No episódio de hoje do Surra de Lúpulo, Ludmyla e Leandro batem um papo sobre os primórdios das cervejas artesanais no Brasil com Juliano Mendes, fundador da cervejaria Eisenbahn e dono da queijaria Pomerode. Ouça na íntegra:  

 

 

A Eisenbahn e a história das cervejas artesanais

 

história das cervejas artesanais
Divulgação Eisenbahn

 

A Eisenbahn foi fundada em 2002, em Blumenau, num Brasil que se mostrava indiferente às cervejas artesanais, de personalidade. Com isso em mente perguntamos para Juliano o que o levou a entrar no ramo cervejeiro de um jeito tão diferente da época.

 

Juliano em 5’30’’: A ideia de montar uma cervejaria veio de morar no centro de Blumenau. Por quê digo isso? Porque Blumenau é uma cidade colonizada por alemães, então temos uma influência e referência muito forte da Alemanha por causa de suas cervejas. A gente associa sempre Alemanha à cerveja. É uma coisa muito forte e é uma coisa que acabou sendo um componente importante nessa história. Aí a gente soma ao fato da cidade ser colonizada por Alemães e ao fato de existir a Oktoberfest de Blumenau. A Oktoberfest [de Blumenau] já tem alguns anos e sempre foi dominada por marcas nacionais – com cervejas de pouca personalidade, pouco lúpulo, etc. E não existia cervejaria na cidade e isso incomodava a gente, porque vinham muitos turistas na cidade que achavam que iam pra Oktoberfest Blumenau e iriam beber a cerveja local. Então a gente percebeu uma frustração porque as pessoas não encontravam isso aqui – elas encontram as cervejas que se encontram em qualquer mercado. Isso tudo gerava um certo incômodo. Como que a nossa cidade não tem a nossa cervejaria?  Afinal, na Oktoberfest da Alemanha, só as cervejarias de Munique podem entrar na festa. 

 

Juliano conta que terminou a faculdade e decidiu ir para Boston para fazer a pós-graduação e lá, conheceu Samuel Addams, do cervejeiro Jim Koch. Ele ficou fascinado pelo modo com que os moradores de Boston sentiam orgulho da cervejaria Samuel Addams ser de lá – aquela sensação de time de futebol em que as pessoas torcem para que dê certo. Então nosso convidado sentiu vontade de ver o mesmo acontecer em Blumenau e decidiu entrar no ramo das cervejas artesanais. 

 

Como era a cena das primeiras cervejas artesanais?

 

história das cervejarias artesanais
Divulgação Eisenbahn

Juliano em 11’08’’: Quando a gente começou a investigar, percebemos que pouquíssimas cervejarias artesanais estavam tentando fazer cervejas especiais. Mais de 90% delas estavam tentando fazer a nova Skol, que era a cerveja que vendia na época. Evidentemente era uma grande receita pro fracasso. 

 

Ele entendeu que para ganhar respeito local, precisava começar a vender fora da própria cidade e com isso correu atrás para vender em diversos pontos de venda. Um grande sucesso foi conseguir vender no Pão de Açúcar – que só vendia cervejas de grandes conglomerados – e aceitou a proposta da Eisenbahn justamente para aumentar a diversidade de suas vendas. 

 

O que significou pra Eisenbahn ganhar os prêmios?

 

Divulgação Eisenbahn

 

Juliano em 22’22”: Naquela época não existia aquela coisa de participar de concurso ainda. Não existia concurso no Brasil, só lá fora. E como a gente acompanhava muito as cervejarias de fora pra inspiração e referências, a gente viu que tinham concursos na Europa, nos EUA também, e a gente resolveu mandar [nossa cerveja]. Porque imagina, quando começamos toda cervejaria tinha mais de 100 anos e a gente tinha acabado de começar. A gente pensava, como vamos passar credibilidade pras pessoas? Então a gente precisava de um aval de alguma forma e o concurso serviu pra isso – se for internacional e na Alemanha, melhor ainda. 

 

Depois de uma tentativa falha em 2007, a Eisenbahn tentou a sorte novamente em 2008 para ver como sua cerveja sairia no concurso alemão. Juliano conta que um belo dia recebeu um e-mail convidando a Eisenbahn pra receber o prêmio de melhor cerveja. Como Juliano disse, eles não acreditam no produto perfeito. O que é importante não é achar que iriam fazer a cerveja perfeita, mas sim que querem fazer a cerveja perfeita. 

 

De onde veio essa guinada pra produção de queijos?

 

 

Juliano em 30’31’’: A gente está fazendo queijos especiais e isso se deve à cerveja. Em 2006, meu irmão e meu pai, foram ao Craft Beer Conferente, nos EUA, e assistiram uma palestra de um cervejeiro e queijeiro e o tema da palestra dele era a harmonização da cerveja com queijo. Ele acreditava que o mercado como um todo costumo harmonizar queijo só com vinho e na concepção dele tinha um erro – porque ele acreditava que queijo combinava ainda mais com cervejaria. Aí eles voltaram [da conferência] e nós fomos às queijarias e ficamos bebendo e provando cada queijo com cada cerveja pra tentar chegar na conclusão se combinava mesmo. Foi uma experiência fantástica! […] É quase unanimidade hoje, pra quem estuda o assunto, que realmente as cervejas são mais versáteis e mais fáceis de harmonizar com queijo do que com vinho. 

 

Juliano explica ainda que o queijo e a cerveja caminham juntos desde a idade média, produzidos por padres. Além da fermentação que ocorre em ambos os produtos. Onde se fazia queijo, também se fazia cerveja. Apesar do vinho ter monopolizado as zonas de degustação, a cerveja está retomando esse espaço.

 

Quais conselhos você dá aos nossos ouvintes que desejam empreender?

 

Juliano em 38’53’’: A sorte só aparece pra quem procura. Vou dar um exemplo, eu e meu irmão fomos fazer curso de queijeiros e 2 anos depois fomos pro congresso americano de queijos artesanais. Quando fomos fazer esse curso, que é básico – o beabá, estava na nossa sala o queijeiro mais respeitado dos estados unidos, o mais premiado… O cara. E ele estava na nossa sala e era aluno. A gente não conhecia ele e o conhecemos naquele momento. Os professores ficavam querendo o aval dele sempre que falavam alguma coisa. Enfim, não entendemos o que ele estava fazendo lá. Dois anos depois fomos ao congresso do queijo e nos encontramos com ele; enquanto falávamos com ele, um amigo dele foi cumprimentar e ele nos apresentou, aquele era o Ivan, consultor de queijo. Enquanto ele nos apresentava, o cara falou “ele é o melhor do mundo”. 

 

Juliano continua explicando que voltaram para o Brasil depois do congresso, mas que o consultor de queijo os deixou na mão e fugiu. Sem hesitar, ele entrou em contato com Ivan – o melhor do mundo – e conseguiu de ter aulas particulares de produção de queijo com ele. Foi um treinamento intensivo com o queijeiro profissional. Nosso convidado reforça que a sorte apareceu porque ele deu a cara a tapa, foi ao congresso, foi a outros cursos e conheceu pessoas do ramo. 

 

 


 

 

👉Ouça também Surra de Lúpulo: Cervejaria Local com Pedro Miranda e Rafael Leal

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