No episódio 10 do nosso podcast sobre cervejas artesanais, Surra de Lúpulo, os irmãos Luciana e Filipe Araújo de Paula, da “Zapata”, falam sobre cervejaria rural, sustentabilidade e orgânicos em Porto Alegre.
História
A dupla nos conta que a “Zapata” nasceu há 5 anos. Filipe já tinha intimidade com cervejas artesanais e queria ter uma empresa que fosse original, principalmente no quesito sustentabilidade. Junto com sua irmã Luciana, responsável pela parte artística do negócio, combinaram rótulos e receitas originais fundando a “Zapata Cervejaria Rural”, encontrando na cerveja um veículo para levar cultura às pessoas.
“A gente veio com um conceito rural de farmhouse brewery; nenhuma outra cervejaria tinha esse mesmo conceito”.
Cervejaria Rural
Pedimos para nossos convidados definirem o que é uma cervejaria rural. Filipe explica que a empresa tem que estar inserida no próprio meio rural, abraçando a comunidade local, valorizando seu terroir e seu ponto geográfico. Assim, pode desenvolver ações ligadas à preservação do local e à sustentabilidade dos recursos que ele oferece.
Luciana lembra de quando montaram a fábrica, observando as construções existentes e utilizando a maior parte possível da estrutura previamente construída. Filipe completa falando sobre o uso da gravidade como fator positivo da construção, ficando na parte de cima do edifício a casa de máquinas, logo abaixo o processo de brassagem e fermentação e quase no andar térreo a parte de envase e estoque.
Sustentabilidade
Os irmãos contam que os resíduos são basicamente separados em sólidos e líquidos: o sólido auxilia na alimentação dos animais locais e também são encaminhados para parceiros próximos como criadores de porcos e de gado leiteiro:
“Acontece essa troca: eles nos dão legumes, leite e derivados. A gente os transforma em queijos e fermentados que se tornam parte da alimentação da equipe. Hoje, de 20 a 30% da alimentação da equipe vem dessa troca com esses produtores locais”.
Já os resíduos líquidos são conduzidos por cisternas ecológicas que neutralizam as impurezas desse fluido chegando até uma área que absorve toda a água e auxilia na plantação de bananas e outros vegetais, ajudando a preservar o solo. Na parte econômica do tripé da sustentabilidade, entram os eventos promovidos pela marca, onde o público tem acesso mais barato aos produtos também fortalecendo parcerias com velhos e novos fornecedores.
Sistema B
Falamos sobre o “Sistema B”, uma certificação global para empresas que são sustentáveis em todos os aspectos: desde os insumos usados e suas procedências até a logística de entrega e formação de equipe. São negócios que praticam a sustentabilidade ecológica, econômica e social.
Filipe e Luciana contam que ainda não possuem o certificado, mas que se consideram uma “Empresa B” por acreditar nos mesmos critérios de preservação adotados pela certificação:
“A gente nunca visou o lucro como prioridade e sim a sustentabilidade e a qualidade do nosso produto. Nosso discurso é o que a gente acredita como pessoa e como marca. O ganho vem como consequência. Queremos aumentar o poder de reflexão do consumidor final levantando questões importantes. Nosso megafone passa uma mensagem que vai além da cerveja”.
A dupla cervejeira conta que tem como uma de suas metas finais ser uma “empresa B”, mas que para isso são necessárias mais parcerias até se tornar 100% sustentável. Independente do certificado, eles mantêm como prioridade contemplar os fatores que garantem a sustentabilidade, cumprindo diretrizes padrões de responsabilidade socioambiental.
Estilo Rural
Falamos também sobre o meio rural e o quanto ele favorece determinados estilos. Para Filipe, as cervejas nasceram rurais na sua origem, se desenvolveram famosas pelo seu terroir e depois passaram pelo processo de industrialização. Sendo a natureza muito fértil no processo de criação, ter tantas outras árvores e frutos no mesmo terreno da fábrica instiga a imaginação. Também é possível produzir alguns dos insumos que vão ser usados na produção.
Lud lembrou do papo com Bia Amorim sobre perfis de sabores diferentes como o funky.
Relembre o episódio com Bia Amorim.
Lud agradeceu à dupla pela visita que fez à “Zapata” e quis saber como instigar os consumidores a conhecer a cervejaria. Luciana conta que o complexo é bem grande, sendo possível mostrar mais de perto as etapas por trás do rótulo. Eles também falam sobre os eventos promovidos no local como o “Porteira Aberta” que acontece uma vez por mês, convidando os clientes a passar um dia na cervejaria experimentando a vivência rural e fazendo um tour de harmonização.
“Tomar cerveja dentro de um ambiente craft é uma micro revolução”.
Filipe também fala do “Zapata In Concert”, evento anual que traz a experiência rural em uma grande festa onde todas as propostas são bem-vindas com atrações gastronômicas e musicais em um ambiente bastante agradável e familiar.
“Descubra-se Revolucionário”
Falamos também sobre o projeto “Descubra-se Revolucionário”. Luciana conta que o projeto traz a identidade da Zapata numa série de rótulos diferentes, não só através da identidade visual, mas também das receitas iniciais, tentando transmitir o manifesto da marca ao trazer pessoas que podem fazer a diferença no mundo, independentemente da posição que ocupam, não importando quem são e sim o que está por trás delas.
“Toda marca tem um manifesto e o nosso é uma ideia criativa que fala sobre forças para lutar, sobre desfrutar as vitórias conquistadas espalhando revolução. Conte como você fez, incentive os outros. O manifesto é um círculo de responsabilidade e isso nos torna revolucionários”.
“Coragem é o preço que a vida exige em troca de paz”.
Insumos Orgânicos
Leandro quis saber sobre os insumos usados na produção da cervejaria. Filipe conta que o foco é no orgânico, mas também é um dos maiores desafios da “Zapata” hoje, recorrendo muito aos pequenos produtores vizinhos. O casal também fala sobre a coerência na meta da empresa com as ações em todas as áreas. Para eles, não adianta trabalhar com insumos orgânicos e ter desigualdade de salário na sua equipe, por exemplo. Tem de haver uma coerência sempre presente.
Futuro
Eles contam que pretendem abrir os horizontes para novas séries e prometem continuar com os eventos assim que a situação da pandemia for melhorando. A ideia é voltar em julho ou agosto, mas no esquema de reservas antecipadas para controlar o número de pessoas:
“Esse ano a “Zapata” faz cinco anos, então é um ano especial. Além do “Zapata In Concert”, que geralmente acontece em agosto, vamos abrir mais duas séries de rótulos bem bacanas e também a loja online. Temos projetos antigos do início da cervejaria, que só agora se tornaram possíveis com o amadurecimento do público cervejeiro em relação às craft beers. Agora temos a coragem necessária para colocar no mercado esse tipo de cerveja que olha mais pra terra, pra fazenda, pras frutas e pro ambiente rural”.
Para acompanhar nosso papo, Leandro bebeu uma Albert da “Zapata”, Luciana e Felipe acompanharam Leandro na escolha também tomando uma Albert e Ludmyla optou por uma Toi Maori também da “Zapata”.