Introdução: por que esse papo importa
Nem todo episódio de podcast nasce para virar texto, mas este pede. No Surra de Lúpulo, Ludmyla Almeida e Henrique Boaventura comentam a entrevista com Amélie Tassin, fundadora do Women in Beer no Reino Unido, e assim abrem uma janela para entendermos como uma comunidade feminina tem enfrentado sexismo, ampliado pertencimento e criado caminhos concretos de formação, visibilidade e influência na indústria da cerveja no Reino Unido — com lições diretas para o Brasil.
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Quem são e de onde vieram
Criado há 7 anos, o Women in Beer reúne mulheres que gostam de cerveja e profissionais do setor. O primeiro encontro, em 2018, juntou quatro pessoas; hoje, já são cerca de 700 membros no grupo de Facebook (além de inscritas por e-mail), inclusive com gente de fora do Reino Unido, que organiza encontros quando está de passagem por cidades como Edimburgo. Nasceu de algo simples — fazer amigas e ir ao bar juntas — e cresceu para rede de apoio a quem quer entrar, permanecer e progredir na indústria.
Rede de apoio: do primeiro brinde à carreira
Ir ao bar com outras mulheres não é detalhe. Em muitos contextos (inclusive no Brasil), a presença feminina em mesas de bar ainda é minorizada. Logo, grupos como o Women in Beer dão respaldo, reduzem a intimidação em ambientes historicamente masculinos e criam pertencimento. E, apesar de um conjunto que pressupõe o auxílio presencial, o contato digital em nada atrapalha, potencializa: facilita o acesso, capilariza a comunidade e sustenta trocas que não dependem apenas do encontro físico.
O retrato da desigualdade que ainda persiste
Segundo relatórios citados por Amélie da Society of Independent Brewers and Associates (SIBA, associação britânica dos independentes; no debate, comenta-se a adoção do termo “indie” para diferenciar do “craft”, que foi apropriado por grandes grupos), apenas 8% dos empregos e 23% dos cargos de gestão são ocupados por mulheres. Há sexismo e assédio que ainda afastam e desestimulam carreiras. Avanços existem, dos códigos de conduta em festivais às políticas internas de diversidade e inclusão, mas o caminho é longo e exige esforço contínuo, escuta e implementação diligente pelas organizações.
Para Amélie, a indústria tem um problema de imagem: a cerveja segue comunicada “como coisa de homem”. E isso exclui metade da população — inclusive quem muitas vezes decide a compra no supermercado. A solução passa por mostrar diversidade nas campanhas, sites e redes: mulheres, pessoas negras, asiáticas, pessoas com deficiência e neurodivergentes, faixas etárias variadas. Pois representar é convidar!
Mentoria que forma — e paga
Lançado em 2023, o programa de mentoria do Women in Beer reuniu 24 mulheres de toda a cadeia: produção, vendas, marketing, escrita, podcasts, embalagens, química e controle de qualidade. Ele é conduzido em três sessões com mentora dedicada, oportunidades de aprendizado e networking, viagem de campo para fortalecer laços. E aqui entra um ponto crucial: ele tem os custos pagos para participantes. Assim, a trilha inclui formação como o WSET Nível 1 em Bebidas, oferecendo base técnica. E defende, nessa linha, um princípio que o Surra endossa: o de que “ninguém deveria trabalhar de graça”. De modo que as mentoras são remuneradas!
Influência na indústria: da consultoria às boas práticas
O Women in Beer ainda é convidado por entidades setoriais para apresentar o que faz e compartilhar boas práticas de inclusão. Um aconselhamento que vai além de questões de gênero e abrange pessoas com deficiência e neurodivergência. Mas há uma condição para funcionar: organizações precisam ouvir e implementar. É, afinal, uma via de mão dupla entre quem aconselha e quem se compromete com a mudança.
Como viabilizam tudo isso
Além do esforço das fundadoras e apoiadoras desde o início, o Women in Beer atraiu empresas de insumos como Simpsons, Barth-Haas e Yakima Chief, que apoiam a organização de um festival, os trabalhos de mentoria e a distribuição de prêmios por parte da organização. Há ainda financiamento recorrente via plataformas do tipo Patreon e apoio de entidades comerciais.
Não dá pra deixar de sublinhar aqui um lembrete poderoso do episódio: mulheres em cargos de decisão dentro de grandes empresas puxam a fila e ajudam a tirar projetos do papel!
The Awards: visibilidade que vira futuro
O Women in Beer Awards chega com 10 categorias que cobrem toda a indústria (produção, rede de apoio, comunicação, hospitalidade e mais). A meta é dar palco a mulheres que moldam o setor, combater a síndrome da impostora e encorajar candidaturas a prêmios tradicionais. Premiações específicas criam awareness, geram notícia e circulação e podem abrir portas — inclusive inspirando categorias em festivais maiores.
Brasil no espelho: o que podemos fazer já 🇧🇷
O papo do Surra reconhece avanços no Brasil (códigos de conduta, eventos liderados por mulheres, premiações próprias como o Lúpulo de Ouro), mas também a falta de uma estrutura organizacional do porte do Women in Beer. Assim, caminhos práticos possíveis surgem do episódio:
- Comunicação inclusiva que convide quem ainda não se vê no bar nem na propaganda.
- Mentorias com foco técnico e remuneração das mentoras.
- Coalizão de lideranças femininas para patrocínios e bicos de alavanca.
- Prêmios e vitrines que institucionalizem a visibilidade.
- Alcance digital para capilarizar encontros e oportunidades.
Conclusão — diversidade não é ornamento, é estratégia
O Women in Beer mostra que pertencimento começa no balcão, mas se consolida com formação, rede, financiamento e influência. Há dados duros sobre desigualdade, mas também mecanismos concretos para virar o jogo: marketing que inclui, mentoria que paga e conecta, prêmios que iluminam trajetórias e organizações que escutam e implementam.
Se queremos um mercado vivo, diverso e sustentável, a conta é simples: mais vozes, mais portas de entrada, mais palco, mais segurança. O convite final da Amélie deixa o gancho perfeito: abrir um capítulo do Women in Beer no Brasil seria um passo natural — e urgente. Quem vem junto? 🍻