Você sabe o que é Bottle Share?
Enquanto discutíamos a ideia de escrever um artigo sobre Bottle Share, nos deparamos com uma questão importantíssima: Como traduzir o termo para o português?
Parece mera divagação, mas um dos grandes desafios do mercado de cervejas artesanais é aumentar a sua base de consumidores, o que passa por tornar o conhecimento mais acessível. Por isso, linguagem é uma questão estratégica. Quando falamos de Bottle Share, será que podemos chamar de “Racha Breja”? “Comunhão Cervejeira”? “Degustação colaborativa”?
Não chegamos a nenhuma conclusão, mas esperamos que as divagações desse texto nos guiem naturalmente a uma forma abrasileirada de nomear essa prática que, ainda que venha dos meios mais eruditos da sommelieria, tem tudo de Brasil: Guarda em si a cultura do compartilhar e do saborear bons momentos em boa companhia. Coisa nossa.
Antes de irmos ao mérito do artigo, apresentemos os colunistas, já que esse artigo foi escrito a 4 mãos: Madu Victorino, Embaixadora de Cultura Cervejeira da Estrella Galícia e Preta Cervejeira. Mauricio Tkatchuk (@mau_cervejando), tem formação de Sommelier de Cervejas e Tecnologia de Produção Cervejeira, atua na área de Tecnologia e Novos Negócios. Amigos apresentados pela cerveja, e que — entre tantos pontos em comum — seguem tendo o amor à cerveja como principal pilar da amizade. Em segundo lugar, vem o gosto pela fofoca. É algo que funciona como uma espécie de argamassa social, assim como cerveja de 600mL. Tá aí, mais uma coisa bem brasileira.
Ocorre que, tanto para um profissional do meio, quanto para um hobbista, na maioria das vezes não é fácil provar e conhecer tudo quanto se gostaria, entre as centenas de estilos e milhares de rótulos que há por aí. Seja por questões geográficas, custo, ou mesmo pelo mero fato de que não tem graça alguma beber uma cerveja cara, rara ou de qualidade excepcional sozinho, é fato: Dividir é sempre melhor.
Por isso, o Bottle Share ou degustação colaborativa (testando 1, 2, 3). A prática em que cada um traz para o grupo uma ou mais garrafas de alguma cerveja muito especial, e todos tem a chance de provar um pouco de cada rótulo, permitindo conhecer novos sabores e fazendo com que a cerveja seja elo entre todos que estão desfrutando o momento. O que, para nós, deve ser sua principal função. Alguns ciclos mais dedicados de sommeliers e beer geeks fazem disso uma prática organizada em confraria, com regras pré-definidas, como quantidade de garrafas por participante, regras para trazer convidados, e número máximo de confrades.
Mas não é necessário fazer parte de uma confraria para participar de um Bottle Share.
Acreditamos que basta encontrar pessoas dispostas e que compartilham os valores – humanos e de apreciação pela cerveja – e marcar. Sobre qual cerveja levar, há algumas possibilidades:
• Cervejas de guarda. O mais difícil é conseguir esperar anos para provar uma cerveja. Mas se você conseguiu, a dica de ouro é degustar safras diferentes para avaliar a evolução sensorial de cada uma. É o que se chama de degustação vertical;
• Rótulos de cervejarias de outros estados ou países, adquiridos em uma viagem, e que normalmente não se teria acesso tão facilmente na própria cidade. Interessante especialmente para conhecer receitas diferentes e regionais;
• Cervejas experimentais que nunca foram vendidas, mas que alguém consegue com o amigo que tem uma cervejaria ou mesmo produz em casa. Essa pode dar muito certo ou muito errado, mas pela exclusividade do rótulo, vale colocar para jogo;
• Lançamentos que se esgotaram rapidamente e poucos tiveram acesso;
Enfim, sabe aquela cerveja (ou vinho, ou qualquer bebida) que a gente considera tão especial que fica guardada por meses ou anos, por que temos dó de beber? É essa que você vai levar para o Bottle Share! E vai ver que a experiência de não deixar a vida para depois e ainda compartilhar esse momento com amigos, tem um valor imensurável.
Para os sommeliers, e os iniciados na degustação e serviço de cerveja, também recomendamos aproveitar a ocasião para não só degustar o líquido, como colocar o serviço em prática. Tirar as taças mais bonitas da cristaleira, lavá-las cuidadosamente e trocá-las entre cada rótulo, praticar técnicas diferentes como a sabragem, e principalmente: Degustar com calma e atenção, compartilhando impressões e ajudando uns aos outros a enriquecer sua biblioteca sensorial e afetiva.
Vale também pensar a cerveja não só no contexto sensorial, mas de uma forma mais ampla: Quem produz aquela cerveja? Qual a sua história? Como a cervejaria se posiciona no mercado cervejeiro, e quais valores eu compartilho ou não com ela? Essas são reflexões que, acreditamos, também contribuem em muito para o desenvolvimento do mercado de cervejas artesanais, mais do que somente beber.
Enfim, o Bottle Share é a prática de compartilhar mesas, garrafas e conhecimento. Dividir para somar. E por isso acreditamos que merece um nome em português à altura. Que tal Partilha Cervejeira?
Deixamos a escolha do nome para vocês!