Em 2020, no auge da pandemia do Coronavírus, gravei para o canal do Youtube do Pretas Cervejeiras, um vídeo intitulado “Viagens Cervejeiras”. Eu poderia, é claro, focar nos destinos clássicos como Bélgica, Alemanha e República Tcheca, mas naquele momento, fazer planos mais acessíveis para o futuro foi a forma que encontrei de me manter mentalmente sã diante do desconhecido.
No vídeo, na companhia (virtual) da querida Stefanie Nascimento, minha companheira de Pretas Cervejeiras, na época, compartilhei que assim que fosse possível, gostaria de ir até a Cervejaria Zalaz em busca das excelentes cervejas e da paisagem bucólica, que no contexto das restrições, parecia um sonho. Muitas águas rolaram, graças aos esforços de homens e mulheres comprometidos com a ciência e com a vida, saímos do buraco que nos encontrávamos e finalmente, três anos depois, cheguei em Paraisópolis.
Um lugar de fé, comunhão e cerveja
Paraisópolis é uma cidade mineira, encravada na gigante Serra da Mantiqueira, fazendo parte do chamado “Caminho da fé”. Um roteiro que atravessa diversas cidades, com mais de 2000 km, que tem como destino final o Santuário Nacional de Aparecida (SP).
Em uma estrada vicinal, que faz parte da rota dos peregrinos ao Santuário, estava localizada a casinha simples e aconchegante, onde nos hospedamos. Anexa a uma pequena fazenda, que oferecia iogurte, manteiga, queijos diversos e doce de leite aos hospedes (um verdadeiro luxo!).
Entre cafés e iogurte na varanda, cumprimentávamos as muitas pessoas que cruzavam o nosso caminho. Uma delas, um senhor na casa de seus 70 anos, parou para um dedinho de prosa, como (quase) todo bom mineiro. Nos contou que já havia feito a peregrinação outas sete vezes e que desta vez, por limitações físicas estava realizando de bicicleta. Também achou importante compartilhar que eram as pessoas, o encontro e a conexão com os outros que o faziam sair do conforto de casa e pedalar por tantos KM, na companhia da esposa. Seguiu seu caminho animado com a proximidade da SETA AMARELA, um ponto de parada para a recuperação, onde seria possível se abastecer de comida e até cerveja, como me garantiu o senhor.
Aquele bate papo que durou no máximo uma meia hora, reverberou na minha cabeça por dias o suficiente para se transformar nesse texto. Durante o processo de escrita fui até o site do Caminho da Fé em busca de mais informações e me deparei com o seguinte trecho:
“Exercitando a capacidade de ser humilde, compreenderá a simplicidade dos pontos de apoio, das hospedagens e das refeições. Em cada parada, estará contribuindo para o desenvolvimento econômico e social das pequenas cidades e propiciando a integração cultural de seus habitantes com a dos peregrinos oriundos de todas as regiões do Brasil e de diferentes partes do Mundo”
Entendi então que eu, agnóstica, saída de Rio rumo à Paraisópolis, com direito a paradas para conhecer cervejarias locais e assuntar com as pessoas e o simpático homem de fé compartilhávamos o mesmo propósito. Que benção!
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