Hoje, no Surra de Lúpulo, vamos saber como anda o lúpulo nacional! Para falar com a gente a respeito, convidamos Felipe Wigman, do Viveiro Van de Bergen, e Victor Marinho, da Cervejaria Dádiva.

 

✨ Antes de mais nada, deixamos o nosso agradecimento aos Mecenas Empresariais: Cerveja da CasaIris PayCervejaria UçáViveiro Van de Bergen, The Beer Agency e Prussia Bier.

 

Convidamos você a ouvir o episódio na íntegra! 👇

 

O que esperar do lúpulo nacional (a médio prazo)?

 

Foto de um pint com cerveja em cima de uma mesa de madeira, ao seu lado, diversas folhas de lúpulo espalhadasFelipe em 09’09’’: De qualidade é muito interessante porque o lúpulo nacional desde o começo da nossa produção comercial, como a gente tem que se provar pro mercado, ele constantemente é provado analiticamente por laboratórios. Então a gente consegue mensurar no papel a curva de qualidade desses últimos anos. Então de qualidade, a gente pode atestar que não devemos a nenhum lúpulo importado. Pegando o lúpulo brasileiro e o americano, nos índices de análise do laboratório, estão na mesma qualidade. O que vai mudar é a composição dos óleos que estão ligados ao terroir, né. Então pro lúpulo nacional, estamos tendo cada vez mais oferta. O pessoal que está entrando na cadeia produtiva, está entrando com muito know how – e cada vez mais tem muitas mais ofertas de lúpulo nacional. […] Pouco a pouco temos uma quantidade cada vez maior na produção de lúpulo nacional. 

 

Victor em 12’45’’: Concordo com o Felipe que a qualidade do lúpulo nacional já está provada. Nenhum cervejeiro tem mais dúvidas que o lúpulo brasileiro entrega muita qualidade; um padrão de qualidade de excelência. Inclusive, já fiz cervejas espetaculares com o lúpulo brasileiro porque a qualidade está absurda. A nossa expectativa é de uma entrega muito grande. Temos desafios para destravar porque o mercado de lúpulo me lembra o mercado de cerveja artesanal de 10 anos atrás, onde todo mundo acha que vai ficar milionário. Mas não é exatamente assim, né. Tem seus desafios, como o desafio do preço – que o lúpulo brasileiro é mais caro que o importado por ser produção pequena. Então o maior desafio é fazer todas essas produções mais viáveis. Eu já consegui fazer a substituição do lúpulo importado pelo nacional, mas sabemos que não é assim com todo mundo. É um passo a passo. Mas em termos de expectativa de médio prazo é: a qualidade está entregue. Não são todas as variedades que tem uma qualidade legal, mas a dinâmica de preço que são os grandes desafios para os próximos anos. 

 

Qual é hoje o nosso maior gargalo para o desenvolvimento do lúpulo nacional de forma sustentável? 

 

Felipe em 16’42’’: Eu sinto que a gente tem o desafio do ovo e da galinha. Porque a gente precisa de uma pequena escala para destravar um gargalo, a garantia do processo de comercialização. Porque o produtor está tendo que produzir o lúpulo e vender. Ou seja, pegar a flor e transformar em pellet. Precisamos industrializar essa parte, não sei quem vai fazer, uma cooperativa, uma indústria, um player nacional… Mas para fazer isso, precisamos de uma escala. Quando falamos de uma planta que conseguiria suprir, seria de 100 hectares. Mas quem vai ser a pessoa a colocar isso? Alguém precisa dar um passo de confiança. Temos esse gargalo técnico-industrial, além de conquistar o espaço do mercado de lúpulo.    

 

Como viabilizar uma cooperativa de lúpulo nacional?

 

Victor em 21’22’’: Aqui no Brasil estão plantando lúpulo pelo brasil inteiro, então você não tem isso muito bem equacionado de como seria a logística pra ter uma cooperativa. Cheguei a dar uma palestra no Seminário Internacional do Lúpulo, e a gente foi muito crítico de fato, falando que no brasil as pessoas querem plantar, colher, pelletizar, vender, distribuir… E não faz sentido isso. No mundo inteiro, a fazenda só planta. Aí tem outro amiguinho que colhe e seca, aí entra outro amigo que vai pelletizar, o outro vai distribuir. Lá fora, juntam os produtores e padronizam para que o ano inteiro seja feito o lúpulo de padrão único. Aqui no Brasil está todo mundo querendo fazer tudo. É um grande desafio tecnológico, esse espaço continental é um grande problema. No Seminário, a gente deu uma cutucada. Todo mundo vai produzir lúpulo no brasil inteiro e como fica o restante das etapas? Ou todo mundo vai querer fazer tudo? 

 

Felipe acrescenta ao debate dizendo que a parte geográfica não é tão impossível, vide o exemplo da França. Mas que seria necessário ter uma centralização viável.

 

Existe ou deveria existir um direcionamento se o lúpulo Brasileiro tem que ser de aroma ou de amargor? 

 

Imagem de diversas flores de lúpuloVictor em 34’45’’: Como o lúpulo de fato está nascendo, em sua fase de infância e tudo o mais. A gente sabe que o lúpulo nacional não vai ter preço, então é necessário não investir em lúpulos de amargor. Então é necessário que de fato o investimento seja feito em lúpulos de aroma porque esses são os queridinhos que a gente tem uma margem, uma gordura, pra investir. E o lúpulo brasileiro está entregando isso. O Comet, lúpulo nacional, entregou pra gente um aroma inesperado e foi determinante pra eu querer colocar de linha num produto meu. Mas a grande dificuldade é pelo lúpulo ser jovem, a gente não sabe se toda safra vai ter esse perfil sensorial. É saber se o lúpulo vai entregar sempre a mesma coisa. […] Lá fora, quando você compra um Comet, ele entrega o que sempre te entrega. Aqui no Brasil ainda não temos essa certeza.

 

Felipe em 38’13’’: O mercado de alfa é muito cruel, né. Ele é quantificado por kilo – alfa. É um campo nebuloso, de entrar no campo do amargor. Apesar de não achar que devemos fechar as portas, temos que desenvolver sim aqui no Brasil a ponto de alcançar um valor baixo de produção a longo prazo. Mas do que produzimos atualmente, podemos escoar e manter uma crescente aí na produção nacional e quem sabe vender internacionalmente.

 

Quantas safras colhemos no Brasil por ano? Qual o normal no mundo? E isso é um problema ou um benefício?

 

Felipe em 44’21’’: A gente tem que pensar assim, não existe mais de uma safra por ano no mundo porque vem o Inverno e congela tudo. A gente não tem isso, e boa parte do brasil não tem esse inverno tão rigoroso. Então conseguimos colher duas safras por ano e tem uma galera que colhe duas safras e meio. E não que seja bom ou melhor, mas é diferente. Em termos de produtor, é excelente. Com duas safras hoje, estamos produzindo equivalente a uma safra lá fora. Por que é melhor pro produtor? Porque todo aquele custo que teria com maquinário seria diluído em duas safras por ano. Lá fora investem muito pra usar por vinte dias o maquinário, mas aqui dá pra diluir esse custo. Mas não dá pra fazer tão equivalente porque tem variação de safras. 

 

Victor em 46’42’’: O pessoal indica que a maturidade da planta acontece em até 7 anos. E só após 5, 7 anos que ela vai para a viabilidade comercial. Uma variabilidade nova, fica com a HBC, que é uma variedade que fica em movimento. Aqui tem produtores que estão tirando 3 safras no ano, então aqui a maturidade vai ocorrer no mesmo tempo ou em 3 anos? Não sabemos, vamos aprender ainda. O que falam é que uma planta dá 20 safras. Quando tiramos duas e três safras, o que acontece com a planta? Nenhum produtor do lúpulo brasileiro ainda não chegou na maturidade. Se você precisar tirar essa planta aos 7 anos, ninguém sabe. Como ainda é tudo muito novo, não sabemos de nada, estamos descobrindo. O que é fantástico. Estamos escrevendo a história do lúpulo. O que de fato é visível na mão do cervejeiro é que a safra de verão é diferente da safra de inverno. Então para uma cerveja de linha, precisamos de certa estabilidade. O que não queremos que ocorra no cenário nacional é que o lúpulo brasileiro seja usado apenas em cerveja sazonal.  Eu não quero isso, eu quero poder contar sempre com o lúpulo brasileiro. 

 

Felipe complementa que a saída é a industrialização.

 

Obrigada pelo bate papo incrível, pessoal!

 

Se você gostou desse episódio, com certeza também vai gostar de: Conexão Cerveja Brasil com Giba, da ABRACERVA

 

🍻 O que bebemos durante o programa? Victor bebe Dádiva colaborativa com a Tanke, First Rise; Felipe bebe Appa, das Três Orelhas; Lud bebe Cerveja do Hotel Vilarejo; Leandro bebe Esmeralda, da Devaneio do Velhaco

 

 

Nana Ottoni

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