Systembolaget: única loja Sueca que vende bebidas alcóolicas

 

God morgon, god kväll, god nätt! Para você, que assim como eu não fala sueco, e em homenagem ao Surra de Lúpulo: bom dia, boa tarde, boa noite! Meu nome é Guilherme Tambascia, sommelier de cervejas formado pelo ICB em 2016, e entusiasta das bebidas. 

 

Em 2018, resolvi me aventurar com minha família pelas terras frias e escuras da Suécia. Empolgante, né?! Brincadeiras à parte, obviamente existem muitas outras vantagens a se viver, mas definitivamente, o clima não é uma delas (rindo para não chorar). Mas vocês me perguntam, e a cerveja? Como será a vida cervejeira na terra dos Vikings? Será que todos bebemos cervejas em chifres, dançando em volta de fogueiras? Ou será que por aqui é tão frio que vamos direto para vodka e/ou outros destilados durante as longas noites de inverno?

 

A verdade está muito distante disso tudo, porque quando o assunto é comprar bebidas para levar para casa: não tem no mercado! E aí fica a questão, vocês sabiam que não se vende álcool acima de 3,5% em supermercados comuns na Suécia? Pois bem, se você quer tomar uma cerveja (ou vodka), você terá que no mínimo se planejar, uma vez que as bebidas alcoólicas acima de 3,5% são vendidas somente em uma única loja, controlada pelo governo, que se chama Systembolaget.

 

A loja pode ser encontrada em diversas cidades. Onde vivo, Lund, existem três lojas e uma quarta está sendo planejada. Mas existem lugares em que os suecos precisam dirigir para alguma cidade vizinha só para a compra de bebidas alcoólicas, sendo que lá não vende cerveja gelada. A Systembolaget tem horários bem reduzidos de funcionamento, sendo de Segunda a Sexta, em horário comercial, e aos sábados funciona até meados da tarde. Todo esse processo acontece para evitar o consumo excessivo de álcool, assim como promover o “beba em casa”. E esta história não tem nada a ver com COVID porque vem de muito tempo atrás e, certo ou errado, já faz parte da cultura sueca.

 

Uma curiosidade que não queria deixar de lado, é de como se fala cerveja aqui na Escandinávia. As 3 principais línguas designam a cerveja como öl (sueco) ou øl (norueguês e dinamarquês) e a pronúncia é algo como [ûul], praticamente impronunciável. Quando aconteceu a expansão viking, a palavra acabou sendo traduzida para “Ale”, na Grã Bretanha, originando a primeira tradução em inglês para se referir à bebida fermentada. Isso se deu muito antes da palavra “beer”, que está muito mais próxima do alemão “bier”.

 

Voltando ao consumo da cerveja na Suécia, em supermercados comuns, só é possível encontrar bebidas alcoólicas com teor de 3,5%, encontrando com frequência a lättöl (light beer) com 2,2% e a alcoholfri 0,0%. O teor máximo de 3,5 é válido para qualquer bebida, ou seja, em supermercados, os vinhos tintos, brancos ou espumantes também são encontrados somente neste teor alcoólico. Para tal, toda cerveja vendida em mercados deve ser produzida especialmente para o mercado sueco.

 

Muito se acredita que o governo tomou esse formato na venda de álcool por conta da crise econômica e depressão sueca dos anos 1960. Desta forma, houve uma diminuição na taxa de acidentes e até suicidio. Estes números são verdadeiros, porém a ideia começou muito antes dessa depressão. Em meados do século XIX, os suecos consumiam bastante álcool, e dada a escuridão somado ao, digamos, falta de consumo moderado, muitos suecos se acidentaram e, quando não morriam, ficavam afastados de trabalho, dificultando tanto para o lado do empregador, quanto para a situação familiar.

Com isso, os principais empresários do ramo das mineradoras buscaram dar um basta na baixa da força de trabalho, e convocaram uma reunião com o governo, criando uma espécie de associação, sendo eles os únicos possibilitados a vender bebida alcoólica. Tais associações (Bolaget) começaram a criar forma, e no final do século XIX existiam diversas associações controlando a venda de álcool em cada região da Suécia.

 

Ainda não contente com o resultado, as associações passaram a vender parte das bebidas alcoólicas, deixando bebidas com teor mais alto, como “starköl”, vinhos e destilados somente à venda nas farmácias, condicionado ao registro de cada cidadão, durante a compra – que gera um controle da quantidade de bebida adquirida por cada cidadão.

 

Com a industrialização mais forte, globalização e melhoria das condições de trabalho, a população começou a exigir a baixa do tal “livrinho de controle” e de uma maior flexibilização da compra de bebidas. Assim, na década de 50, o governo comprou e fez uma unificação de todas as associações de controle, dando origem ao nome Systembolaget. Com o nascimento dessa única loja, o governo passou a deter 100% de toda a venda em território sueco de bebidas alcoólicas. 

 

A ideia do governo com a Systembolaget não é ter lucro com a venda de bebidas alcóolicas, vide o resultado de pouquíssimos 3% de “lucro” anual. Mas estimular o consumo consciente de bebidas, sendo ele com moderação, e preferencialmente, em casa. 

 

Leia também: Surra de Lúpulo – Ep.118 – Beber com Moderação com Ornella Guzzo

 

Hoje em dia, com a comercialização online e com a UE em vigor, a Suécia não pode proibir outros “players” europeus de vender, no entanto eles podem proibir a venda física em lojas. Ou seja, podem existir representantes de outras marcas que fazem a intermediação de venda. Desta forma, o consumidor estará adquirindo o produto direto de um vendedor estrangeiro – e isso não é nada prático.

 

Em resumo, se você estiver na Suécia, terá que se programar um pouco com antecedência se quiser beber alguma coisa com álcool superior aos 3,5 ABV em casa. Caso contrário, terá que recorrer aos restaurantes e bares, com preços extremamente altos (média de 80 SEK / 40 BRL por pint), mas isso é papo para outro texto. Uma curiosidade final, é que toda essa situação está tão enraizada na cultura sueca, que é difícil ver movimentos pedindo a mudança desse formato. Imagina no Brasil?

Alguns números do Systembolaget:

 

• Lojas físicas – 448
• Sortimento – 2500 itens
• Loja mais ao norte – Kiruna
• Maior distância entre lojas: 154 km entre Jokkmokk e Arvidsjaur
• Horário de funcionamento: seg-sex: 10.00 – 19.00 (pode variar )/ sab.: 09.00 – 15.00
• 6238 funcionários
• Falcon (local American lager) 350ml – 10.40 SEK ~ 5.50 BRL
• Heineken 350ml – 13.90 SEK ~7.00 BRL
• Pilsner Urquell 330ml – 15.90 SEK ~8.00 BRL
• Spaten 500ml – 21.90 SEK ~11.00 BRL
• Erdinger Weizenbier 500ml – 24.90 SEK ~13.00 BRL
• Sierra Nevada 355ml – 24.90 SEK ~13.00 BRL
• Westmalle dubbel 330ml – 27.90 SEK ~14.00 BRL
• Founders KBS 355ml – 69.90 SEK ~35.00 BRL
• Golden Carolus (Imperial Dark) 750ml – 125 SEK ~ 62.50 BRL
• Absolut Vodka 700ml – 246 SEK ~125.00 BRL
• Cachaca 51 700ml – 279 SEK ~143.00 BRL (sim, 143 reais pela 51, mais cara que a Absolut)