O I Encontro do Mundo das Cervejas Selvagens Brasileira surgiu com um intuito um tanto diferente dos Congressos Cervejeiros usuais onde as discussões giram simplesmente em torno de como se produz cerveja. E nada de errado nisso, afinal, não discutimos muito o que é uma pils ou IPA. Estes conceitos já estão definidos e já foram definidos por colegas cervejeiros que deram origem ao estilo e por aí vai.
O problema (ou o mais legal deste nicho) é que quando falamos de cervejas selvagens, ou de uma forma mais generalizada, de cervejas ácidas complexas, temos um limbo de discussões. Não há definições consensuais e concepções parametrizadas, pois pela lógica de já ter um produto como exemplo de estilo, não se aplica. Neste canto do universo cervejeiro, cada produção podemos ter uma cerveja totalmente diferente, influenciada por N fatores.
Por isso que a discussão anterior, contida no episódio 2 desta temporada versa sobre uma grande pergunta: “o que é cerveja selvagem?”. E lá fica muito claro que não pelo simples fato de ter bretta, por exemplo, que pode se denominar a cerveja de selvagem. E ao mesmo tempo, fica igualmente claro que tanto ela, como outros organismos fermentativos que irão compor, não podem vir de laboratório. Tem de vir do meio ambiente, sem seleção e com a menor interferência possível no processo, como por exemplo, não ter controle de temperatura ativa.
Sob este ponto de vista, a cerveja vai estar ligada a características geográficas locais de onde está a fábrica. A temperatura local, o meio ambiente local, é determinante para que, o produto, a cerveja, apareça e ganhe suas características. Ponto.
E agora? Sabendo que a cerveja é influenciada pelo meio ambiente ao seu redor, não seria justo afirmar que cerveja selvagem tem terroir?
A pergunta, porém não é tão fácil de responder. Terroir é uma expressão francesa que nasceu de um movimento identitário nacionalista francês onde o vinho fez parte dos argumentos que consolidaram a ideia de nação francesa, do ser francês. Sendo assim, essa expressão está ligada ao vinho, e não a cerveja. Terroir se adapta ao mundo da cerveja selvagem?]
Neste terceiro episódio, eu, vosso escriba, acompanhado de Cilene Saorin e Bia Amorim, abrimos essa troca de ideias sem ter a intenção de chegar a um consenso. Nosso objetivo, cumprido com estrelinhas, foi de abrir este debate que esperamos fomentá-lo entre os consumidores de cerveja e os consumidores de vinhos e outros produtos que tem terroir em suas veias, queremos ver se vocês se perguntem também: cerveja tem terroir?
Saiba mais sobre o I Encontro do Mundo das Cervejas Selvagens Brasileiras
Escute o nosso episódio com a Cilene Saorin, é uma aula sobre cervejas, arte, terroir e cultura.