Ludmyla Almeida, a IPAcondríaca e Leandro Bulkool receberam Márcio Beck, colunista da FarofaMagazine, para falar sobre o mercado americano de cervejas. Márcio trouxe pra gente quando houve o início desse mercado, o papel da lei seca nessa história (época da prohibition), características de consumo e como comparar o nosso mercado com o dos norte americanos.
Quando começou o mercado americano de cerveja artesanal?
Márcio explica que não gosta de pensar em um ponto de partida específico para o início do mercado americano de cerveja artesanal, pois isso dá ideia de uma comunidade unida compartilhando conhecimento simultaneamente – e não foi assim que aconteceu.
O que a gente vê são pequenos grupos locais de cervejeiros que acabam desenvolvendo certas técnicas e às vezes esses estilos ganham uma popularidade maior no mercado e acabam sendo adotados por outros grupos cervejeiros, de outras regiões. O fenômeno cervejeiro nos Estados Unidos é datado da época de 70, como a gente conhece hoje. É nesse período que começam a se escrever os manuais modernos de home brewing.
Na década de 40 e 50, o mercado cervejeiro norte americano era dominado pela standard lager e o desenvolvimento e crescimento das cervejas artesanais veio para trazer diversidade de sabores.
Em 1978, houve a legalização do homebrewing, um projeto de lei que permitia que as pessoas pudessem produzir em casa uma certa quantidade por ano, sem sofrer qualquer tipo de cobrança ou tributo, desde que eles não vendessem a cerveja. Com a propagação do homebrewing, o mercado começou a abrir para outras cervejas. Na década de 80, a Boston Beer surgiu com a boston Lager. Mas na década de 90 surgiram cervejarias mais ousadas.
Márcio pontua que o que caracteriza a escola americana cervejeira é a capacidade de pegar o que é feito em outros países, absorver aquela técnica e em cima dela criar algo diferente. É o que eles fizeram com a IPA, que inclusive, mudou a forma do mundo encarar esse tipo de cerveja. A constante inovação é o motor do mercado cervejeiro norte americano.
Qual seria o marco histórico que daria inicio ao mercado cervejeiro norte americano?
É impossível não mencionar a compra da Anchor Brew Co. por Fritz Maytag, em 65.
O Maytag foi o primeiro que procurou preservar um estilo para que ele não desaparecesse, e conseguiu chamar um público cativo que viria a consumir muito esse tipo de cerveja. Outras pessoas vão considerar um grande marco histórico, a sanção da lei de homebrewing em 78, porque aí que abriu a porteira. O homebrewing não era legalizado, mas era amplamente praticado. Os manuais eram passados de mão e mão. Até que algum ponto, antes da legalidade, começaram a escrever manuais proibidos. Acredito que esses dois foram grandes marcos temporais.
Como a lei seca (prohibition) influenciou no mercado de cervejas artesanais?
Ludmyla pergunta se é possível correlacionar a ascensão do mercado de cervejas artesanais, com a sanção do homebrewing e o período da lei seca norte americano.
A lei seca começa ali em 1920 e dura até 1933, mas ela é descendente de um movimento que surgiu desde o início do século XIX que é o movimento da temperança. Esse movimento é uma liga de senhora preocupada com os maridos bêbados, basicamente. Ele começa como uma preocupação com o consumo de destilados; elas faziam passeatas pedindo a proibição das bebidas. Várias medidas de restrição ao consumo de bebida alcoólica foram sendo efetuadas, até que no século XIX, esse movimento da temperança atingiu o congresso nacional – que assinou uma emenda constitucional proibindo a venda de bebidas alcoólicas em todo o país. O que isso proporcionou nos anos seguintes foi uma série de cervejarias clandestinas, bares clandestinos etc.
A prohibition aumentou o consumo de álcool, aumentou a corrupção policial, além dos riscos de quem consumia. Muitos começaram a fazer o moonshine (bebida clássica americana) com metanol no lugar de etanol, levando a morte de seus consumidores clandestinos e mostrando o perigo da falta de regulamentação. Em 1933, Roosevelt revogou a proibição do álcool e as cervejarias voltaram a atuar.
A lei seca teria impulsionado o gosto do norte americano por cerveja, por ser visto como fruto proibido por um período.
Quais são as características mais marcantes do mercado americano?
O mercado americano se fundamentou muito na visita à cervejaria e nas cervejarias que tem seus craft-rooms. Foi aqui que o crowler se popularizou. A cervejaria local é muito popular, principalmente em grupos cervejeiros norte americanos. Se você pergunta pros amigos o que tem de bom na cidade x, você vai ver muitas pessoas te dando o roteiro do que você pode fazer em termos cervejeiros naquela cidade. Além disso, o sistema americano não permite que a empresa detenha a cervejaria, a distribuição e o ponto de venda. Então você tem isso tudo separado… As cervejas não viajam muito de um lado a outro do país. Estando na Califórnia, você não encontra cervejas típicas da Flórida – por exemplo.
Márcio reforça que a maior característica do mercado americano em termos sensoriais é o exagero. Se a cervejaria vai fazer uma cerveja ácida – ela vai fazer muito ácido, se ela fizer uma com base de lúpulo, o sabor será super lúpulada e por aí vai.
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O que bebemos durante o programa? Márcio bebe Imperial Stout da Boulevard, Ludmyla bebe Attack! da Dude Brewing, Leandro bebe Black Ipa da Fumaçonica Brewery.
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