O Surra de Lúpulo recebe Teresa Yoshiko, do Viveiro Ninkasi, para falar de seu trabalho primordial para a legalização do plantio de lúpulo em território brasileiro.

Um pouco mais sobre Teresa

Teresa Yoshiko é filha de imigrantes japoneses e trabalha com plantio há muitos anos. Formada em Técnicas Agrícolas, Teresa concentrou seu conhecimento em sementes e hortaliças por 30 anos, até ser apresentada ao lúpulo, e ficar completamente fascinada, sendo pioneira no desenvolvimento do lúpulo brasileiro e criadora do Viveiro Ninkasi.

 

Eu comecei a fazer umas pesquisas né, e o Lúpulo, eu costumo falar que ele tem uma energia enigmática que te aprisiona, na verdade. Quando você começa a estudar, você não consegue parar mais. E, agronomicamente falando, o lúpulo é uma planta super interessante porque, você imagina, é uma planta que cresce 30 cm por dia, que você tem que olhar pra cima, mais de 7 metros pra ver o ponto de colheita e tudo o mais.

 

Teresa reforça que estudou o lúpulo por 1 ano para entender suas diversas vertentes e que, quando se deu conta, estava com mais de 10 mil mudas de lúpulo em seu viveiro – até descobrir que o lúpulo ainda não tinha seu cultivo legalizado em solo brasileiro.

 

Eu tinha dois caminhos: ou eu incinerava aquilo tudo, ou eu ia procurar algum meio que eu pudesse dar continuidade àquele trabalho. Eu optei pela segunda parte, de dar continuidade naquilo ali – porque eu também não queria jogar aquilo tudo fora. (…) Quando eu estava com 10 mil mudas de lúpulo dentro do meu viveiro, já tinham passado mais de 1 ano e 3 meses de pesquisa. Aí eu pensei: “ah, agora, vamos dar continuidade pra isso, né?” E foi o que eu fiz. O lúpulo é uma planta muito resistente, e ele te encanta. Desde o início até o final da colheita, quando ele te entrega um cone, com aquele aroma, [e tudo o mais]. Então, realmente, a gente se apaixona.

 

A legalização do lúpulo brasileiro

 

Foto de várias flores de lupulo dentro de um copo de cerveija
Foto de ELEVATE no Pexels

 

Quando se tem uma cultura plantada dentro de terreno próprio que não é legalizada no país e a fiscalização bate, que é o que acontece com o lúpulo, o agricultor é autuado. Ao contrário do que ocorre com o cultivo da cannabis, em que, além de autuação ocorre a perda do terreno, no caso do lúpulo, apenas a multa acontece.

 

Depois disso tudo, eu descobri que o lúpulo não tinha passado pela análise de risco e de pragas, então legalmente ele não poderia ser produzido. E quando eu soube disso, contratei uma pessoa que entende dessa legislação que pudesse me ajudar.  De tanto que eu perturbei, quando fui recebida eles falaram: “olha, o que tá acontecendo aqui hoje é que, em vez de o ministério da fiscalização  ir num campo de um produtor e autuar ele, estamos recebendo um produtor que está fazendo a coisa errada, mas que quer fazer de forma correta e pedindo orientação.” Foi o caminho inverso, e ele falou assim: hoje, nós temos o dever moral de resolver essa situação. Até eles resolverem que o lúpulo poderia ser plantado, eu tive que passar por vários processos; comecei por Brasília (o ministério de Brasília), vim pro Rio (na secretaria do Rio), depois passei pelo comitê das sementes e mudas. Tive que provar o que que era lúpulo, pra que que ele servia… Eu carregava um monte de gente (…) pra poder falar junto comigo. E também pedi várias cartas das associações da cerveja – Cerva, Abracerva, da Rota Cervejeira – e todo mundo foi me dando várias cartas pra dizer qual era a importância do mercado de lúpulo. Até que eles entenderam que era uma cultura importante para a economia do país. Porque o lúpulo até então era 100%  importado. Se nós [quiséssemos] ser respeitados por outros países que já estão produzindo lúpulo, nós teríamos que ter um material aqui dentro que tivesse origem. Que nós pudéssemos comprovar tudo isso. 

 

Em Junho de 2020 houve a legalização das mudas com origem: era necessário que fossem in vitro e de procedência dos EUA, por conta do acordo de análise de risco de pragas. No momento em que houve a liberação, Teresa começou o processo de importação das mudas. 

 

Como está a cena do cultivo de lúpulo brasileiro?

 

Foto de ELEVATE no Pexels

 

No Brasil, já existem culturas que já estão no solo há quatro anos. Pela análise de óleos, a gente considera uma planta adulta a partir do terceiro ano. A cada colheita, a planta dá um tipo de óleo. Atualmente já existem plantios no brasil em que o produtor está conseguindo 3 colheitas por ano. O lúpulo já chegou à maturação a partir da terceira safra. Os lúpulos mais plantados no país são do tipo Cascade, Columbus, Loki, Comet e Nugget…

 

Teresa ainda conta que, no Brasil, há uma produção de lúpulo do tipo Comet com uma fragrância até mais forte do que o padrão estadunidense, sendo, portanto, superior ao lúpulo internacional. Por conta da qualidade superior, não seria necessário comprar tanto lúpulo desse tipo para fabricação de IPA – a qualidade vale, no caso, mais do que a quantidade

 

Teve uma palestra que eu assisti no Rio, que a pessoa estava falando que, depois de várias análises feitas do lúpulo brasileiro, ela viu que o nosso lúpulo tinha óleo de bergamoteno – um óleo raro, que não é encontrado tanto nos outros países. As análises que fizeram aqui do lúpulo no Brasil [indicaram] uma quantidade muito boa. Quando ele fez essas publicações, chamou atenção de vários países. Então, ele falou que já tem muitos países querendo comprar o nosso lúpulo, pra fazer altas cervejas lá fora.

 

Mapa do Lúpulo no Brasil

 

Foto de uma mão segurando uma taça com cerveja ipa
Foto de Karolina Grabowska

 

Teresa acredita que, em 4 anos, nossa produção de lúpulo estará a todo vapor, com crescimento surpreendente. Tudo indica que isso também aumentará a quantidade de hectares dedicados ao cultivo da planta. 

 

Acredito muito que a autossuficiência vai acontecer em algum momento. Mas vamos pensar que até há pouco tempo 100% do lúpulo era importado, e agora 99% é importado e 1% é produzido aqui. Ainda é muito pouquinho. Pelo último levantamento que o mapa fez, nós temos 47,8 hectares de lúpulo plantado e isso, pra quantidade que é consumida dentro do país, é quase nada; então é um mercado muito grande. Mas o que a gente vê também é que existem muitas entidades governamentais que estão muito interessadas em que o lúpulo dê certo aqui nesse país. 

 

Hoje temos produção de lúpulo da região Norte à Sul do país, com doações de mudas de Yoshiko, a fim de  incentivar as pesquisas. Acredita-se que é possível cultivar o lúpulo de ponta a ponta do território nacional, desde que se escolha o modo correto de cultivo.

O Brasil pode vir a ser uma potência na produção de lúpulo mundial?

De acordo com Teresa Yoshiko, o Brasil tem a capacidade de tornar-se uma potência global de produção de lúpulo. 

No momento, existem diversos pesquisadores estudando para que essa idealização venha a se tornar uma realidade. Como consumidores, precisamos acreditar no lúpulo brasileiro e apoiar seu plantio. Fale com aquele bar perto da sua casa e incentive a compra de cervejas nacionais, principalmente as artesanais. Cervejeiros do brasil, uni-vos! A produção do lúpulo nacional está contando com você.  

Quer saber mais sobre o lúpulo? Ouça também Surra de Lúpulo Ep.32 e Surra de Lúpulo Ep.70

 

SURRA DE LÚPULO é apoiado por MECENAS EMPRESARIAIS, CERVEJA DA CASA e BRO’S BEER.

 

Surra de Lúpulo

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