No programa de hoje do Surra de Lúpulo, vamos atender a mais um pedido dos nossos Mecenas e explorar o Caso da cervejaria Masterpiece, e para isso chamamos ninguém mais, ninguém menos do que o CEO, André Valle, que é engenheiro, gestor de projetos, professor e coordenador acadêmico. Ouça na íntegra: 

 

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Caso da cervejaria Masterpiece

 

Como foi o nascimento dessa cervejaria e quais eram os primeiros planos, objetivos e desafios?

 

Eu posso dizer que a gênese da Masterpiece começou em 1988, quando fui fazer uma viagem de mochila na Europa por 60 dias”

 

André  relata que a inspiração para a criação da empresa começou em 1988, durante uma viagem de mochila pela Europa. Estudante de engenharia na época, ele visitou a antiga fábrica da Heineken em Amsterdã e ficou fascinado pelo processo de fabricação da cerveja, apesar das dificuldades financeiras e do peso extra ao carregar copos de lembrança pelo resto da viagem.

Formado em engenharia e atuando com normas técnicas na ABNT e na ISO, André participou de uma plenária em Portland em 1997, onde foi introduzido ao mundo das microcervejarias locais. Impressionado com o movimento crescente da cerveja artesanal nos EUA, ele acompanhou seu desenvolvimento ao longo dos anos.

Em 2016, durante uma feira de tecnologia em Las Vegas, ele teve um insight sobre o futuro das aulas presenciais ao experimentar uma imersão em realidade virtual. Percebendo a inevitável transformação digital acelerada pela pandemia, que mudou a maioria das aulas para o formato online, ele decidiu revisitar a ideia de abrir uma cervejaria, mesmo sem saber ainda como produzir cerveja, reconhecendo a necessidade de aprender o processo para não ser enganado pelos fornecedores.

 

Eu me inscrevi no curso de cervejeiro caseiro lá na Boêmia e comecei a fabricar cerveja para os meus amigos do motoclube e a primeira cerveja foi uma APA que a gente fez lá e aí a gente começou, a gente chamou ela de ferrugem exatamente pela cor acobreada dela, então toda cerveja que a gente fazia a gente botava um nome assim e esse copo aqui é muito específico porque esse ia ser o nome da Masterpiece, Beer to the Bone”.

 

Em 2018, iniciaram o planejamento detalhado da fábrica e, após obterem todas as licenças, começaram a construção em janeiro de 2019, concluindo em novembro do mesmo ano. A inauguração estava marcada para 21 de março de 2020, mas foi cancelada devido à pandemia.

Para enfrentar a situação, André implementou um sistema de delivery em duas semanas, o que salvou a empresa no início da pandemia. Eles ainda não fizeram a inauguração oficial, mas adaptaram suas estratégias de venda, incluindo a criação de latas para supermercados.

Ao desenvolver a marca, decidiram lançar duas linhas de produtos: a linha clássica, com os seis estilos mais vendidos no Brasil e uma cerveja zero, e a linha premium, com cervejas especiais, como a Mona Lisa, uma Catarina Sour com morango e ciriguela, que se tornou a segunda cerveja mais premiada da empresa. A linha clássica foi comparada a Volkswagen, e a linha premium, a Audi, ambas fabricadas pela mesma cervejaria, mas com propostas diferentes. Essa estratégia de marketing foi crucial para adaptar a empresa às novas circunstâncias.

 

Vocês são uma cervejaria localizada em Niterói, como funciona o posicionamento de vocês em relação a distribuição? O foco está no mercado local ou em atender a todos os lugares?

 

A legislação de Niterói favorece [cervejarias]. Praticamente você pode ter cervejaria em qualquer lugar da cidade, exceto em três ruas”.

 

André escolheu Niterói para sediar a cervejaria porque mora na cidade e queria evitar o desgaste diário da ponte Rio-Niterói. A legislação local é favorável, permitindo a instalação de cervejarias quase em toda a cidade, pois a atividade é vista como não poluente e silenciosa. Além disso, Niterói tem o maior IDH e a maior renda per capita do estado do Rio de Janeiro, e está a apenas 14 quilômetros do Rio de Janeiro, o que facilita o acesso a consumidores e pontos de venda. Apesar de sediada em Niterói, a Masterpiece visa atender o mercado nacional, incluindo São Paulo, através de e-commerce. A expansão começou localmente com bares licenciados em Niterói, São Gonçalo e Maricá, permitindo um crescimento gradual e a conquista de novos mercados.

Mas para além de tudo isso, em 2019, a Masterpiece decidiu participar do Mundial para lançar sua marca, mesmo com a fábrica ainda não pronta. As cervejas foram produzidas em uma cervejaria cigana na Favela da Maré, com a ideia de mostrar o progresso da fábrica em construção. Durante esse período, a marca não estava comercializando produtos, pois a prioridade era finalizar a fábrica.

Em 2020, a Masterpiece precisava se diferenciar das cervejarias tradicionais. André, orientando uma tese de doutorado sobre sustentabilidade, teve a ideia de focar nesse aspecto para se destacar. Inspirado por um artigo de Barry Ness, que analisava as 70 cervejarias mais sustentáveis do mundo, André decidiu seguir todas as recomendações do estudo. Isso levou a Masterpiece a adotar práticas como igualdade de gênero, resultando em metade da equipe feminina, e buscar diversas certificações de sustentabilidade.

A Masterpiece se tornou a primeira fábrica do Brasil a obter a certificação de empresa B, certificação de carbono neutro, e lançou a primeira lata com o selo ASI no mundo. André enfatizou que a sustentabilidade seria o diferencial da empresa, o que gerou críticas, mas ele se apoiou nas evidências e certificações para provar o compromisso da Masterpiece com práticas sustentáveis, convencendo até os mais céticos.

 

Já conversamos com a Ingrid Matos no episódio 92 e comentamos o volume de prêmios que ela e a Masterpiece já conquistaram, conta pra gente sobre o quanto isso é planejado e estratégico para vocês?

 

André explica que a Masterpiece adota uma abordagem de gerenciamento de projetos, tendo criado o Projeto Muttley, focado em ganhar medalhas em concursos cervejeiros para certificar a qualidade e inovação dos seus produtos. Em quatro anos, ganharam 111 medalhas, tornando-se a cervejaria mais premiada do Estado do Rio. Contudo, em 2024, estão participando menos de concursos para focar na expansão da produção de 70-80 mil litros para 550 mil litros em 12 meses.

André destaca a vantagem do Rio de Janeiro de não ter um inverno rigoroso, mantendo uma demanda constante por cerveja ao longo do ano. No entanto, Niterói enfrenta uma sazonalidade negativa nos meses de janeiro e fevereiro, quando muitos moradores saem de férias, reduzindo as vendas pela metade. Para combater essa sazonalidade, a Masterpiece busca expandir seu mercado para outros estados.

As medalhas são estratégicas para afirmar a qualidade da cervejaria. No último Mundial de Laber, exibiram suas 111 medalhas para destacar essa qualidade.

 

Além da Masterpiece, a fábrica de vocês produzem outras marcas, no caso a Máfia e a Maldita, conta a história de cada marca e quais são os objetivos e estratégias de cada uma?

 

André explica sobre a relação da Masterpiece com a Mafia, uma fábrica de cervejas em Niterói que existe há oito anos. Os sócios da Mafia, que também são grandes contadores, decidiram fechar a cervejaria devido à falta de prioridade e desânimo durante a pandemia. André viu uma oportunidade e propôs uma parceria, comprando metade da Mafia em 2022 e unificando processos para ganhos de escala. Um ano depois, adquiriu a totalidade da Mafia. Ambas as cervejarias operam de forma independente, compartilhando recursos, e até competem entre si, semelhante ao modelo de marcas da Ambev.

 

👉 Ouça também: Surra de Lúpulo #216: A história das Alewives

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Nana Ottoni

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