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Fechei e agora? com a Cervejaria Mito

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cervejaria mito fecha suas portas

No programa de hoje, vamos abordar um assunto que é um tanto quanto tabu no mercado cervejeiro: a hora de fechar as portas e dizer adeus. Para conversar sobre esse processo tão triste para os cervejeiros, convidamos Bruno Mesquita, da incrível Cervejaria Mito – que infelizmente está fechando suas portas.

 

Como nasceu a cervejaria Mito?

 

Bruno em 06’48’’: Acho que a gente vai ter que voltar no tempo… Porque eu comecei com a cervejaria Mito, na verdade, como uma ideia de negócio de quando eu estava na faculdade. Fiz engenharia de produção no bloco ao lado de engenharia química. E estou falando de quase uma década atrás! Não tinha nem livro em português de de produção de cerveja, e eu tinha que me juntar com esses colegas químicos pra pegar a apostila de fermentação deles, da faculdade, para desenvolver a ideia. O conceito da cervejaria é muito antigo, só que como eu era ligeiro de produção, a gente queria fazer uma cerveja com Zeus, Poseidon, então era uma pegada de mitologia. Porque nessa época, o Bolsonaro não era ninguém ainda. Ele era absolutamente irrelevante, então quando a gente decidiu o nome de Mito nesse projeto há 10 anos atrás, o Bolsonaro era só um palhaço que ia na Luciana Gimenez falar besteira, entendeu? O papo é que o foco era a mitologia, e não tinha nada a ver com o Bolsonaro. Nunca teve, só mais tarde. Aí a gente, tentando botar esse negócio para rodar, construindo um produto mínimo viável fazendo cervejas caseiras para ver aceitação da galera, testar receita e já começar a botar um negócio para rodar a gente percebeu que não teria nenhum diferencial de verdade competir com essa cervejarias que tinha na época com a gente então a gente resolve abortar o projeto só que nisso a gente já tinha a página do Instagram e a página da Cervejaria Cervejaria isso é relevante na história porque na campanha de 2018 Bolsonaro, ele lançou uma Cerveja Mito e fez um bem danado pra campanha dele. E aí o pessoal começou a encontrar nossa página no Facebook e no Instagram, pedindo a cerveja dele. E aí eu fiz um post que achei que não ia dar em nada, porque o projeto estava abortado, mas ainda tinham alguns seguidores. E aí postei falando que iriamos fazer a cerveja golden shower para harmonizar com as merdas do sistema político. Era uma piada, só que a parada viralizou muito, e aí a gente percebeu que tinha muita gente identificada querendo vender a Mito contra o Bolsonaro, a princípio. A ideia era essa, né, uma cerveja contra o Bolsonaro, esse seria o nosso diferencial. E aí lançamos a Golden Shower e a parada deu muito certo e começou a viralizar. Mas a gente percebeu que na verdade não era uma cerveja contra o Bolsonaro, na verdade, era uma cerveja que defende os valores – que por acaso ele é contra todos – então assim, é uma cerveja que é contra o racismo, é uma cerveja que é contra homofobia, uma cerveja que  vai discutir a participação das mulheres no mercado, e o machismo entendeu?  A gente queria levantar outros temas, até que a coisa foi se desenvolvendo para esse caminho.

 

Quais foram as maiores dificuldades de ter uma cervejaria cigana?

 

Bruno em 17’27’’: Cerveja começou como um hobby e teve todo esse BOOM que eu acho que foi muita especulação. Muita gente entrou ainda no mercado bem amador, aqueceu sim muito o mercado, mas era muita gente não preparada. Por isso, houveram muitas decepções ao longo do caminho e é realmente muito difícil. Muito mais difícil do que eu achei que fosse, de verdade, eu sempre fui empreendedor, desde moleque, só que ter uma empresa e a coisa crescer é realmente muito difícil. Se eu pudesse voltar no tempo, falaria pro Bruno mais novo, “olha a inadimplência”. A gente teve um momento na pandemia que os números do consumo de cerveja artesanal já vinham descendo, e só as cervejas artesanais mainstream conseguiram lucrar. Outra coisa é o fluxo de caixa, que é uma coisa que pega pra caramba.O que eu sofri muito também, que eu acho que não é uma exclusividade do mercado cervejeiro, mas é uma coisa que eu nunca vi nem falar, pelo menos em debates cervejeiros, que é o treinamento dos profissionais. Você conseguir internalizar a cultura da sua empresa na pessoa, sabe? Tive uma grande dificuldade de conseguir montar uma equipe. Claro que passei por pessoas incríveis, mas nunca a gente conseguiu manter uma das pessoas incríveis o tempo todo. Eu já passei por todas as etapas dentro de uma cervejaria e assim, é uma reação em cadeia. 

 

Bruno diz ainda que seguiu com diversas tentativas de chegar ao público final de forma mais direta, para economizar nos investimentos, além de ter mudado constantemente estratégias de venda – coisa comum no mercado cervejeiro artesanal.

 

Por que fechar as portas?  

 

Bruno em 22’:27’’ : É uma longa história. Quando a gente fala de uma empresa pequena a gente fala de se reinventar várias vezes. E quando eu comecei, há quatro anos, eu vinha de uma fábrica, em Teresópolis, uma fábrica própria que tava distribuindo para o Rio de Janeiro. Eu era o responsável pela distribuição da capital, então eu já vinha com uma bagagem de dentro da fábrica, com contatos, por toda essa participação. Então começou daquele jeito, meio que incubado dentro daquela fábrica. Só que o mercado muda, é muito dinâmico então assim, a própria fábrica que eu fabricava  foi vendida – e aí nisso você tem que se reinventar. A gente começou no modelo de distribuição, principalmente para bares, e como eu falei, tive bastante dificuldade no começo porque os bares não queriam se posicionar. Tinham medo, às vezes, e não era nem questão de não concordar com a nossa temática, tanto que vários adoravam, inclusive os consumidores.  E nisso a gente percebeu que talvez seria melhor a gente se aproximar mais do consumidor final porque a gente corta um elo da cadeia, e a nossa comunicação fica mais direta. Mas a gente tinha que se conter muito na comunicação. E aí a gente pensa na estrutura e em participar de eventos de rua, e aí pensamos em comprar barril para mandar pros bares. Os bares pagam com 20 dias de prazo. Então a gente vai ter que fazer evento, então tem que pagar piso de evento, tem que ter equipe, tem que ter mais material promocional… Depois de muito tempo, a gente fez uma parceria com uma fábrica que aí eu entrei na parte comercial, para ajudar. Então a gente realmente se reinventa o tempo todo. Na pandemia, no início, a gente estava arrasando no delivery. Fizemos até entrevista com o SBT, falando das vendas que cresceram na internet…  […] A gente sobreviveu, no meio de tantas crises e tantas situações; e eu acho que no momento, no mercado como um todo, a gente não vê muito a gente. A gente fechou o nosso bar, tem uma semana que fechou, e tem coisas que fogem do nosso controle porque tem muitas pessoas envolvidas. […] Chega uma hora que cansa se reinventar porque chega um momento em que você tem que se perguntar, se eu precisar me reinventar de novo, vou conseguir dar conta do rojão?

 

Bruno complementa que quis encerrar as atividades da melhor forma possível, cumprindo com os valores da marca e honrando todo o ciclo de sua história cervejeira enquanto cervejaria Mito. 

Quais são as ações que vocês estão desenvolvendo para esse encerramento?

 

Bruno em 33’21’’: Eu não quero que a cervejaria Mito suma do radar, por isso queremos conseguir fazer tudo com calma e, por isso, tomamos a decisão de fechar enquanto é tempo. Como a gente nasceu com todos esses valores, eu acho que o legado que a cervejaria Mito deixa é o principal produto que a gente construiu nesse tempo. A herança que a cervejaria Mito vai deixar, é das pessoas conversarem sobre esses temas nos bares, além de mostrar pra outras cervejarias que podem lançar rótulos se posicionando. Entendo que precisamos terminar tudo de forma perfeita, sem vacilo nenhum, porque qualquer vacilo nosso a galera vai na nossa conta descer o cacete. A galera pode falar mal por não ter o mesmo posicionamento que a gente, mas não vai poder falar mal em termos profissionais, porque fizemos ótimas cervejas. [..] Queremos que fique na memória o que a gente construiu e lutou para que o mercado mudasse e tivesse mais sensibilidade. É muito importante fecharmos com chave de ouro, e estamos encerrando com diversas cervejas colaborativas. A gente vai começar essas produções em Fevereiro, e eu convido a galera a entrar na nossa página pra conferir.

 

Como uma cervejaria, você tem registro no MAPA? O que acontece agora?

 

Bruno em 40:20: Eu tenho registro no MAPA sim. Se o cervejeiro cigano está regularizado, ele tem registro no MAPA, mas quem tira o registro do MAPA é a fábrica onde você produz. Você tem registro do produto, você não tem fábrica, mas a fábrica que você usa gera o registro para cada produto. 

 

Para complementar a resposta do Bruno, chamamos nossa queria amiga Aline Bernd (do Ep. 133 – Anuário do MAPA). :

 

Quando uma cervejaria encerra suas atividades, a gente precisa lembrar o que que é uma cervejaria segundo o MAPA, de acordo com as definições do ministério. É o estabelecimento registrado que tem instalações, infraestrutura e capacidade de produzir cerveja. Para qualquer fábrica produzir qualquer bebida, ela poder se registrar no MAPA, ela tem que cumprir uma série de requisitos. Entre os requisitos constam: ter a estrutura adequada, equipamentos, responsável técnico, conhecimento, procedimentos, boas práticas de fabricação,…, então perante o MAPA só são estabelecimentos aqueles que tem fábrica. A cervejaria cigana não é um estabelecimento passível de registro de um MAPA. Os estabelecimentos registrados, quando eles encerram as suas atividades, precisam dar baixa desse registro da mesma forma que eles fazem a baixa do CNPJ na Receita Federal, da mesma forma que o encerramento de qualquer atividade tem que ser devidamente comunicado aos órgãos pertinentes do alvará. Também tem que ser baixado o CNPJ, tem que ser baixado o registro junto ao MAPA, tem que ser cancelado quando esse estabelecimento é registrado, quando ele não é registrado que é o caso da Cervejaria cigana, ele não vai ter nada para fazer com relação ao MAPA. No caso dos estabelecimentos com fábrica, ao encerrar as atividades, devem cancelar o seu registro de estabelecimento, todos os produtos são cancelados automaticamente, então ele não precisa fazer o cancelamento dos produtos um por um. Mas quando uma cervejaria cigana encerra suas atividades, seria importante que a fábrica anfitriã, que é a fábrica que produz para aquele cigano, dê a baixa dos registros. Isso, na verdade, vale para qualquer produto que não vai ser mais produzido. Porque o que que acontece; vocês lembram daquela declaração anual de produção e estoque cujo prazo para entrega é sempre no dia 31 de janeiro, de cada ano? Com relação à produção do ano anterior, essa declaração tem que ser feita para cada produto que a empresa tem registrado. Cada produto com registro ativo. Para que a fábrica não precise ficar declarando todo ano que a produção daquele produto foi zero, durante o ano que passou, o ideal é que esse produto seja cancelado. Que o registro dele seja cancelado independentemente de ser produto próprio ou produto fabricado para terceiros.

 

 

Deixamos aqui nosso abraço à todos os profissionais da Cervejaria Mito e reforçamos o convite do Bruno para que todos vocês entrem nas redes da cervejaria e confiram suas ações de encerramento.

Até a próxima!

 

👉 Ouça também: Surra de Lúpulo Ep.138 – Legislação cervejeira com Elisabeth Bronzeri

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🍺 O que bebemos durante o programa? Bruno bebe Topa tudo por dinheiro, da Cervejaria Mito. Lud bebe Spit Fire, da Salvador. Leandro bebe dry stout, da rUerA.

Rótulo da Topa tudo por dinheiro, da Mito
Dry Stout da rUeRa

👑 SURRA DE LÚPULO é apoiado por MECENAS EMPRESARIAIS, VIVEIRO VAN DE BERGENCERVEJA DA CASAMONT.INK e CERVEJARIA UÇÁ

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