O santo
Em 17 de março, como você que está lendo este texto provavelmente sabe, comemora-se o famigerado Dia de São Patrício, ou Saint Patrick’s Day 🍀
É data suposta do falecimento daquele que é padroeiro da Irlanda (c. 385-461 d.C.), considerado pioneiro na cristianização dos seus povos. Assim, a celebração remonta aos séculos IX e X, com decretação oficial pela Igreja Católica em 1631. Além de ser relembrada também pelas igrejas Católica Ortodoxa, Anglicana e Luterana.
Nas últimas décadas, vê-se uma secularização maior da festa, que tem evidenciado menos os laços com suas raízes e motivos católicos, uma tendência registrada de forma mais clara a partir de 1996.
Ainda assim, o St. Patrick’s une fé, tradição, folclore e patriotismo. Tanto dos irlandeses, que até decretam feriado nacional por lá desde 1903, quanto de seus descendentes mundo afora, especialmente nos Estados Unidos, onde quase 32 milhões de indivíduos assim se identificam.
Além disso, a festa também conta com muita cerveja verde e um dos produtos mais icônicos da Ilha Esmeralda: Guinness.
A cervejaria
A Guinness em si tem uma histórica expressão identitária irlandesa, e foi tema do primeiro episódio da série Cada cerveja, uma história, aqui no Surra de Lúpulo. Caso tenha perdido, não deixe de dar o play e também de conferir o post no blog!
Fundada em 1759 por Arthur Guinness (1725-1803), depois de assinado um curioso acordo de arrendamento por 9 mil anos da área em Dublin conhecida como St. James’s Gate, a fábrica ainda permanece por lá. É o local de onde despacham para o mundo seu rótulo mais célebre, a Guinness Draught, uma Dry Stout.
Tá, mas qual é a marcante expressão de identidade irlandesa que faz a Guinness ser tão evidenciada no St. Patrick’s Day?
Pois bem, o logo da cervejaria – a harpa, não o tucano, também icônico –, que estampa garrafas desde 1862, é a representação de um instrumento específico que fica sob a guarda do Trinity College, em Dublin. É um dos três únicos artefatos remanescentes feitos na ilha ao modo tradicional local, com datações dos séculos XIV e XV, e que também se relaciona com a memória do quase mítico rei Brian Boru (c. 941-1014 d.C.). Ele foi um monarca unificador e responsável pelo fim das invasões nórdicas na Irlanda.
Assim, através desse referencial histórico, a harpa da Guinness serve como símbolo de unidade e liberdade, e das profundas raízes irlandesas da cervejaria.
A festa
Religiosa, secularizada, patriótica ou cervejeira – a vertente mais comum que temos aqui no Brasil –, a celebração do Dia de São Patrício é um marco. E a Guinness, claro, não fica de fora!
Estimativas de anos anteriores à pandemia de COVID-19 apontam para um crescimento mundial de 819% (!) do consumo de cervejas da marca irlandesa somente no St. Patrick’s Day, em relação à média dos outros dias do ano. São cerca de 13 milhões de pints todo 17 de março.
Para os mais atentos ao calendário católico, um feriado de bebedeira em plena Quaresma e em honra de um santo deve parecer um pouco contraditório. Mas foi a proeminência inegável de São Patrício na Irlanda que levou à permissividade do comer e do beber na data, inicialmente celebrada com banquetes.
A cerveja foi então progressivamente ganhando centralidade conforme os festejos evoluíram ao longo dos séculos. Enquanto o consumo de Guinness, sobretudo de seu rótulo principal, nos últimos cento e poucos anos, também foi gradativamente se consolidando como parte do que se entende por ser e sentir-se irlandês.
Tom Lenihan (1908-1990) cantando The Humors of Whiskey (canção tradicional) em Quilty, Irlanda, 1967.
E hoje a festa é mundial, celebrada em mais de 200 países, e intimamente ligada ao mundo da cerveja, que tanto amamos! 🍻