No programa de hoje é dia de dar o pontapé inicial ao terceiro ano do nosso Prêmio Lúpulo de Ouro. Esse ano, vamos seguir a fórmula do ano passado, mas desta vez com uma ajuda poderosa no Norte do país. Estamos aqui com Bárbara Spares e Gil Lebre. Ouça na íntegra!

 

 

 

Sobre o Prêmio Lúpulo de Ouro 2023 🍺

 

O prêmio Lúpulo de Ouro chega em sua terceira edição. Ele nasceu quando a gente estava comemorando o nosso primeiro ano e percebemos que queríamos premiar pessoas e empresas que se destacaram no mercado cervejeiro. Do segundo ano para a frente a gente percebeu que tinha um objetivo a mais, não só premiar, mas alcançar todas as regiões do país nessa divulgação. E esse prêmio quem reconhece são os nossos ouvintes! Nossos ouvintes vão escolher empresas e pessoas que mais estão marcando vocês em diversas categorias. Vamos começar nosso bate papo?

 

Conhecendo os jurados do Prêmio Lúpulo de Ouro 2023

 

Gil em 10’27’’: Eu sou Gil Lebre, me apresento sempre como sommelier de cervejas. Na verdade comecei como a maioria, como entusiasta, há uns 16 anos atrás. Estava num bar e vi alguém bebendo uma cerveja artesanal e pedi pro garçom que eu queria uma igual. Foi um caminho sem volta. Comecei a fazer curso de Homebrew, virei membro da Acerva Carioca, e comecei a comprar tudo o que eu via de cerveja pela frente. Naquela época eu tinha muita necessidade de aprimorar conhecimento. Cheguei a estudar muito no Orkut, blogs… E cheguei até a criar um blog para escrever sobre cervejas. Mas me encontrei mesmo como sommelier, sempre gostei de avaliar a cerveja, anotar em papel… Cheguei a fazer cerveja caseira, mas meu tesão mesmo era ser sommelier. […] Fiz vários cursos na pandemia também. Mas a galera me conheceu mais no curso de sommelier de 2015 e daí as portas abriram, e desde então já trabalhei de tudo envolvendo a cerveja. 

 

Bárbara em 13’40’’: Para quem não me conhece, sou Bárbara Soares, trabalho como consultora de bebidas, sou sommelier de cervejas, vinhos, cachaças, destilados, charutos e chá. Sou Especialista em Gestão de Bares e Restaurantes. Dou aula no instituto CERES também, desde 2018. Julgo vários concursos de bebidas, cervejas e vinhos. E é sempre legal estar compartilhando o conhecimento. 

 

Conheça as categorias do Prêmio Lúpulo de Ouro 2023:

 

  • Cervejaria mais hypada
  • Cervejaria e/ou bar mais inclusivo
  • Melhor cervejaria
  • Melhor cervejeiro
  • Melhor cervejeira
  • Personalidade do meio cervejeiro
  • Melhor participação no SDL
  • Melhor brewpub
  • Melhor Escola Cervejeira
  • Melhor veículo de mídia cervejeira

 

Quais foram os maiores desafios para vocês na hora de mandar os nomes dos indicados em cada categoria do Prêmio Lúpulo de Ouro?

 

Bárbara em 18’41’’: O maior desafio foi fazer esse exercício de pesquisa no que tange o trabalho de cada um. Até comentei com a Lud que algumas regiões, como a região norte, achei bem desafiadora, de procurar mesmo, ver relevâncias, ver as tendências do mercado, os destaques, o que não está tão a mostra, o que está contribuindo no mercado… Valorizar o chão de fábrica, controle de qualidade e também a valorização de profissionais femininas. então foi um desafio mesmo de sair da casinha e pesquisar e buscar alternativas e respostas.

 

Gil em 19’52’’: Os desafios foram os mesmos que a Bárbara salientou. Eu acabei usando o google para pesquisar bastante coisa. Consultei alguns amigos também de algumas regiões para confirmar se certas marcas ainda estão rolando no cenário cervejeiro local. Mas a questão é que eu tive dificuldade de conhecer a cena cervejeira in loco, fora da minha região. Outro desafio também foram os bares, pontos de vendas, que eu indicaria se essa galera ainda tá ativa, funcionando, se ninguém fechou, se tá tudo bem, se prega um discurso bacana; e aí rolou mesmo o google e falar com os amigos. Outro desafio foi sair da minha bolha. Quem é do sudeste enxerga muito pra baixo, né. Então meu papel foi enxergar mais o meio, a parte de cima, né. Foi muito gratificante e fiquei com vontade de visitar vários locais que eu não conheço.

 

Vocês poderiam fazer uma análise da perspectiva de vocês de como está o mercado cervejeiro? 

 

Gil em 22’22’’: Acho  que a palavra para responder a sua pergunta é collab. O momento que o mercado pede hoje é colaboração e parceria em todos os aspectos. Eu estava falando da vila cervejeira que todo mundo busca para fazer o mercado local crescer. Colaboração entre próprios pontos de venda, sem ver seu vizinho como concorrente, Colaboração entre marcas lançando rótulos, com objetivo de atrair o mesmo público que gosta de cerveja artesanal. Pra melhorar, eu acho que é algo que venho reparando que ainda rola é a questão de treinamentos que é uma tecla que a gente sempre precisa bater. É comum em qualquer ponto de venda que vou, peço um chope artesanal e vem aquela famigerada caneca zero grau – e aí peço pra trocar, bate o sommelier… E treinamento é investimento e você tem que ter treinamento nas duas pontas. No próprio bar, e do próprio fornecedor. Como o chope está chegando, como sua cerveja é servida, se é servida corretamente…. Precisamos sempre pensar que vale muito a pena investir em treinamento.

 

Bárbara em 24’55’’: No geral, o mercado cervejeiro evoluiu um pouco no que tange a entender o que o público quer. Não é à toa que 2022 foi o ano das lager. Tem mais e mais cervejarias investimento em estilos mais leves e mais acessíveis. Outra coisa sobre o mercado, no que tange a igualdade; precisamos melhorar ainda mais. Destaco o perfil do Marcos Alberto, de cerveja em libras, que abre um acesso que antes não tinha. Gostaria também de parabenizar o trabalho da academia da cerveja. Porque a cerveja é democrática e ela precisa ser acessível. Buscam usar palavras da revolução kraft americana, usando palavras em inglês, isso deixa tudo inacessível. A ética no mercado cervejeiro também precisa melhorar muito! Enquanto ético, você tem que respeitar o trabalho do outro, contribuir. Vivemos uma pandemia, precisamos contribuir. Essas práticas têm falhas e tem que melhorar e muito. Outra coisa que tem que melhorar é a questão do marketing, e puxo também para o treinamento de brigada. Bora treinar as pessoas que estão ali de frente pro público. Vamos fazer a cerveja chegar num patamar que o vinho é tratado, e isso aí puxo para outro ponto que é valorização de sommeliers que está muito em baixa hoje em dia.

 

Desde que começaram a trabalhar com cerveja (e/ou bebidas) quais foram as maiores evoluções e também as maiores escorregadas que você viu o mercado cervejeiro dar?

 

Bárbara em 33’55: Olha vamos começar pelo lado positivo, eu sou dessas que quando dá notícia ruim começa pela parte boa. Então assim, quando eu comecei a degustar cerveja artesanal no começo dos anos 2000, não tinha essa variedade toda de estilos. O que temos hoje é a variedade e diversidade de estilos e informações. Temos vários canais de informação e isso é muito legal. Mais cervejarias, mais players no mercado.. Passamos de 1500 cervejarias no Brasil. Sendo que cada uma desenvolve seu nicho no mercado, temos cervejarias que se especificam nas cervejas selvagens… Nos últimos anos eu tenho explorado muito cervejarias rurais como Zalaz, três olheiras, zapata… É uma pegada muito bacana por ser muito associada à sustentabilidade. Outra coisa interessante que achei também é a quantidade de profissionais formados. No instituto CERES de Recife, o agente não atende só quem é sommelier e sim quem quer ser hobbysta também e pessoas que querem beber melhor. Quando eu me formei no ICB, passei um mês em São Paulo e precisei fazer esse deslocamento. Hoje em dia já tem cursos em várias cidades. Os pontos negativos, vou bater na tecla chata da ética. É a rachadura no mercado, o tempo passa, as coisas evoluem, mas a ética ainda fica ali. Seja do colega de produção, seja de algumas escolas, alguns PDVs, enfim toda a cadeia produtiva. A falta de valorização dos profissionais é outro ponto que quando você busca controle de qualidade, melhorias, seja na cervejaria ou no pdv, você precisa valorizar o tempo do sommelier. Pensando que preço é diferente de valor. O valor do sommelier não é tirado da cabeça dele, é da sua trajetória. 

 

Gil em 43’40’’: A Bárbara sintetizou muito bem. E só acrescentando, sobre o lance do caseiro, a maioria começa como caseiro né, como hobbysta. Aí a pessoa começa a fazer cerveja, passa a entender melhor os processos, e sabe fazer cerveja igual “gente grande”. Mas caseiro também tem que ter a ética de não vender seu produto, entender que é um hobby, que não tem registro no MAPA, etc. O Leandro falou a questão do alcoolismo e pegando a questão da ética, nós acabamos por ser influenciadores no mercado, viramos referência. E acho que essa questão do alcoolismo é uma linha bem tênue, precisamos sempre ter o cuidado de falar com responsabilidade. Durante muito tempo no brasil tínhamos a seguinte frase: beba menos, beba melhor. Então sejamos realistas, até pessoas que faziam curso de cerveja saíram do meio porque tiveram problemas com álcool e pararam de consumir. Então a gente que tá toda hora falando de cerveja é sempre legal ter essa ética de abrir os olhos dessa galera. A gente que trabalha com cerveja não bebe cerveja todo dia, esse glamour cervejeiro é uma ilusão. A pior coisa é um profissional se apresentar bêbado num evento, com colegas de profissão. Você pode desencadear problemas sérios de saúde e outros tipos de coisas. Já a questão da evolução, as cervejas brasileiras evoluíram muito, e em contrapartida, os consumidores também evoluíram muito! O que veio primeiro o ovo ou a galinha? Hoje em dia, em teoria, a gente não precisa mais importar lager, IPA, pilsen… você tem uma galera fazendo a melhor IPA do mundo aqui do nosso lado. Em 2022 foi sim o ano das lagers, foram entregas de produtos incríveis. Então acho que temos uma evolução e acho que funciona em conjunto com a evolução dos consumidores mais criteriosos, e a galera foi estudando, viajando, conhecendo na fonte e entendeu o que esperar da cerveja boa. E para finalizar, a maior gafe do mercado cervejeiro é a questão desse grupo de whatsapp que soltaram vários prints de racismo e preconceito escancarado. Fiquei muito triste.

 

Na nossa pesquisa do Retrato de Consumidores de Cerveja descobrimos sobre o envelhecimento do mercado cervejeiro e da premente necessidade dele atrair públicos diversos. Vocês que estão envolvidos com educação notam uma redução no interesse na procura por cursos?

 

Bárbara em 52’19’’: Quando eu analiso assim o mercado, como que evoluiu, a gente para pra pensar em alguns pontos. Eu vim da gastronomia e dos vinhos, e quem me conhece sabe que eu vim primeiro dos vinhos e depois eu fui pra cerveja. Naquela época, em 2015, quando eu ainda era sommelier de vinho, as pessoas torciam a cara e falavam que cerveja era melhor e eu batia na tecla dizendo que nenhuma bebida é melhor que a outra. O tempo passou e o que vi foi profissionais se profissionalizando em coquetelaria, profissionais oriundas de café, trazendo e juntando cervejas com café. Hoje, vejo vários mestres cervejeiros se especializando em vinho – e eu fico muito feliz que o mercado amadureceu e evoluiu. Se um profissional que trabalha com alimentos e bebidas e não quer ficar desempregado, ele deve se especializar em diversas bebidas e diversos alimentos. Claro, é preciso se especializar com qualidade. Eu falo que, de certa forma, é preocupante e um pouco triste, mas o mercado está ficando saturado de profissionais. Somos o país que mais coloca profissionais de cerveja e sommelier do mercado, e todas as vezes eu vejo falta de treinamento, falta de serviço adequado, e fico me perguntando onde estão os sommeliers de cerveja? Entendo que tem uma galera que não tem interesse em trabalhar no serviço, tem uma galera que prefere focar em marketing e mídias. Vejo muitas pessoas criticando os blogueiros, mas eles ajudam sim o mercado. O que eu acho é que falta valorização profissional. Aí eu puxo o seguinte: as escolas precisam sempre melhorar! 

 

Gil em 59’00’’: Como eu falei, eu coordeno os cursos do instituto da cerveja aqui no Rio e algumas outras praças também. E a Bárbara disse que muitas pessoas procuram cursos de sommelier e não querem nem trabalhar na área. Mas a gente tem muita gente que procura o curso como se fosse uma salvação pra vida, pessoas que estão insatisfeitas com outras áreas etc. E assim, eu nunca fui um vendedor de sapato; eu nunca tentei arrematar aluno dessa forma, tanto que muita gente me procurava e perguntando que curso eu indicava – e eu obviamente dizia que eu só podia falar do meu curso, não dos outros. Aí entra a ética também. Então o que eu sempre falo é sobre o instituto da cerveja, onde me formei e dou aula. E sobre essa galera que faz o curso pra salvar a vida, eu falo que estudar nunca é demais, e o curso pode ser um início, não um fim. Cabe à pessoa continuar estudando, fazendo cursos, procurando trabalhar com outras coisas. Eu conheço muitos sommelier que começou servindo mesmo. Eu nunca tive essa experiência, e em breve eu vou começar um curso de garçom para aprender a base da profissão. Você precisa gostar de gente e gostar de servir. Pra mim não existe nada melhor que abrir uma cerveja e servir uma pessoa. E falo isso como prazer, abrir uma cerveja que você tá guardando a mó tempão em casa pra beber com os amigos. O serviço é um compartilhamento, você tá entregando o que tem de melhor pra alguém. No curso não há uma redução de interesse, mas posso falar que diminuiu a quantidade de alunos do Rio, mas é a situação atual.

 

Vocês estão ansiosos para o Prêmio Lúpulo de Ouro 2023? Porque nós estamos e contamos com vocês para agitar a premiação.

Até a próxima!

 

👉 Escute também: Cerveja faz bem? com Glauco Caon

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🍺 O que bebemos durante o programa? Bárbara bebe Schwarzbier da Cervejaria Crüls. Gil bebe Juicy IPA da Hankz Bier. Lud bebe St. Bernardus Abt 12 e Bulkool bebe água.

👑  SURRA DE LÚPULO é apoiado por MECENAS EMPRESARIAIS, VIVEIRO VAN DE BERGENCERVEJA DA CASAMONT.INK, CERVEJARIA UÇÁ , PRUSSIA BIER IRIS  PAY e RAMBEER.

 

 

Nana Ottoni

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