No episódio 80 do nosso podcast sobre cervejas artesanais, Surra de Lúpulo, você vai entender tudo sobre Halloween e cerveja com Berenice Chiavegato, do Profano Graal. Diretamente da Itália, acompanhe uma aula de História e mitologia celta para entender como o Dia das Bruxas nasceu e o que tem a ver com a cultura cervejeira.
Origem do Halloween
Ao lado do marido, Sérgio Barra, Berê comanda o Profano Graal, um projeto no qual traz História e mitologia em uma interface com a botânica, sua especialidade. Tudo isso para transmitir um conhecimento ancestral.
Sobre o Halloween, festa muito popular nos Estados Unidos e que cresce cada vez mais no Brasil, Berê aproveita para explicar sua origem.
“É um costume milenar, de mais de 8 mil anos, que remete aos celtas da Grã-Bretanha e, mais especificamente, da região da Irlanda. Era uma das festas que a gente conhece como roda do ano pagão, os solstícios e equinócios e essa, que é no meio do outono.”
Berê destaca que a celebração do dia 31 de outubro no hemisfério norte é no período que divide o ano entre claro e escuro. “Para eles, era muito importante isso porque toda a colheita já tinha sido feita e os animais já estavam alimentados e confinados.”
Nesta época, as bebidas eram feitas com ervas para conservar e armazenar durante o inverno.
Além disso, quando se fala em mitologia, essa passagem era conhecida também como o ‘dia da quebra do véu’, do natural para o sobrenatural, quando seres místicos teriam a possibilidade de se encontrar com os vivos. E, para não serem capturados, os pagãos se disfarçavam com máscaras e peles de animais, daí a tradição das fantasias.
Da Irlanda para os Estados Unidos
No século 19 houve uma imigração maciça de irlandeses para os Estados Unidos, que fugiam da epidemia de fome na Europa. Com isso, a cultura e os costumes foram juntos.
Na nova terra, algumas adaptações foram feitas, como a junção do nome original da festa pagã, virando Halloween, em sincronia com a Igreja Católica, já que ocorre na véspera do dia de Todos os Santos. Além disso, sai o nabo, de tradição irlandesa, mas que não é encontrado em terras norte-americanas e entra a famosa abóbora, como local onde se coloca a vela.
Cerveja de abóbora
Como nos Estados Unidos não havia cevada e nem opções de grãos para a produção de cerveja, a abóbora passou a ser uma opção viável como fonte de açúcar.
Após a chegada do lúpulo, a produção foi deixada de lado, virando um produto sazonal para a data comercial que o Halloween se tornou.
Bruxaria
Berenice conta que o estereótipo da imagem da mulher como bruxa, foi construído a partir da ideia dos pagãos e a perseguição que sofreram da Igreja Católica.
“Na verdade, essa ideia de bruxaria veio de todo o processo de Inquisição, que durou alguns séculos. Surgiu na Idade Média e foi até a Idade Moderna. A ideia da igreja era eliminar todas as heresias, que era tudo aquilo que não entrava no dogma proposto pela Igreja Católica, inclusive outras práticas cristãs.”
A especialista destaca que ao longo deste período alguns arquétipos foram criados a fim de que um ‘mal maior’ fosse combatido, como se tivesse sempre à espreita.
“As mulheres começaram a ser mais perseguidas, principalmente as que não eram casadas, que não queriam se casar e as viúvas. Muitas delas eram curandeiras e parteiras, e tinham uma interação com a natureza devido ao conhecimento sobre ervas.”
Produção de cerveja por mulheres e bruxaria
Na Inglaterra, um grupo de mulheres ficou famoso pela produção de cerveja, as Alewives. Casadas e solteiras utilizavam o conhecimento de ervas para produzir a bebida, uma tradição milenar, e o que sobrava era vendido.
Daí também vem alguns itens que são relacionados às bruxas, como por exemplo a vassoura. O acessório era pendurado na porta das casas dessas Alewives para comunicar que havia cerveja à venda. Além disso, essas mulheres iam às feiras para vender o excedente com chapéus pontudos para chamar atenção.
As cervejas medievais não tinham pureza, continham ervas que estavam nos quintais das casas e muitas eram alucinógenas. Esse conhecimento causava medo nos homens, por isso a associação com as bruxas.
De um modo geral, podemos entender que, apesar do domínio feminino na produção cervejeira medieval, através de uma série de acontecimentos históricos, as mulheres foram perseguidas e ‘diminuídas’, perdendo espaço para os homens.