No episódio de hoje do nosso podcast, Lud a IPAcondríaca e Henrique Boaventura se reúnem com Bia Amorim e Bob Fonseca, grandes nomes do mercado cervejeiro nacional, para discutir o que ocorreu em 2024 e o que podemos esperar para o ano que vem. A conversa mergulha em temas como tendências, história, desafios econômicos, reformas tributárias e as estratégias que podem garantir a sobrevivência das cervejarias.

Ouça na íntegra:

O mercado cervejeiro em 2024: rupturas, história e perdas

foto de mesa redonda de madeira, com cadeiras em volta, e uma unica cerveja no meio

Lud deu o pontapé inicial refletindo sobre o conceito de tendência, partindo da definição de “predisposição ou inclinação que leva a ações e mudanças”. Na visão dela, as tendências surgem de inovações — econômicas, sociais ou tecnológicas — que vão sendo incorporadas gradualmente ao comportamento das pessoas. Identificar essas ondas exige atenção ao presente, estudo do passado e visão de futuro. Para isso, enumerou cinco passos: coleta de dados, identificação de padrões, análise de causas, projeção de tendências e aproveitamento de oportunidades.

Henrique Boaventura destacou um ponto que marcou 2024: o grande número de encerramentos de atividades. Pequenas, médias e até grandes cervejarias, bem como fornecedoras de insumos, foram afetadas. Segundo ele, a surpresa não foi apenas o fechamento das pequenas, mas também de marcas consolidadas. O fenômeno reforça um desafio de sustentabilidade do setor.

Bia Amorim, por sua vez, escolheu a palavra “história”. Tudo o que foi vivido em 2024 já se insere no registro histórico do mercado cervejeiro brasileiro. Crises, encerramentos e eventos marcantes deixam um impacto não só comercial, mas também emocional — uma herança que influenciará a forma de produzir e apreciar cerveja no futuro.

Para Bob Fonseca, a palavra-chave foi “quebra”, tanto literal quanto metafórica. Muitas empresas não resistiram à longa maratona do mercado, seja por falta de recursos financeiros, energia ou equilíbrio emocional. Ele acredita que a cerveja artesanal continuará existindo, mas, realisticamente, apenas metade das atuais marcas alcançará 2025. A recente notícia do encerramento da Farrapos, no Rio Grande do Sul, exemplifica a dificuldade de permanecer em atividade. Ainda assim, há esperança para quem conseguir se adaptar e reinventar.

 

Reflexões sobre tamanho, consolidação e perspectiva histórica

lata de conserva de cerveja

Henrique ressaltou que não apenas as microcervejarias sofreram. Marcas consolidadas, como a Beerland e a Farrapos, também optaram por encerrar ou repassar seus negócios. Isso indica que não é apenas um problema de escala, mas um sinal de que o mercado inteiro passa por um momento desafiador.

Lud observou que, mesmo cervejarias sem dívidas estão revendo o futuro e questionando se vale a pena continuar. A falta de “sangue, suor e lágrimas” para enfrentar a tempestade atual é um sinal de mudança de perfil e prioridades. Quando grandes empresas ou cervejarias renomadas decidem fechar, fica claro que não se trata apenas de paixão pelo negócio, mas de viabilidade econômica.

Bia lembrou que crises e transformações não são novidade. A história do mercado cervejeiro já registrou momentos de grande diversidade seguidos por retração e concentração. Guerras, epidemias, tributações e avanços tecnológicos mudaram o setor em várias fases. Hoje, além de questões econômicas, enfrentamos a alta do dólar, custos energéticos, mudança climática, guerra na Ucrânia e a consequente dificuldade de obter insumos.

Bob recordou períodos em que gigantes, como Antártica e Brahma, compraram praticamente todas as concorrentes, reduzindo drasticamente a variedade. No entanto, o cenário atual é mais complexo. A migração de bares para brewpubs, o fechamento de empórios e a crescente opção do público pelo consumo doméstico reforçam um contexto sem horizonte claro de recuperação.

 

Insumos, custos e a força do produto local

A guerra, a alta do dólar e a crise econômica elevam o custo dos insumos. Lúpulos importados, maltes especiais e leveduras ficam mais caros, encarecendo a cerveja final. Ao mesmo tempo, esse cenário abre janelas de oportunidade: com o custo de importados subindo, insumos nacionais, como lúpulos brasileiros e maltes locais, ganham espaço e incentivam a criatividade. Iniciativas como as da Pró Lúpulo mostram que, entre 2022 e 2023, a produção nacional cresceu 40% em número de produtores e 133% em área cultivada.

Cervejeiros caseiros, que pedem embalagens menores e experimentam novos sabores, podem impulsionar a inovação. Eles são “molas propulsoras” de ideias, testando ingredientes e estabelecendo um ecossistema que pode fortalecer toda a cadeia.

 

2025: olhando adiante no meio da tempestade

engradados de cerveja ocupam a foto inteira empilhados uns nos outros

Para 2025, Bia acredita na continuidade das lagers, na consolidação das IPAs e na ascensão da “latinidade” na gastronomia — uma tendência que valoriza a identidade local. Produzir boa cerveja, comunicar-se bem, contar histórias e investir em qualidade permanecem como tendências perenes.

Bob vê crescimento no segmento sem álcool, destacando IPAs, Stouts e Sours sem álcool, um nicho ainda pouco explorado pelas grandes marcas, mas com potencial de expansão. Enquanto isso, Lud lembra que a reforma tributária será tema quente no próximo ano. Pressões regulatórias podem restringir o consumo de álcool, exigindo equilíbrio entre saúde pública e liberdade individual.

Bia relaciona reformas e crises à inovação forçada: períodos de alta tributação já levaram, historicamente, a bebidas mais leves. Henrique reforça essa lógica, lembrando o caso da Inglaterra, onde taxações inspiraram estilos menos alcoólicos. Agora, com a possibilidade de cervejas sem álcool, o ciclo se renova.

Bob destaca que a batalha tributária ainda está em andamento, com lobbies de destilados, saúde e artesanais tentando influenciar as regras. E, diante das incertezas, propõe que o consumidor amadureça. Em 2025, apoiar cervejarias favoritas e repetir compras de rótulos confiáveis pode garantir a sobrevivência dessas marcas.

Bia enfatiza a necessidade de adaptação, estudo de mercado, hospitalidade e gestão sólida. A cerveja, como categoria, deve se manter unida e estratégica.

 

Um ano de escolhas e resistência

A mensagem final é clara: o mercado cervejeiro enfrenta um turbilhão de desafios. Às cervejarias, cabe a capacidade de se adaptar, inovar e contar boas histórias. Ao consumidor, cabe valorizar as marcas que lhe são importantes, evitando a busca incessante pelo novo e investindo na manutenção da diversidade que tanto enriquece o setor.

2025 se aproxima com incertezas, mas também com oportunidades. Resta aos empreendedores, entusiastas e apreciadores de cerveja trabalhar em conjunto, fortalecendo o mercado, respeitando sua história e construindo um futuro sustentável.

Até ano que vem, ouvintes queridos!

 

Cada cerveja uma história: Cervejaria Guinness | SdL #238

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Este podcast é produzido pela BAC Produções e Comunicação, e está disponível no SpotifyYouTube ou na sua plataforma de áudio preferida.

Nana Ottoni

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