do Untappd”?
Carlos lista suas sugestões como se fosse coroado soberano da plataforma: simplificar check-ins coletivos, permitir comunicação entre bares e usuários por push e liberar dados mais completos para os negócios.
Uma plataforma que pode mais (muito mais)
A crítica final de Carlos é direta: o Untappd tem uma base de dados poderosa, mas não a usa em seu máximo potencial. E isso limita tanto os usuários quanto os bares e cervejarias que poderiam tirar muito mais proveito da plataforma.
Untappd: de vilão a aliado, depende de como você escolhe usar
No fim das contas, o Untappd é uma ferramenta com falhas — mas também com um potencial gigantesco. Ele pode ser frustrante para cervejeiros que recebem notas baixas sem contexto, e até desanimador para usuários que buscam uma experiência mais personalizada. Mas também é uma rede social que conecta apaixonados por cerveja ao redor do mundo, impulsiona vendas, ajuda na exportação e oferece dados valiosos para quem souber explorá-los.
Carlos “Veio” Lima, com seus mais de 20 mil check-ins, é a prova viva de que o aplicativo pode ser mais que um diário de degustações. Ele pode ser um termômetro do mercado, um mapa de tendências, uma ponte entre marcas e consumidores. E, acima de tudo, pode ser uma ferramenta para construir uma comunidade mais forte, mais informada e mais apaixonada por cerveja artesanal.
Então, antes de odiar o Untappd, talvez valha a pena usá-lo melhor.