No episódio de hoje, damos continuidade à nossa série sobre cases de sucesso de cervejarias, explorando histórias de marcas que, mesmo diante de crises e desafios, continuam crescendo e conquistando um público fiel. Neste terceiro capítulo, recebemos o especialista Gustavo Simoni, proprietário e mestre cervejeiro da mineira Koala San Brew, para falar sobre o inspirador case Koala.

Ouça o episódio na íntegra:


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Case Koala San Brew

A Koala tem 12 anos de existência. Vamos falar qual era o propósito da Koala no momento de sua criação? E houve ao longo desse tempo de existência reposicionamento e redirecionamento de rota? Se sim, qual?

 

koalaGustavo Simoni, fundador e mestre cervejeiro da Koala San Brew, explica que a Koala surgiu de um momento de transição em sua vida, quando decidiu profissionalizar o que antes era apenas uma atividade para amigos. Ele conta que já fazia cerveja caseira há muito tempo, mas a demanda constante de seus amigos para comprar suas criações o levou a transformar esse hobby em negócio. Além disso, Gustavo compartilha que tem uma conexão histórica com o setor, já que seu bisavô foi dono de uma das primeiras indústrias de cerveja em Belo Horizonte, fato que influenciou sua decisão de seguir nesse caminho. Ao se deparar com imagens da antiga fábrica de seu bisavô, ele sentiu que esse foi o “empurrãozinho” que precisava para concretizar a criação da Koala.

Desde o início, a Koala San Brew sempre foi pautada pelo experimentalismo e pelo extremismo, embora, com o tempo, o extremismo tenha se suavizado. O propósito da cervejaria sempre foi criar experiências singulares para os consumidores, e Gustavo destaca que isso permanece no DNA da marca até hoje. Ele não enxerga a Koala como uma empresa que passou por reposicionamentos, mas sim como uma que amadureceu naturalmente ao longo do tempo, mantendo seu foco na criação de novas e únicas experiências cervejeiras.

A primeira grande influência de Gustavo foi a escola americana de cerveja, que ele descreve como fortemente marcada pelo extremismo e pela criação de storytelling em torno dos produtos. Essa escola também é caracterizada pela capacidade de trabalhar diferentes vertentes e estilos, como as escolas belga e alemã, o que abriu portas para que Gustavo explorasse outras tradições cervejeiras. Mais recentemente, a Koala tem se dedicado a reconstruir experiências históricas na cerveja, um exemplo disso é a Agersborg, uma cerveja colaborativa que recria fielmente uma Dansk Lagerolle da Dinamarca do final do século XIX.

Para Gustavo, o ponto central da Koala sempre foi proporcionar experiências singulares aos seus consumidores, seja por meio de inovações ou resgates históricos, como a reconstrução de uma época ou lugar através da cerveja.

 

Vocês sempre foram conhecidos por produzirem cervejas chamadas de high end e que atendem diretamente ao público beer geek. Esse público ainda é quem sustenta as vendas da Koala? Fala mais sobre a construção dessa comunidade de consumidores.

 

Gustavo Simoni reconhece as dificuldades enfrentadas pela indústria alimentícia no Brasil, e destaca que, felizmente, a Koala San Brew sempre teve uma essência de marca e um propósito sólido, focado na criação de experiências singulares. Ele acredita que essa abordagem foi fundamental para superar os desafios ao longo do tempo, incluindo crises que afetaram o setor, como a greve dos caminhoneiros, que impactou a distribuição dos produtos da cervejaria por cerca de um mês.

Gustavo compartilha a sabedoria transmitida por seu bisavô e avô, que ensinaram que a indústria é composta por momentos de dificuldade e tranquilidade, e que é preciso se acostumar com esses altos e baixos. A pandemia, por exemplo, foi um desses momentos críticos, mas ele agiu rapidamente ao prever os efeitos que o lockdown teria no mercado. Ao reativar o e-commerce da Koala antes do fechamento total, ele conseguiu manter a operação funcionando, uma decisão que atribui à experiência de “navegar nesse mar” de incertezas.

Ele ressalta que, embora a Koala seja reconhecida e apreciada pelos beer geeks, o público da cervejaria é muito mais amplo. Muitas pessoas que frequentam o bar da fábrica não são necessariamente entusiastas profundos de cerveja artesanal, mas estão em busca de novas experiências. Esse foco na singularidade e na inovação é o que mantém a fidelidade do público. Gustavo reforça que, apesar do interesse dos beer geeks, o público da Koala é composto por aqueles que querem descobrir algo novo e se surpreender com as criações da cervejaria.

No que diz respeito à sustentabilidade do negócio, Gustavo explica que o consumidor direto, através das vendas no bar e do e-commerce, é quem “paga as contas”. Isso se deve ao fato de que essa modalidade de venda permite uma tributação menos abusiva, possibilitando uma equação de preço mais justa e honesta. Para ele, o sucesso da Koala não está baseado em modismos passageiros, mas em uma construção real e orgânica de conceito para o consumidor, focada na experiência autêntica, o que permite que a marca persevera em meio às oscilações do mercado.

 

Quando surgiu e qual o motivo para o começo da guinada da Koala para a produção das lagers leves e bem executadas? Quem paga as coisas de verdade: as lagers, as IPAs ou as cervejas high end?

 

Gustavo Simoni conta que o trabalho da Koala San Brew com lagers começou há bastante tempo, mas o mercado só recentemente passou a valorizar e buscar mais por esse estilo de cerveja. Ele acredita que essa mudança de percepção é um reflexo da evolução natural do mercado e do consumidor. A Koala iniciou esse trabalho por volta de 2017, com a cerveja Speed Kills, uma lager alemã, seguida da Closer to the Truth, uma lager tcheca, que surgiu a partir do interesse em entender as diferenças entre as escolas alemã e tcheca, apesar de estarem geograficamente tão próximas.

Esse processo de pesquisa levou Gustavo a se lembrar de depoimentos que ouviu de seu avô em uma entrevista feita por um historiador sobre a história da cerveja no Brasil. A partir dessas memórias, ele percebeu que a cerveja brasileira, no passado, era mais próxima da cerveja tcheca do que da alemã. Ao estudar mais sobre a história da cerveja tcheca, Gustavo descobriu que, quando a Pilsen Urquell se espalhou pelo mundo, causou uma verdadeira revolução, e muitos costumes e processos tchecos vieram junto com essa expansão.

Em 2018, a Koala trouxe torneiras de serviço tcheco para o bar da fábrica, o que ajudou a intensificar o foco na experiência cervejeira tcheca. Isso culminou em uma imersão na República Tcheca, organizada com o apoio do consulado. Segundo Gustavo, esse trabalho com a escola tcheca foi crescendo organicamente, mas levou tempo para ser plenamente reconhecido pelos consumidores, que agora, após uma fase de extremismo no mercado, parecem estar retornando às origens e valorizando estilos mais tradicionais.

Ele também comenta que muitos dos clientes do bar da fábrica não são aficionados por cerveja artesanal, mas sim pessoas que vêm pela proximidade e pela experiência oferecida pela Koala. Muitos deles descobriram o mundo das cervejas especiais por meio da Koala e agora são frequentadores assíduos, embora não sejam do tipo que coleciona cervejas em casa. Inicialmente, esses clientes foram impactados pelas IPAs, devido aos seus aromas intensos e amargor, que ofereciam uma experiência sensorial diferente do que estavam acostumados. Com o tempo, a Koala foi introduzindo as lagers de forma mais frequente, apesar dos desafios associados ao longo processo de produção e aos custos mais elevados dessas cervejas, em comparação às IPAs.

 

Vocês estão no Jardim Canadá, em BH, que é um polo cervejeiro com várias outras fábricas na região. Existe algum plano de expansão da Koala ou vocês pretendem se manter desse tamanho?

 

Diego explica que a ideia de expansão sempre esteve presente em diversos momentos ao longo da trajetória da cervejaria. Ele reconhece que essa é uma questão comum não apenas no setor de cervejas artesanais, mas também em outras áreas de negócios, onde há uma máxima que diz: “se você não está crescendo, será engolido”. Segundo ele, essa lógica faz sentido, pois é difícil manter-se pequeno e estável por muito tempo.

Em algumas ocasiões, a Koala San Brew passou por expansões, e ele vê agora o quanto isso foi necessário para o crescimento da empresa. No entanto, Diego menciona que a vontade de manter o controle e o contato próximo com o produto sempre esteve presente, criando um dilema entre permanecer pequeno ou crescer. Hoje, ele percebe que o mercado está em um momento de turbulência, ainda se ajustando e tentando encontrar seu caminho, o que torna arriscado expandir de forma acelerada.

Diego compara a situação do mercado de cerveja ao mercado de vinhos no Brasil, que passou por um ciclo semelhante. Ele menciona conversas com fornecedores do Sul que já observaram essa fase no setor de vinhos. Atualmente, a Koala está em uma posição estável, mas Diego acredita que o mercado e os consumidores ainda não se entenderam completamente. Por isso, ele considera mais prudente, no curto e médio prazo, manter a estabilidade em vez de buscar um crescimento agressivo.

Embora existam diversos planos e propostas de expansão, a prioridade da Koala, segundo Diego, é continuar criando experiências singulares e manter o padrão de qualidade pelo qual são conhecidos. Ele afirma que é importante esperar até que o mercado se ajuste antes de tomar grandes decisões. Por fim, Diego conclui que, no momento certo, as oportunidades de crescimento acontecerão de forma natural.

Diego reflete sobre um ditado comum entre os cervejeiros da região, que diz: “a única certeza é o imprevisto.” Ele menciona que sempre surgem adversidades inesperadas, como a greve dos caminhoneiros, que pegou todos de surpresa. Para ele, esses eventos ensinam a lidar com desafios repentinos, que ocorrem com frequência no setor. Diego explica que, mesmo com planejamento e ajustes nas margens, sempre haverá algo imprevisto. Isso exige flexibilidade, pois margens muito apertadas podem deixar o negócio vulnerável.

Ele compara a Koala San Brew a um bistrô, destacando que muitos estabelecimentos assim, em cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo, se mantêm estáveis por anos sem expandir ou abrir novas unidades. Essa estabilidade é algo que sempre o fascinou. Diego acredita que é possível manter um negócio pequeno e sustentável, desde que seja feito da maneira certa.

Ele reforça que a Koala foca em criar experiências únicas do início ao fim, com o objetivo de tocar e transformar a vida das pessoas que visitam. A cada visita, o cliente encontra algo novo, diferente do que já conhece ou um acréscimo às experiências anteriores. Diego também destaca a importância de expandir o conhecimento histórico sobre a cerveja, o que tem sido uma parte significativa do trabalho da Koala. Ele observa que, com o tempo, os clientes começam a fazer comparações entre diferentes estilos de cerveja, como as alemãs e as tchecas, por exemplo.

Por fim, Diego enfatiza que, se a Koala se propõe a ser como um bistrô, é importante manter essa essência. Ele comenta que muitas pessoas sugerem a produção de uma cerveja de linha, mas ele acredita que manter o controle criativo e focar na experiência diferenciada é o que realmente importa, independentemente dos palpites que recebem.

 

Conta pra gente os erros e acertos que vocês vivenciaram nesses anos de cervejaria? É uma boa forma de compartilhar o aprendizado com outras cervejarias.

 

Gustavo reflete que, ao longo do processo empresarial, tanto os erros quanto os acertos foram muitos, o que ele considera normal. Ele relembra que a empresa enfrentou diversas dificuldades, algumas causadas por erros internos, outras por condições externas que forçaram a reinvenção. Nesses momentos, a criatividade na administração, aliada ao produto, gerou novas experiências. Apesar de ser difícil apontar quais foram os maiores erros, ele destaca que, sempre que tomaram decisões imediatistas — seja por necessidade ou tentativa de simplificar processos —, acabaram enfrentando problemas.

Para Gustavo, o imediatismo é um grande erro, especialmente na indústria cervejeira, que ele considera uma arte. Ele acredita que a cerveja, com sua longa história, continuará existindo muito além de nossa passagem pelo mundo, e por isso, decisões precipitadas podem comprometer a qualidade e o propósito do negócio. Ele reconhece que, embora tenham conseguido superar essas dificuldades, o imediatismo foi um erro recorrente.

Quanto aos acertos, Gustavo afirma que o propósito é essencial. Ele ressalta que não é necessário que todos compartilhem do mesmo propósito, mas é crucial ser fiel ao que cada um acredita. A mudança e adaptação do conceito empresarial são naturais e devem ocorrer de forma orgânica, ao contrário de ajustes forçados para atender demandas imediatas ou reduções de custo que comprometem a essência do negócio.

Ele cita, inclusive, um meme que viu recentemente, no qual uma pessoa finge estar empurrando um metrô. Ele usa isso como analogia para consultores e empresas que sugerem soluções sem fundamento prático, alertando para o perigo de seguir conselhos de quem nunca enfrentou a realidade do mercado. Gustavo enfatiza a importância de conhecer profundamente o próprio negócio, pois ninguém o entenderá melhor do que quem está no comando.

Por fim, ele aconselha a ter cautela ao ouvir consultores ou coaches que nunca colocaram um produto no mercado ou enfrentaram os desafios de uma empresa por longos períodos. Embora reconheça o valor de profissionais bem-sucedidos que oferecem ajuda genuína, ele destaca que muitos consultores estão presos a teorias e sistemas que não se aplicam à realidade brasileira, onde um ajuste fino é fundamental.

 

cerveja tim-tim e até a próxima cerveja

Beba melhor. Beba com moderação.

Cervejaria Masterpiece com André Valle | Surra de Lúpulo #220

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Nana Ottoni

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