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Análise | Retrato dos Consumidores de Cerveja com Bob Fonseca

ONDE OUVIR:
Análise da Pesquisa Retrato dos Consumidores de Cerveja

No programa de hoje, vamos falar sobre a análise da pesquisa Retrato dos Consumidores de Cerveja 2023. Para isso, estamos aqui com Bob Fonseca, jornalista, idealizador e criador da enquete Melhores do Ano na Cerveja, que movimentou o mercado de cerveja por 10 anos e já está conosco há dois anos na equipe de análise da pesquisa. Ouça na íntegra:


 

✨ Deixamos o nosso agradecimento aos Mecenas Empresariais: Cerveja da CasaIris PayCervejaria UçáViveiro Van de Bergen, The Beer Agency, Prussia Bier e Passaporte Cervejeiro.

 

 

Análise |Pesquisa Retrato dos Consumidores de Cerveja

 

Imagem de capa do retrato de consumidores de cerveja 2023

 

Antes de mais nada, temos o prazer de informar que a pesquisa Retrato dos Consumidores de Cerveja do ano de 2023 só foi realizada graças ao patrocínio do edital Fermenta, Ambev e Academia da Cerveja, do Sindicerv, da Prussia Bier e da Íris Pay. Sem essas empresas, não teria sido possível realizar a pesquisa, e ainda mais com a magnitude e abrangência que a gente conseguiu. 

 

Realize o download do Resultado clicando aqui!

 

Dobramos a meta de respostas!

gráfico mostrando o aumento de resposta da pesquisa no decorrer dos anoas

 

Lud: Vou trazer um ponto aqui para a gente trocar, que essa é a beleza de estar realizando essa pesquisa há quatro anos, ou seja, nós temos dados de quatro anos. E aí, curiosos como somos, em algum momento eu olhei pro Leandro, o Leandro olhou pra mim e eu falei pra ele, cara, a gente foi lá na primeira, alcançou 1.006 pessoas. Aí na segunda a gente dobrou pra 2.023. Na terceira a gente dobrou de novo pra 4.388. Na quarta a gente quase dobrou de novo. Mas na quarta, a gente quase bateu o número da soma da quantidade de respostas das três anteriores. Pra gente que é doido por meta e número, é muito importante olhar pra esses números e pensar caramba, como a pesquisa cresceu nesses últimos quatro anos. E aí a gente foi ter a dúvida, a curiosidade de saber quem tinha respondido os quatro anos, né? A gente até fez uma brincadeira, um sistema de badges. Você tinha sido primeira, segunda, terceira e quarta vez. E aí a gente foi descobrir que apenas 0,35% das pessoas responderam as quatro edições da pesquisa. 1,52% responderam três edições. 6,10% duas edições. 92,03% responderam apenas uma edição. E 50,31% responderam apenas em 2023.

 

Bob Fonseca: Seria legal, por um lado, ter essas pessoas de recorrência maior, porque daí você consegue ter uma noção desse grupo, né? Como ele foi mudando, foi se moldando, foi sendo moldado pelo mercado cervejeiro ao longo dos anos, né? É interessante ter esse grupo de controle sempre. Mas, por outro lado, também o positivo é que você tem um crescimento absurdo da base de dados ali, né? Você tem uma amplitude de informações, uma capilaridade, a penetração do alcance de vocês ali nas cidades pequenas, em outras regiões como o Norte, o Centro-Oeste, que foi um negócio surreal, assim, né? Foi muito legal, não só pela quantidade, mas pela qualidade dos dados também, né? Eu acho que esse ponto positivo que se sobrepõe ao fato de não ter um grupo muito grande, mas também, assim, você tem outras formas de você medir, né, a frequência da pessoa no meio cervejeiro, né? Sempre brinco, falo, você quer saber se uma pessoa é velha no meio cervejeiro, ou é experiente, pergunta se ela tomou a Eisenbahn Weizenbock. Aí você vai saber a idade dela, de certa forma a idade dela, e também o quanto tempo ela acompanha o mercado. Eu acho que é legal você ter essa análise mais aprofundada também, não só quantas pessoas responderam a pesquisa desde o início, mas a quanto tempo a pessoa está no mercado. Quem está lá desde que tudo era mato, vai ter uma visão bem diferente das pessoas que estão aqui agora, que começaram agora nos últimos, sei lá, quatro anos, cinco anos. Eu acho que é um mercado muito diferente, foi uma mudança muito grande. E mesmo sendo um pequeno grupo de recorrentes, ali de quatro, dos últimos quatro anos, que respondem as nossas pesquisas, ele é importante também ser analisado, até no micro-universo, né? Pra saber como é que eles… Se eles mudaram de opinião em algumas questões, como eles mudaram os gostos, né? A cerveja que mais consome, onde consome. Esse grupo é algo a ser estudado com mais interesse.

 

E o nosso público fiel?

 

Leandro: No caso de consumo, de venda de material, se você tem uma base já de cliente fiel, você não pode abandonar essa base. Você não pode virar, ainda mais num cenário onde o beer geek, o consumidor de maior ticket médio, as pessoas que depositam mais dinheiro nesse mercado são pessoas exploradoras. Exploradoras de sabores, exploradoras de marcas, que não são fiéis a uma marca. É tudo poliamor. Cervejaria é poliamor. Eu amo a Everbrew, eu amo a Prússia, eu amo a Narcose, eu amo a Juan Caloto. Eu amo. Tudo bem, vou seguir amando, gente. Você não pode abandonar essa relação de amor que você construiu. Talvez, assim, se a gente fizer uma análise aqui, sim, ele precisava… expandir para novos consumidores, até porque eles tinham posto um caminhão de dinheiro, eles provavelmente já tinham feito a conta que aquela base de clientes deles, que estava ali, não iria pagar aquele caminhão de dinheiro que eles colocaram ali, que precisava aumentar aquela base, então eles precisavam abrir, mas ele também podia ter atacado um pouco mais aqui para não perder essa fidelização, esse relacionamento. A sua colocação traz aquela ideia de que uma coisa não anula a outra, eu não preciso mudar, abrir mão de algo para ter um outro, eu posso falar de forma diferente. para o consumidor mais experimental, mais explorador, vamos chamar assim, o Indiana Jones das cervejas. A gente pode virar pra essas pessoas e falar com essas pessoas que têm essas experiências. E manter um discurso novo pra quem tá chegando agora. Talvez seja isso, mas cuidado que a gente tá falando de um terreno tão grande a se explorar ainda pra frente. E você não perder a característica. […] No começo desse papo a gente falou de darwinismo, né? A gente falou de seleção natural e é um pouco isso. Ou você aprende pelo amor, ou você aprende pela dor, não tem jeito.

 

O mercado de cervejas especiais cresceu ou estagnou?

 

Bob Fonseca: Teve uma palestra no meio do ano, no segundo semestre do ano agora, do Bart Watson, que é o economista-chefe da Brewers Association, uma entidade norte-americana que reúne os produtores de cerveja artesanais de lá. Ele é o guru dos números deles, basicamente, né? Pra quem não conhece, o cara é um pesquisador já de longa data, consegue tirar muitos dados ali das pesquisas que eles fazem com as próprias cervejarias e outras análises de mercado. E ele chegou a falar em algum momento, numa conferência, sobre o mercado americano ter chegado a um nível de maturidade, que não estava mais em maturação, estava maduro. Isso, por um lado, é legal, porque você já tem um conceito, uma fatia de mercado grande, um conceito de cerveja artesanal bem enraizado em uma parte do público consumidor. Por outro lado, o que não é tão bom… é que a partir do momento que para de crescer e continua entrando novos players, novas serrarias na jogada, você vai ter um gelinho menor para os ursos ficarem brigando em cima por espaço, né? Você vai ter mais gente brigando por um espaço fixo. Isso pode gerar problemas. Fatalmente vai gerar a saída do mercado ou perda de vendas ou dos novos ou dos antigos, né? Tem acontecido as duas coisas lá, algumas novas fecharam, as antigas têm tido quedas de venda, trabalhado, se apoiado ali em outras bebidas, né, caso da, sei lá, da Samuel Adams, por exemplo, trabalhando com Sidra. Então, ele colocou essa questão. A questão daqui do Brasil talvez não esteja nesse nível de maturidade, que, aliás, é um termo que eu estava lendo um site chamado Port Drinking, que tem uma matéria da Jhulie Rhodes, que fala exatamente disso, né, que todos os produtos têm esses quatro níveis na vida, né, que é o de criação, de crescimento, de maturidade e declínio. ela acha que nos Estados Unidos o mercado de artesanais está na maturação, por esses motivos que eu já falei, mas algumas empresas, em função dessa maturidade, vão entrar em declínio logo. No caso do Brasil, como eu vejo, a gente está na fase de crescimento. Uma mistura de crescimento com maturidade, porque tem muitas cervejarias entrando, ainda baseadas num boom discutível de mercado, que eu não sei, a gente vê o número de cervejarias crescendo, mas não existem exatamente dados sobre consumo, então a gente tem essa disparidade. entre o que tanto de players novos no mercado entrando e o quanto se consome de fato, que é uma incógnita, né? A gente tem alguns números estimativos ali, mas, assim, entra muita coisa na categoria do que não é macro, né? Eles falam que é uma fatia de mercado, entra desde cervejas que são supostamente premium ali, qualquer outra nomenclatura que você possa imaginar que não seja macro. Então, é difícil você prever. Ao meu ver, assim, você tem um crescimento hoje não justificado em algumas áreas de cervejarias, né? Que vai gerar uma saturação e pode gerar essa maturidade até e que vai levar ao declínio de algumas empresas. Mas eu acho também que tem pontos positivos. Eu vi outro dia uma reportagem sobre o crescimento absurdo que está tendo no mercado de luxo, de alta categoria, no Centro-Oeste. Prédios com engenheiros, com arquitetos renomados aqui do Sudeste sendo levados para lá para fazer prédios absurdamente grandes. Redes de restaurantes e bares do Sudeste abrindo filiais lá. Eu acho que esse mercado é muito promissor ainda para cervejarias, para evitar que a pessoa que tem muito dinheiro lá, esse grupo de pessoas tenha se enriquecido com o agro. e vem pra São Paulo, viaja pra fora do país pra algumas experiências gastronômicas, pode muito bem ter essas experiências por lá mesmo. E eu acho que isso daí é um nicho de negócios muito grande pra cervejarias de lá. E também pra quem for se aventurar pra lá, né? Eu já vi algumas pessoas, tanto empresas quanto cervejeiros, migrando e abrindo lá, né, no Centro-Oeste. Eu acho que me chamou atenção, assim, esse movimento, né? Que também deve estar permeando a cerveja.

 

Aumento da participação feminina:

 

gráfico mostrando aumento da participação feminina e entrada de não binários

 

Lud: A gente recebeu uma confirmação, a gente notou, quando a gente olha para pessoas que dizem que consomem cervejas comuns, e artesanais, ou seja, tudo. A gente percebe ali que o homem ainda é o maior respondente, com 67%, e as mulheres aparecem aqui com 32%, um pouco mais, um pouco menos. Quando a gente olha para o dado de cerveja comum apenas, fala assim, eu bebo só comum, houve um crescimento muito grande em relação à participação feminina. Aí fica uma coisa mais equânime. o homem está com 46% e a mulher está com, sei lá, ou é o contrário, o homem está com 52%, a mulher está com 40 e pouco. É muito interessante a gente olhar, porque a gente já tinha percebido isso, a participação feminina no ano passado, já tinha na parte das comuns, já tinha aparecido em maior número do que as mulheres que responderam quem bebe todas, comuns e artesanais. E aí, para a gente, vem uma bigorna, a bigorna do… Mulher gosta de cerveja? Mulher bebe cerveja. A questão é, como é que o mercado de cervejas artesanais está recebendo essa mulher? O que o mercado de cervejas artesanais está fazendo para atrair essa consumidora? E de acordo com o dado do censo de 2022, que alegria falar que é o censo de 2022 e não mais o de 2010, né, gente? Opa! Eu, só um parênteses aqui, eu recebi meu recenseador com foto, cafezinho e etc. Amei recebê-lo. Então, assim, é muito legal ver isso, porque a população feminina corresponde a mais de 50%. Como é que ainda não estamos olhando para essa população de uma maneira que, cara, o que eu vou fazer de estratégia para alcançar essas pessoas? Assim como a população negra, né? Assim como a população… LGBTQIA+. Mas, enfim, vamos olhar, então, essas duas vertentes e, primeiramente, a feminina, que a gente tem dados robustos aqui, e a população negra que, infelizmente, apesar da gente ter notado um aumento em relação ao ano passado, a gente já conseguiu alcançar mais pessoas negras, a gente ainda precisa melhorar muito porque também, de acordo com o censo, são 56% das pessoas do nosso país. Então, como é importante a gente olhar pra esse público como se fosse um bolo e que as fatias… vão demandar um tratamento diferente para cada situação.

 

Leandro: Talvez a gente já tenha falado muito disso em vários programas, mas eu acho que começa pelo básico. Não precisa nem falar de um jeito diferente, precisa ser acolhedor. Se for um espaço acolhedor, que recebe bem todas as pessoas, você vai ter que ter um pouco de cuidado. indiferente de gênero, indiferente de orientação, de identificação, de qualquer coisa, sabe? Recebe bem as pessoas, recebe para prestar o serviço e servir bem, fazer uma boa somellieria, né? Servir muito bem as pessoas que estão ali. Eu acho que o serviço se propaga, eu acho que a notícia se espalha. E eu não estou falando que quando eu vou num bar, eu não me sinto acolhido, mas é fácil. Eu sou homem, branco, hétero, barbudo. Então, e tá tocando rock, estilo de música que eu amo. Isso é o acolhimento que eu procuro na minha casa. Então, assim, pra mim tá fácil, pra mim o jogo tá fácil, mas não pode se limitar a mim, a pessoa. Até porque os homens brancos, héteros, barbudos e que gostam de rock estão morrendo. Fica aqui o spoiler, tá? Nós estamos ficando velhos e o rock tá ficando cada vez mais no passado. Então, acho que ela tem esse ponto. Eu acho que o grande desafio… do mercado em geral, é perder esse hábito que foi nascido no umbigo, sabe? Pelos próprios donos e produtores que gostavam de rock, que eram homens, não sei o que tal, e criaram e fizeram para si. Tudo bem você fazer para você durante um momento, mas em outro você tem que olhar para fora da janela e falar, olha, o que está acontecendo lá fora? Olha que legal, tem ali um bar de comuns com um público maior do que o que eu tenho aqui no meu, super diverso.

 

Bob Fonseca: Eu tenho uma comparação, eu tive agora, semana passada, num evento de Reis, aqui em São Paulo. É um evento para 200 pessoas, até não foi muito grande, mas o que me chamou a atenção foi, a maior parte do público era feminino, tinha pelo menos uns 60% de mulheres contra 40% de homens, e mais do que isso, né, tinha mais do que 60% de mulheres nos estandes e não eram mulheres só contratadas por modelos pra servir as garrafas, e sim especialistas ali, você perguntava qualquer coisa, elas sabiam responder, sabiam responder os produtos da linha, técnicas muito boas ali, profissionais muito boas, muito gabaritadas que estavam atendendo ali, e a grande maioria era do sexo feminino, então isso me chamou a atenção, falei, cara, acho que eu nunca fui num evento de cerveja que tivesse essas características, e acho que uma coisa puxa a outra, assim, uma brigada. feminina atendendo ali também, você tem uma chance muito menor de você trazer pessoas, né, de esclarecer, de tornar acolhedor o ambiente pra pessoas que não tem tanto contato com a cerveja, né. Eu acho que o número de mulheres que tomam cervejas comuns ali é uma mina de ouro ali, você tem um potencial de explorar esse público enorme, mas o que eu vejo também é um pouco exasperante é que as cervejarias não estão trabalhando dessa forma, né, elas acham que é um pouco de opiniões que eles têm, que eles coletam ali, que, ah, tanto faz, não tem problema, não me importo, né, seja isso, é a regra do mercado, e não é. Infelizmente para a cervejaria e infelizmente para a diversidade do público. Não é assim, não é assim que funciona.

 

Ainda não acabou, semana que vem continuamos esse papo com o Bob Fonseca de análise da Pesquisa Retrato dos Consumidores de Cerveja 2023.

Até a próxima!

 

✨Leia também: Surra de Lúpulo #183: O poder do consumidor periférico com M.M. Izidoro

✨O que bebemos durante o programa? Bob e Lud bebem Heineken Zero, Leandro bebe Catarina Sour.

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