Achou que não iríamos conseguir associar o Papai Noel e a cerveja? Achou errado porque hoje a gente vai ter um papo solto cheio de uva passa, cerveja e piada de pavê. Contamos com a participação especial de alguns dos nossos mecenas que mandaram seus depoimentos em áudio e também por escrito. Além de um áudio muito legal da Berê Schiavegato, bióloga, doutora em botânica, curadora de museu, professora e produtora de conteúdo sobre mudança de país e vida na Itália. Ouça na íntegra:

 

 

✨ Deixamos o nosso agradecimento aos Mecenas Empresariais: Cerveja da CasaIris PayCervejaria UçáViveiro Van de Bergen, The Beer Agency, Prussia Bier e Passaporte Cervejeiro.

 

Papai Noel e a cerveja

 

Papai Noel segurando seu saco de presentes sobre o ombro, olha para a camera e dá uma piscadela

Antes de mais nada, vamos ouvir o que Berê Schiavegato tem a dizer sobre as origens do Natal?

 

“O Natal faz referência à festividade celta e germânica do Yule, que é o solstício de inverno, que é a noite mais longa do ano, o dia mais curto do ano. Mas, ao mesmo tempo, também traz a esperança da primavera que vai chegar, que a partir de agora os dias começam a ser mais longos. E, com isso, tem todos os mitos de renascimento e das crianças da promessa. E esse mito foi emprestado pelo cristianismo com a colocação do dia do nascimento de Jesus coincidindo com Yule, sendo então Jesus a estrela guia, a criança da promessa que traz esperança para toda a humanidade. Já a lenda do Papai Noel faz referência a três possíveis mitos de locais diferentes. O primeiro mito seria o mito germânico-nórdico de Odin ou Votan, onde esse deus passaria uma vez por ano, sempre nessa época do inverno, com a sua carruagem nos céus, carregando as almas daqueles guerreiros que devem ir para o Valhalla. Estão ajudados pelas valquírias e carregando. E isso faria uma referência à carruagem do Papai Noel puxada por Renas. Um outro mito que faz referência seria ao deus velho celta, que seria substituído na primavera pelo deus velho. Barbudo, que fica pelas florestas. Ele morreria no inverno e renasceria um deus novo na primavera, que envelheceria no próximo inverno e assim sucessivamente, fazendo referência aos ciclos da natureza de maneira geral. E a última referência é uma referência cristã e é a referência mais falada. popularmente, que seria São Nicolau, que é padroeiro da Rússia. É um santo lá da Lapônia e ele seria um santo que teria ajudado muitos pobres, principalmente as crianças, e levaria presentes para essas crianças. E é comemorado no 6 de dezembro, que também é uma data próxima relativamente ao Yule e ao Natal.” 

 

Ludmilla e Leandro debatem sobre o processo de colonização brasileira que celebra o Solstício de Inverno em plena primavera, ao lembrar de uma fala da Bia Amorim no Surra de Lúpulo.

 

Foto de evento midsommar na suécia. Sobre um vale verde, pessoas dançam de mãos dadas ao redor de uma figura feita de gramaLeandro: Ou seja, a gente está comemorando uma festa pagã que foi feito um sincretismo com ela, para ela ser absorvida pelo cristianismo. Só que a gente comemora no polo oposto. Enquanto essa festa foi criada para celebrar a esperança da primavera, que nos ajudaria a passar pelo inverno, a gente está fazendo, na verdade, na prática, o Midsommar, que é o solstício de verão. Dia 21 de dezembro ou 22 de dezembro, o solstício de verão é o Midsommar. Que tem aquele filme maravilhoso, que é… Sim. Pelo contrário, aí é o dia mais longo do ano. Diretamente oposto. Só que olha como a cultura europeia afeta a vida do mundo. Fica aí a dica. Aqui tem a informação.

 

Lud: Eu anotei algumas coisas sobre o que a Beren falou, que eu acho que é legal. É que existem pontos de interseção nos mitos que ela trouxe pra falar conosco, né? Mas são todos eles relacionados à esperança, a essa criança prometida, né? Essa criança que vai resolver. E aí ela foi desdobrada em outras situações, né? Até o cristianismo, né? Com o nascimento de Cristo, etc. Mas a gente tem que entender que a nossa cultura, e o Natal é um exemplo disso, enfim, talvez daqui a 100 anos eu não vou estar aqui, graças a Deus. E eu espero que o mundo exista ainda, mais uma próxima geração da família Almeida, da família Bulkool, da família Bess, que é do Léo, vá estar aqui e de repente eles vão estar achando que Halloween é deles. Ninguém mais vai falar de Curupira, o que eu quero dizer Nessa brincadeira toda, é que a gente foi sendo envolvido nessa história, como o Leandro acabou de falar, a gente tá aqui. O mito, a história começa a falar da noite mais longa E do dia mais curto, quando a gente tá vivendo o contrário. Exatamente o oposto. Aí a gente pega, bota uma pessoa vestida de Papai Noel com a roupa vermelha. Tem uma manga fofinha branca que é pra frio, entendeu? É tipo aquilo ali, seria, sei lá, pele de coelho branco, entendeu? Um frio tremendo. Você imagina a pessoa em uma praia com essa roupa.

 

Leandro: Outras culturas pagãs também têm o mesmo simbolismo [das guirlandas]. Então, por exemplo, os nórdicos tinham o simbolismo da ouroboros, que é a cobra comendo o próprio rabo. E essa cobra ou dragão, né? E dependendo da região, é cobra ou dragão. Aí isso tem o mesmo significado da guirlanda, do círculo da vida. E olhando para o inverno, os solstícios, agora não vou lembrar de cabeça os detalhes, mas os solstícios representam os momentos da vida. Então você tem a primavera, que é o nascimento, é o tempo da criança, é o tempo do fluir, do nascer, tal, parará. Depois da primavera, nós 

rocambole em formato de tronco chamado yule logtemos o verão. Aí o verão é o tempo do crescimento, é a fase da juventude. Aí vai pro outono, que é a maturidade, e o inverno, que é a morte. E isso, na cultura pagã, se eu não me engano, Berê, me corrija se eu estiver errado, pelo amor de Deus. Mas na cultura pagã, é o ciclo da grande mãe, da mãe deusa, eu não lembro qual era o nome dela, ou então é mãe deusa, porque hoje eu tô assim, qual é o nome do clube da esquina, qual é o nome da estrela guia, que era isso, ela… passava o ciclo inteiro em um 

ano e um dia, ela vivia o seu ciclo de vida inteiro. Então, ela nascia, crescia, amadurecia, e aí morria, e aí renascia e tal. Então, a gente está sempre conectado com essas paradas.

 

Lud: Então tem todo esse ciclo da vida, com o ciclo das estações. E aí se a gente for continuar nos símbolos, né? Depois de você já ter falado dos que você falou, eu falei da guirlanda. Tem o toco do Yule. Que aí, cara, eu vou te falar, na hora a gente pesquisando e o Sérgio, que também ajudou a gente nessa pesquisa, falou do toco do Yule. Eu falei, caralho, eu já lembro. De ir em confeitarias aqui no Rio de Janeiro, perto do Natal, gente, claro. Ou que você comprava um bolo. Não sei se é um bolo não, tá? Mas era um doce com uma cobertura de chocolate imitando uma grande árvore tombada.

 

O doce que a qual Lud se refere é o Yule Log (tronco de Natal) e é uma sobremesa famosa do Sul Europeu que representa os troncos queimados nas fogueiras no festival de Yule. Acreditam que queimar troncos em Yule traz prosperidade e representa bem o clico de começo, meio e fim proposto pelo Solstício de Inverno.

 

Mas e o Papai Noel?

 

Leandro explica que todos têm uma percepção de que o Papai Noel foi criado pela Coca-Cola.

 

papai noel da coca cola bebendo uma coquinha bem geladaSó que uma parte interessante é entender que alguns desses signos não foram criados pela Coca-Cola. É entendido que sim, quem vincula ele a essa imagem do presente e essa imagem do material, né? Quem materializa o carinho, o amor do Papai Noel, quem faz ele entregar presentes e em larga escala, sim, tem muito a ver com a massificação da comunicação da Coca-Cola. Mas isso vem de antes, porque só em 1931 é que ele começou a ganhar esta cara que a gente tem hoje. Antes, cara, ele era um homem alto e magro. Ou então, alguém muito mais parecido com um duende assustador, que se bobear, parecia mais com Grinch do que com Papai Noel. Isso vai se mantendo desse jeito até 1862, quando o cartunista Thomas Nast desenhou Papai Noel. E ali, cara, ele começou a trazer um pouquinho mais de outras coisas. Como, por exemplo, ele troca a roupa que o pai não usava, era um casaco de pele, cor de pele.  aí, o artista Fred Misen pintou o Papai Noel pra uma loja de departamento, bebendo uma garrafa de Coca-Cola. E esse anúncio foi usado, cara, em tudo quanto é lugar, a começar pelo Missouri. Na Famous Barco, uma loja de departamentos lá. E essa pintura foi usada em diversos anúncios e publicadas em revistas desde dezembro de 1930. Aí esse cara já estava dando um pouquinho mais dessa cara. Foi quando a Coca falou, opa, temos alguma coisa aqui. Isso está propagando, isso está funcionando, está conectando com o povo, tem o vermelho que eu gosto. E eles chamam um artista chamado Michigan Haddon Sandblum pra desenvolver essa imagem que é do Noel como Noel e não alguém vestido como Papai Noel. E aí ele volta a um poema de 1822, que é um poema chamado Uma Visita de São Nicolau. que também tem um nome como Era Véspera de Natal. E assim, ele descreve, nesse poema, ele descreve o Noel como caloroso, amigável, rechonchudo e humano. Tá aí. Nasce a figura gorda, barbuda, com olhos brilhando, olhos pequenos, mas brilhando, né? Aquele olhar de alegria.”

 

E a cerveja?

 

Lud e Leandro seguem debatendo sobre a origem da cerveja na celebração Natalina e comparam tipos de cerveja que caem melhor no calor brasileiro que no inverno europeu. Foi definido pelo BJCP que os estilos de cerveja Natalinos devem ter coloração âmbar médio e castanho escuro. Apresentar aroma semelhante ao Gingerbread (biscoito de gengibre) e sabor rico em maltados doces. Seu teor alcóolico deve ser alto, justamente para aquecer nas noites mais frias.

 

Como exemplos de cerveja de Natal, o BJC recomenda: Delirium Noel, De Ranke Père Noel e St. Bernardus Chistmas Ale.

 

Gostaram do programa?

Desejamos a todos os ouvintes do Surra de Lúpulo, boas festas e um feliz ano novo!

Até a próxima!

 

✨Leia também: Surra de Lúpulo #189: Cerveja na história com João Daniel

✨O que bebemos durante o programa? Lud bebe Chistmas Ale, da cervejaria Fil; Leandro bebe Viena Lager da Frohrenfeld.

 

Nana Ottoni

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