Cada cerveja uma história é a nova série de programas históricos do Surra de Lúpulo. Neste #1º episódio falaremos sobre a história da CERVEJARIA GUINNESS e seus mais de 250 anos de história. Lud (IPAcondriaca) divide oficialmente pela primeira vez a bancada com Henrique Boaventura, que nesta série conta ainda com a presença de Gabriel Gurian do Comer História e do podcast Beber História.

Depois de ouvir o episódio, teste os seus conhecimentos neste quiz especial que criamos para vocês, clique aqui !

Ouça o episódio na íntegra:

 

 

Cervejaria Guinness: o começo

pints com guinnessNessa nova fase, com novas pessoas, mas os mesmos propósitos, vamos ter vários formatos diferentes de programas e esse de hoje é um deles. O nome dessa série é “Cada cerveja uma história”. E a história de hoje é sobre a cervejaria Guinness.

A ideia aqui é falar sobre cervejarias e cervejas que andam lado a lado com a história dos países de origem. Vamos falar sobre o que fez elas serem diferentes das outras, que novas técnicas e ingredientes foram utilizados para transformarem elas no que são.

Como muitas histórias institucionais e empresariais que elegem seus ídolos, os seus nomes de destaque, com a Guinness não é diferente. Mas aqui dá pra dar um crédito pra esse personagem porque tivemos a mesma visão ao longo de várias gerações da mesma família. 

A Guinness é uma cerveja irlandesa. Foi fundada em Dublin, a capital da Irlanda, em mil setecentos e cinquenta e nove, pelo Arthur Guinness. E o Arthur, ele tem uma história interessante um pouco antes disso.

Ele nasceu no condado de Kildare, e Dublin é uma cidade marítima, uma cidade no litoral leste da Irlanda, e esse condado fica na zona rural de Dublin. Ele vivia com o pai dele na propriedade de um arcebispo chamado Arthur Price. O arcebispo, que inclusive foi a pessoa que foi homenageada com Arthur Guiness sendo nomeado Arthur.

Esse arcebispo era padrinho dele, que empregava o pai dele como castelão, alguém que cuidava de tudo da casa dele. E entre obrigações domésticas, o pai dele também era responsável pela fabricação doméstica de cerveja. Estamos falando da metade do século XVIII, onde havia fabricação de cerveja tanto em maior escala quanto de forma caseira. 

Arthur teve contato com esse tipo de ofício muito cedo. Então Arthur Price, o padrinho arcebispo, faleceu, mas como ele gostava muito da família, ele deixou uma quantia generosa para os Guinness. No caso, eram cem libras esterlinas. Arthur Guinness não perdeu tempo e montou uma cervejariazinha numa outra cidade do condado chamada Sligo. Foi lá que ficou uns 4 anos produzindo cerveja com seu irmão, usando aquele método do grande guarda-chuva para uma fermentação alta na cerveja, numa tradição britânica pré-lúpulo.

Quatro anos depois, nesse mil setecentos e cinquenta e nove, ele decidiu expandir esse negócio. Expandir justamente pra capital, que era Dublin. E era uma época que pra ele foi favorável, mas pra muita gente não, porque teve uma crise econômica que abalou certos grupos metropolitanos.

Essa crise fez com que vários imóveis fossem oferecidos no mercado a preços muito baixos. E esse foi o caso do St. James Gate, que é até hoje a sede da Guinness em Dublin, e por muito tempo sediou várias cervejarias diferentes. O contrato tinha duração de nove mil anos, e a locação ficava próxima à beira do rio. Então essa infraestrutura foi muito importante para a história da cervejaria Guinness, que começou a criar cervejas para atender ao publico dublinense.

 

Tem uma harpa na história

harpas da guinnessGrandes companhias contam com diversos pilares de sustentação, e suas marcas e símbolos têm papel fundamental, não só na construção dessas empresas, mas também na sua manutenção e consolidação no imaginário dos consumidores. A Harpa da Guinness é um desses ícones.

Com a necessidade de distinguir seu produto dos demais, o neto de Arthur Guinness, pensou em um símbolo que poderia representar a cervejaria. E aí temos a harpa do Brian Boru, ou a harpa do Trinity College, que é um dos três artefatos do século XIV E XV.

Harpas são instrumentos feitos em estilo gaélico da ilha Esmeralda, como eles chamam a Irlanda, que ainda estão preservados no Trinity College, em Dublin, e que é chamada do objeto inanimado mais reverenciado na Irlanda. Já havia um apreço por essa herança que o instrumento representava.

Em mil oitocentos e sessenta e dois, ela começou a estampar os rótulos de garrafa. A primeira cervejaria a patentear sua marca foi a Bass, a segunda foi a Guinness. Entretanto, como a harpa era usada como um símbolo de orgulho nacional, eles precisaram usar a harpa invertida. Ainda assim, a Guinness é uma marca que tem raízes profundas no país, e também um símbolo de unidade, liberdade e coragem, que é típico do povo como ele se entende, relacionando também ao Brian Boru, como foi menciona acima.

E o tucano? Foi uma jogada circunstancial que acabou pegando, mas a logo oficial é a harpa.

 

A Guinness sempre foi como hoje?

As cervejas centenárias, como a Guinness, passaram por inevitáveis adaptações ao longo dos anos. No Reino Unido, as variações de densidade, por exemplo, foram influenciadas por taxações e restrições impostas durante o período entre guerras, que impactaram diretamente a produção de bebidas com ingredientes tributados, como o malte de cevada. Com o tempo, os processos e ingredientes evoluíram, aumentando em quase 10% a eficiência da fermentação. Outra curiosidade é que, historicamente, era comum misturar cervejas mais envelhecidas com lotes jovens, prática adotada para reproduzir sabores de envelhecimento e até imperfeições – uma técnica que, aos poucos, foi sendo abandonada ou mantida em sigilo.

Apesar dessas mudanças, a Guinness Draught, ou dry stout, preservou sua receita tradicional. Ainda hoje, ela leva malte pale, cevada torrada e, mais recentemente, cevada em flocos – uma adição do século 20, mais econômica que o malte de cevada. Isso reflete o equilíbrio entre tradição e inovação que sustenta a marca Guinness. Afinal, grandes companhias se constroem também sobre a criatividade e a adaptação, e a Guinness tem muito a ensinar nesse aspecto.

 

Técnicas criadas para aperfeiçoamento da cerveja:

beer engine da guinnessA Guinness também se destacou na história da cerveja por adotar e aperfeiçoar técnicas inovadoras de produção, que ajudaram a definir o perfil icônico da marca. Um dos avanços mais marcantes veio com a introdução de novas práticas de malteação e torra da cevada. No início do século 19, o inventor Graham Wheeler criou um tambor giratório que permitia secar e torrar o malte de forma uniforme, evitando o risco de incêndio, comum nos métodos com fogo aberto. Esse tambor produzia um malte mais claro e eficiente, com mais amido para alimentar as leveduras. A Guinness foi uma das primeiras cervejarias a adotar essa técnica, que tornou a cevada torrada essencial para o sabor marcante de sua stout.

Outro elemento histórico nas cervejarias britânicas é o uso do isinglass, uma substância obtida da bexiga natatória de peixes, usada para filtrar e clarificar a cerveja nos casks. Entretanto, por uma questão de mercado, a Guinness deixou de usar o isinglass, permitindo que suas cervejas fossem consideradas veganas. Além disso, a Guinness inovou na maneira de servir a cerveja, buscando replicar a experiência cremosa dos “beer engines”, bombas de sucção que extraíam a bebida dos casks. Com o advento do comércio em latas, a Guinness passou a utilizar nitrogênio, que cria bolhas menores e uma textura mais cremosa, reproduzindo o efeito do beer engine. A cevada em flocos, também usada na receita, contribui para a sensação encorpada e aveludada no paladar.

A água de Dublin também faz parte do legado Guinness, conhecida por ser alcalina e rica em minerais, uma característica que tradicionalmente favorece a produção de cervejas escuras e encorpadas. Porém, para ajustar essa alcalinidade, a prática comum era ferver a água antes de usá-la. Até a década de 1960, a Guinness ainda utilizava barris de madeira para transporte e distribuição de suas cervejas, prática comum em países como a Alemanha e a República Tcheca até hoje. Contudo, a manutenção desses barris demandava especialistas, conhecidos como tanoeiros, e cuidados extras durante o transporte. Por isso, a Guinness optou por adotar o barril de alumínio, que trouxe maior praticidade e redução de custos.

 

A Guinness no Brasil

A história da Guinness no Brasil tem raízes mais profundas e curiosas do que muitos imaginam. Em décadas passadas, era comum encontrar chope Guinness nos chamados “pubs irlandeses” espalhados pelo país, tornando a experiência de degustar uma autêntica stout mais acessível aos brasileiros. No entanto, a relação entre o Brasil e a Guinness começou bem antes, no final dos anos 1860, quando a cerveja irlandesa já figurava entre as importações de stouts, um estilo prestigiado ao lado das tradicionais “cervejas brancas” (ales) e “pretas” (porters e stouts) de origem britânica.

Durante esse período, a Guinness se destacou entre as principais marcas britânicas importadas, ao lado de nomes como Bass e Tennent, antes da forte entrada de cervejas lagers de marcas germânicas, austríacas e dinamarquesas no mercado brasileiro. Curiosamente, Pernambuco era o estado onde a Guinness tinha maior visibilidade na imprensa local, com menções e anúncios que ressaltavam sua presença. Essa notoriedade no nordeste ajudou a consolidar a marca como uma das opções importadas mais conhecidas no Brasil.

Além das menções nos jornais, notícias diretas da própria Guinness também chegavam ao Brasil, mantendo o público atualizado sobre a marca e seus lançamentos. Essa longa história e as mudanças no cenário de consumo mostram como a Guinness teve uma presença marcante e um lugar especial na cultura cervejeira brasileira.

 

Bibliografia:

  • A historia das cerveja britânicas por Martyn Cornell
  • Todos os livros do Ron Pattinson sobre Reino unido
  • Tony Corcoran. The Goodness of Guinness: A Loving History of the Brewery, Its People, and the City of Dublin (2005)
  • Peter Mathias. The Brewing Industry in England, 1700-1830 (1959)
  • Terence Gourvish; Richard Wilson (ed.). The British Brewing Industry 1830–1980 (1994).
  • Terence Gourvish; Richard Wilson (ed.). The Dynamics of the Modern Brewing Industry (1998)

 

 

🔞 Beba local. Beba com moderação. 

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Nana Ottoni

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