No episódio de hoje do seu podcast favorito sobre cervejas artesanais, Ludmyla e Leandro batem um papo incrível com Gabriel Fortuna e Felipe Wigman, que estão ajudando a avançar as pesquisas sobre o cultivo do lúpulo brasileiro. Ouça na íntegra!
O lúpulo brasileiro e nossos convidados:
Gabriel em 7’10”: Vendo o Globo Rural em 2016, vi Rodrigo Veraldi, de São Bento do Sapucaí, contando sua experiência com o lúpulo – o lúpulo Mantiqueira – que foi o primeiro lúpulo produzido no Brasil, né. Então eu, que já era do universo cervejeiro, me questionei quem que pode resolver essa questão de plantio de lúpulo no brasil é a minha profissão, os agrônomos. […] Em 2017 comecei a pesquisar muito de maneira caseira, e em 2018 escrevi um projeto de pesquisa que foi aprovado e fui pra UNESP, onde iniciei um projeto de pesquisa de lúpulo na universidade. […] Em 2019, criei o Brazuca Lúpulos para divulgar nosso trabalho no Instagram e dando assistência técnica aos produtores.
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Felipe em 9’09’’: O Gabriel seguiu o caminho da academia e eu segui o caminho empreendedor, né. […] Estive no grupo dos pioneiros da Mantiqueira e fiz um processo de ir atrás de informação, então sempre viajei muito. […] Comecei a ir atrás de aprender com quem já sabia fazer e aí entramos no processo de como viver de mudas, importar, exportar pro brasil. Enfim, estamos desde o começo, mas correndo em paralelo ao Gabriel. Acho muito bonito esse fatídico Globo Rural que plantou uma sementinha em muita gente diferente. Essa é a nossa trajetória e fomos evoluindo e hoje em dia somos um viveiro de lúpulo.
O que tem sido desenvolvido para o cultivo do lúpulo brasileiro?
Gabriel em 14’27’’: Sem dúvida, a principal tecnologia é a inserção da iluminação artificial no cultivo do lúpulo. No Brasil, a gente não tem o suficiente de sol que o lúpulo precisa. Isso é algo que a gente nunca conseguiria ter sem a iluminação dos campos – a suplementação de luz. E é claro que isso acompanhou outros manejos, como desenvolver cada variedade de lúpulo específico.
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Felipe em 16’40’’: Em termos de inovação, acho que esse pessoal que tá no campo, tudo o que eles estão fazendo é inovação. Se você pensar que, sei lá, o lúpulo existe a dois mil anos, a quanto tempo está sendo produzido, comercialmente a muito tempo, era tudo baseado numa certa realidade de luz, de água de tudo. Então tudo o que está vindo daqui é inovação. Então essa turma que tá escrevendo a demanda de água, demanda de luz… […] Aqui no Brasil a janela de colheita é 3 vezes maior, com isso você acaba diminuindo a necessidade de maquinário para 1 ⁄ 4. É surreal.
Gabriel complementa que se os pesquisadores brasileiros estivessem usando os livros regulares de plantio de lúpulo, não existiria lúpulo no Brasil. As condições ideais são adversas, mas com muita pesquisa é possível o plantio de lúpulo em território nacional.
Qual tem sido o papel dos produtores de lúpulo brasileiro pra fisgar as cervejarias artesanais?
Felipe em 22’08’’: Sobre a nossa perspectiva, a gente entendeu o nosso gargalo, né. […] A gente tá vendendo bastante projeto, muitos campos, pessoas profissionais… Mas ao mesmo tempo estava de olho em quem ia consumir isso [essa quantidade de lúpulo] vendo que estávamos ligeiramente descompassados. Enquanto tem pouco produtor é uma coisa, no téte a téte funciona, a gente faz uma session aqui e uma session acolá. E aí a gente percebeu que tinha essa sensação de que não tava muito ajeitado e organizou um seminário que se chama Primeiro Seminário internacional do Lúpulo e que a ideia era debater tecnicamente não só assuntos técnicos de produção de lúpulo, mas principalmente debater estratégias de como colocar isso no mercado. Trazer essa conta pra mesa.
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Gabriel em 24’30: O primeiro seminário realmente foi incrível. Foi muito importante porque precisamos pensar que estamos competindo com o lúpulo americano, lúpulo alemão […] Hoje a gente consegue colocar o lúpulo no mercado com o mesmo preço do importado, mesmo com todas as taxas. Mas não adianta colocar o lúpulo com um preço mais barato se o nosso lúpulo não tiver uma qualidade compatível com o lúpulo importado. Hoje o que a gente vê é uma ótima qualidade, saindo do campo – a flor.
Como funciona a comprovação da qualidade do lúpulo?
Gabriel explica que o que o beneficiamento do lúpulo envolve desde a colheita, pelagem, secagem, enfardamento e dedetização. Esse processo pode reduzir a qualidade do lúpulo, por isso quanto mais eficiente cada etapa, melhor a qualidade da matéria final.
Gabriel em 30’46”: Hoje a gente já tem trabalhos excepcionais feitos por laboratórios que estão trabalhando especificamente com lúpulo. Então já temos 3 laboratórios no país com serviços para produtores, que trabalham somente com análise de qualidade do lúpulo. Fora também algumas universidades que trabalham com análise. Com a pesquisa a gente tem que fazer muita análise, então a gente desenvolveu análises químicas para pesquisa. […] Esses laboratórios não devem nada aos laboratórios internacionais porque seguem os mesmos procedimentos e o que a gente entrega da análise de lúpulo no brasil é até maior que as informações do lúpulo importado.
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Felipe em 34’55”: O Gabriel expôs aí quais são as brechas, os perigos de perder a qualidade no beneficiamento, né. O que tá acontecendo hoje no brasil, é que essa parte do beneficiamento quem está tendo que cuidar são os próprios produtores, né. Então os produtores que já tiveram um baita trabalho de produzir com qualidade que não é fácil, ainda estão tendo que cuidar da parte de beneficiamento. Então o beneficiamento é isso: quanto menos dinheiro você investe, o seu potencial de perder a qualidade [do lúpulo] é um pouco maior. […] O que o Brasil encara hoje é essa lacuna que talvez seja preenchida com centrais de beneficiamento [de lúpulo].
Como o lúpulo brasileiro tem se adaptado às diversas condições climáticas? E como isso é refletido nas experiências sensoriais?
Gabriel em 40’15”: Cada região é uma luz diferente, a gente tem que entender a adaptação das diferentes variedades naquele local. Hoje o que se faz é a gente planta uma variedade só numa escala muito grande. Porque tem que testar a adaptação dessas variedades. ´Por exemplo, um comet e um cascade são variedades muito plásticas, elas se dão bem em locais mais frios e locais mais quentes. Mas tem outras que sim, vão se desenvolver melhor apenas em locais mais frios. […] Então hoje a gente tá plantando 4, 5 variedades num campo de 1 a 2 hectares. Isso porque o mercado pede variedade.
Existem outros formatos de uso do lúpulo e quais as vantagens de cada aplicação?
Gabriel em 52’59”: O lúpulo in natura, são as flores de lúpulo né, mas tem que ter equipamento, conhecimento. A gente tem o caso da cervejaria nevada, uma das maiores dos Estados Unidos, e eles só usam flor. Mas eles criaram equipamentos para fazer DH para se trabalhar com a flor porque é um processo mais natural. A qualidade máxima do lúpulo será sempre in natura (a flor). […] Hoje, como a gente produz matéria prima, a gente pode fazer extrato. A gente pode fazer óleo essencial também, que você usa 5 gotinhas num barril de 5 litros. […] Você pode ter grandes extratores de óleos essenciais para extrair e vender para cervejaria.
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Felipe em 56’13”: Existem várias coisas modernas, né. Eu estive em Atma e um dia era só pra falar dos derivados do lúpulo e parecia rocket science. Eles estão constantemente buscando subprodutos [do lúpulo].[…] O horizonte é infinito e essa galera lá de fora tá trabalhando muito pra desenvolver isso, mas é o mesmo papo do beneficiamento, a gente tá andando, né…
Obrigada pelo papo incrível Felipe e Gabriel.
Até a próxima!
Ouça também Surra de Lúpulo: Lúpulo Brasileiro com Teresa Yoshiko no viveiro Ninkasi
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O que bebemos no episódio: Felipe bebe russian stout, Gabriel bebe session IPA da cervejaria duas torres, Lud bebe FIL IPA Fresh Hops, Leandro bebe água.
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