Introdução: a polêmica que dividiu o mercado cervejeiro

Na semana passada, o mercado cervejeiro brasileiro foi palco de um dos episódios mais inusitados — e, para muitos, constrangedores — dos últimos anos. Num desenvolvimento surpreendente, o Festival Brasileiro da Cerveja teve não uma, mas duas edições acontecendo simultaneamente! Com o mesmo nome, no mesmo estado, mas organizadas por grupos distintos.

Além do estranhamento, o caso escancara uma realidade crescente: a desunião no setor de cervejas artesanais, especialmente nos últimos 5-10 anos.

Neste episódio, vamos analisar todos os detalhes desse episódio, com foco em dados e fatos públicos, e entender seus impactos para o mercado cervejeiro brasileiro.

 

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A origem da disputa: dois festivais, um nome

A intervenção da Prefeitura de Blumenau

O Festival Brasileiro da Cerveja e o Concurso Brasileiro da Cerveja são eventos tradicionais de Blumenau, considerada a capital brasileira da bebida. Ambos são marcas registradas da Prefeitura Municipal, administradas pelo Parque Vila Germânica.

Festival Brasileiro da Cerveja, Blumenau

Então, em maio de 2024, a Prefeitura retirou da Ablutec (Associação Blumenauense de Turismo, Eventos e Cultura) a responsabilidade que até então lhe cabia pelos eventos, alegando que as marcas pertenciam ao município. Na ocasião, tinha-se a intenção de abrir licitação para gestão privada, nos moldes da Oktoberfest.

Em seguida, a Ablutec contestou a decisão, alegando ter organizado o festival por 15 anos e o concurso por 13 anos, sem concessão prévia.

Novas parcerias em Blumenau

Em junho daquele ano, a Prefeitura então formalizou parcerias com:

  • Escola Superior de Cerveja e Malte (ESCM): responsável pela coordenação técnica do concurso.
  • Associação Blumenau Capital Brasileira da Cerveja: responsável pela gestão do festival.

O objetivo era claro:

  • Reduzir custos para as cervejarias participantes.
  • Aproximar as micro e pequenas cervejarias do evento.
  • Impedir a participação de grandes grupos econômicos.

A resposta da Ablutec: o festival em Balneário Camboriú

Posteriormente, em resposta, a Ablutec anunciou a realização dos mesmos eventos – o Festival Brasileiro da Cerveja e o Concurso Brasileiro da Cerveja –, nas mesmas datas, em Balneário Camboriú. Assim, esse movimento acirrou a disputa e criou um cenário confuso para cervejarias, consumidores e jurados.

O peso das medalhas: qual concurso tem mais valor?

O impacto para cervejarias artesanais

Atualmente, é consensual que uma medalha em concursos cervejeiros tem grande valor. Cada prêmio:

  • Valida a qualidade da cerveja.
  • Funciona como ferramenta de marketing.
  • Impulsiona vendas, especialmente em e-commerce ou bares especializados.

Contudo, diante da situação de dois concursos simultâneos, surgem dúvidas:

  • Metodologias de avaliação diferentes.
  • Jurados diferentes.
  • Resultados possivelmente divergentes.

Cervejarias que enviaram amostras para ambos podem ter resultados inconsistentes. Assim, qual premiação tem mais peso?

A importância da recorrência nas premiações

Ludmyla destacou: a recorrência em premiações importa! Cervejarias que são premiadas em diversos concursos, por diferentes bancas julgadoras, têm sua qualidade confirmada de forma consistente.

Subjetividade dos julgamentos e divisão de jurados

Ainda assim, é preciso reconhecer que, mesmo com guidelines técnicos consolidados, como os do BJCP (Beer Judge Certification Program), há margem para subjetividade na avaliação.

Dois concursos simultâneos dividem os jurados habilitados, o que pode impactar na qualidade técnica das mesas. Embora ambas as organizações tenham capacidade para calibrar bancas equilibradas, a divisão gera desafios.

Festival Brasileiro da Cerveja, juízes

Os números: quem levou mais medalhas? 🥇🥈🥉

Top 5 cervejarias premiadas em Blumenau

  1. Big Jack – 17 medalhas
  2. La Birra – 12 medalhas
  3. Opa Bier – 9 medalhas
  4. Bierbaum – 7 medalhas
  5. Stannis – 7 medalhas
Destaques regionais:
  • Ceará (8 medalhas)
  • Alagoas (4)
  • Espírito Santo (4)
  • Minas Gerais (4)
  • Mato Grosso (2)
  • Tocantins (2)
  • Goiás (1)

Top 5 cervejarias premiadas em Balneário Camboriú

  1. Big Jack – 30 medalhas
  2. Opa Bier – 19 medalhas
  3. Cervejaria Leopoldina – 16 medalhas
  4. Três Santas (ES) – 12 medalhas
  5. Bierbaum – 10 medalhas

Curiosamente, Big Jack e Opa Bier aparecem entre as mais premiadas em ambos os concursos, mostrando coerência.

Distribuição regional: o Sul concentrando prêmios

Blumenau

Estado Medalhas
Santa Catarina 111
Rio Grande do Sul 63
Paraná 37
São Paulo 26
Rio de Janeiro 12

Balneário Camboriú

Estado Medalhas
Santa Catarina 149
Rio Grande do Sul 68
Paraná 47
São Paulo 47
Rio de Janeiro 7
Como resultado, mais de dois terços das medalhas ficaram concentradas no Sul do Brasil.

Festival Brasileiro de Cervejas, prêmios, medalhas

Barreiras para participação: custos e logística

Essas são, primordialmente, as principais dificuldades enfrentadas por cervejarias de regiões afastadas do local sede do Festival e do Concurso:

  • Custo médio de R$200 por inscrição.
  • Necessidade de envio de 8 amostras por rótulo.
  • Logística cara (principalmente para Norte e Nordeste).
  • Perda de estoque (amostras deixam de ser vendidas).

Como resultado, muitas cervejarias optaram por não participar de nenhum dos concursos em 2025.

O futuro dos concursos cervejeiros no Brasil

Concurso itinerante: solução ou novo desafio?

A organização do concurso em Balneário Camboriú anunciou planos para torná-lo itinerante. Dessa forma, a proposta pode facilitar a participação de cervejarias próximas à nova cidade-sede a cada ano.

Porém, como Henrique pontua:

  • Grandes cervejarias continuarão dominando, independentemente da localização.
  • Além disso, a itinerância precisa vir acompanhada de políticas reais de inclusão (incentivos, redução de taxas, apoio logístico).

Inclusão regional: o papel da ABRACERVA

A ABRACERVA já realiza concursos regionais, com resultados positivos. São concursos que:

  • Reduzem custos.
  • Incentivam cenas locais.
  • Dão capilaridade ao mercado.
  • Bem como formam novos jurados regionais.

Comunicação e transparência: o que pode melhorar?

Henrique e Lud ressaltam que, embora tenha-se demonstrado capacidade de realizar dois eventos gigantes ao mesmo tempo, a comunicação falhou bastante.

Assim, faltou clareza sobre:

  • Inscrição e participação nos dois concursos.
  • Divulgação de dados detalhados (quantidade de inscritos, distribuição por estado etc.).

Conclusão: o que esperamos para o futuro no mercado cervejeiro brasileiro

UniãoEm resumo, podemos afirmar que esse episódio dos dois festivais simultâneos revelou pontos cruciais:

  • A necessidade urgente de melhor comunicação e coordenação entre organizadores.
  • A importância de garantir acessibilidade e inclusão regional.
  • O papel estratégico de eventos e concursos no fortalecimento do mercado cervejeiro brasileiro.

Que possamos, na altura do próximo Festival Brasileiro da Cerveja em 2026, na(s) forma(s) que ele vier a tomar, ver um mercado mais unido, com eventos bem planejados, dados transparentes e condições reais para que cervejarias de todos os cantos do país participem em pé de igualdade.

O setor precisa de união — não necessariamente de unificação, mas de diálogo e colaboração.

E você, o que pensa sobre esse cenário? Deixe seu comentário abaixo e participe da conversa! 📣

Gabriel Gurian

Historiador, com Mestrado e Doutorado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), meus estudos são pautados por bebidas e bebedores na história do Brasil, em diferentes períodos. Atualmente desenvolvo pesquisa pós-doutoral na Universidade de São Paulo (USP), com foco no nascimento da cultura cervejeira brasileira no século XIX.

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