No episódio 24 do nosso podcast sobre cervejas artesanais, Surra de Lúpulo, o assunto é tecnológico, futurista, mas é sobre agora também, afinal, é hora de ciência cervejeira com Amanda Reitenbach, CEO e Fundadora do Science Of Beer.
Cientista cervejeira sim!
Desde pequena, Amanda tem uma ligação forte com a ciência e sempre quis ser cientista. No entanto, quando entrou na faculdade, acreditava que seguiria linhas de pesquisa mais tradicionais da engenharia de alimentos.
Ao descobrir e escolher a cerveja como objeto de estudo, encarou um desafio bem grande, pois o mercado cervejeiro há 15 anos era totalmente diferente.
“Eu fui bem insistente e hoje vejo que essa escolha abriu muitas portas pra mim e pra outras pessoas a desbravarem a ciência cervejeira”.
Cerveja probiótica
Um dos projetos de Amanda em seu mestrado foi a criação de uma cerveja probiótica. Para quem não sabe, probiótico é um tipo de alimento que traz uma série benefícios por conter microorganismos vivos.
“A ideia foi pesquisar uma levedura que desse as características probióticas para uma cerveja e pra isso tem que seguir algumas recomendações da ANVISA”.
Para isso, foi necessário fazer diversos testes científicos com a levedura e a cerveja tinha que passar por esses testes e ser gostosa.
Tecnologia cervejeira
Após o mestrado, Amanda continuou seus estudos focados na ciência cervejeira e foi cursar doutorado na Alemanha. No período em que esteve lá, a cientista trabalhou com inteligência artificial a fim de desenvolver a parte sensorial na fabricação de cervejas.
Com isso, foi desenvolvido o protótipo de um nariz eletrônico com o objetivo de identificar elementos voláteis na cerveja.
“Peguei sensores de aromas genéricos, olhando pelas especificidades dos grupos químicos. Comecei a treiná-los através de uma inteligência artificial com a tecnologia que meu laboratório trabalhava”.
Apesar da tecnologia, Amanda afirma que não vê como uma substituição do trabalho do sommelier, que envolve outros fatores, e acredita que na sua geração não deve ter um equipamento que substitua o ser humano por completo.
Science Of Beer
Além de cientista, Amanda também é empresária, empreendendo no Science Of Beer, um local que busca levar educação e consciência cervejeira através de cursos e treinamentos em tecnologia. Na visão de Amanda, a cerveja é mais do que uma bebida, envolve ética, princípio e política e quer estimular os cientistas a serem empresários, mudando o olhar da academia.
“Comecei a ser empreendedora por necessidade, porque no início do mestrado eu não tinha bolsa, tinha que fazer alguma coisa para me manter. Eu tinha recebido um prêmio de iniciação cientifica e uma empresa me convidou para executar o meu projeto. Aí eu abri uma empresa pra gerir esse projeto. Os primeiros anos foram como uma empresa de pesquisa, processo de pesquisa para empresas de fermentação e produção de enzimas e isso garantiu que eu pudesse fazer o meu mestrado”.
Beer Expert
Na pandemia, Amanda precisou transferir seu curso para o ambiente digital, mas buscou ampliar, unindo as experiências e adaptando as aulas envolvendo o aluno com o conteúdo.
“A ideia é levar o conhecimento cervejeiro pra casa das pessoas com a experiência que a gente já trabalha no presencial pra não distanciar muito isso. A gente sabe que a cerveja tem o entretenimento e a experiencia também. A gente tem percebido que deu muito certo, mas não vai substituir o presencial”.
No curso, a representatividade no meio cervejeiro é abordada em temas como racismo e feminismo, uma demanda necessária de acordo com Amanda.
“A gente já falava antes de forma mais discreta, mas vimos como necessidade de colocar como ementa do curso pra trazer um pouco mais de consciência porque são assuntos que são pouco discutidos”.
