No programa de hoje do Surra de Lúpulo, vamos falar sobre a arte e a História da Propaganda Cervejeira através dos tempos. Para assuntos históricos, temos o nosso consultor especial Sérgio Barra, mas conhecido como Profano Graal, Doutor em História Cultural pela PUC-Rio e Sommelier de cervejas, formado pelo Instituto da Cerveja Brasil (ICB). Ouça na íntegra!

 

Como a história da propaganda cervejeira se confunde ou se mistura com a da história da cerveja?

 

Foto de uma alewife historia da propaganda cervejeira
Alewife

Sérgio em 6 ’36”: Tão importante quanto produzir uma cerveja, é saber vender aquela cerveja. As pessoas não vão comprar sua cerveja só porque ela é boa. Tá cheio de cerveja boa por aí. Se você não souber vender seu peixe, não vai conseguir sair do zero. A propaganda da cerveja tem uma história, que da mesma forma que a cerveja se transformou ao longo do tempo, a história da propaganda cervejeira também.

 

Sérgio comenta também que as vestimentas das Alewifes também eram uma forma de propaganda, assim como as vassouras na porta dos pubs.

 

Qual a importância da imprensa para pesquisar a história da propaganda cervejeira?

 

Sérgio em 13’31’’: Essa pergunta é legal porque a gente pode extrapolar ela pra pensar na importância da imprensa como fonte histórica. Porque quando você pensa no trabalho do historiador, você pensa que eles vão trabalhar com documentos oficiais e de cartório, mas não só isso, a imprensa também é uma fonte muito utilizada pelo historiador para estudar. Quando você vai procurar cerveja na imprensa, você tem informações de outra natureza, não mais o capital social e nome dos sócios, mas informações do produto em si, pra quem ele se dirigia, qual era o público da cervejaria. Tudo isso você consegue encontrar nos anúncios de cerveja publicados na empresa. Muitas vezes o tal do branding, a marca que a cervejaria quer consolidar. A pesquisa na imprensa te dá outra natureza das informações que enriquece. Óbvio que é importante saber quando a fábrica foi fundada, nome dos sócios e seu capital, mas é bom poder agregar outras informações. A imprensa permite isso. Hábitos de consumo, público, conhecimento de marca, estilos conhecidos. Mais pra frente, vamos falar sobre a Fábrica de Cerveja Brasileira, de 1984, e vem os nomes dos estilos de cervejas que eles produziam. Então eles produziam Brazilian Imperial Stout, o que é esse estilo? Ninguém nunca ouviu falar. Tem outro estilo também Bairisch Bier.

 

Ao longo do séc. XIX, qual foi a importância da mídia impressa para a disseminação do hábito de beber cerveja?

 

Sérgio em 19’04’’: Antes de mais nada a gente vai falar ao longo do século XIX, imprensa escrita, os jornais. a gente tem quePropaganda de malzbier no jornal prestar atenção porque no começo do século XIX, temos duas novidades no brasil, a chegada da cerveja com a família real, e a imprensa. O nascimento da cerveja e o nascimento da imprensa no Brasil, são contemporâneos. E o primeiro jornal, a gazeta do rio de janeiro, você tem os primeiros anúncios de venda no rio de janeiro. A cerveja só vai começar a ser produzida no brasil, no brasil independente. Então você tem lá nos primeiros jornais, que tinham quatro páginas, e lá quando tinha um espacinho sobrando vinha sempre uma sessão de avisos onde você podia anunciar vendas, e de vez em quando vinha um anúncio de comércio de cerveja. O primeiro anúncio de cerveja foi feito em 18/12/1913. O segundo anúncio só vai aparecer 3 anos depois, em agosto de 1916. Durante muito tempo teremos só anúncios desse tipo, que são em armazéns de secos e molhados. 

 

Leandro comenta sobre os diferentes tipos de informações que se faziam necessárias nos primeiros anúncios e como evoluímos nossa forma de propaganda. Lud comenta sobre os publieditoriais e há um debate sobre quando surgiram os primeiros editoriais desse tipo. Sérgio complementa que os publieditoriais já existiam antigamente, e que o Almanaque Laemmert fazia isso, era uma páginas amarelas da realeza do Rio de Janeiro, suas cervejarias e proprietários. Na sessão de notabilidade, há anúncios pagos de anúncios (página inteira ou meia página).

 

 

Além dos jornais, na virada do século XIX para o XX nós temos outro tipo de mídia impressa que são as revistas ilustradas. Qual a diferença entre essas duas mídias e quais as diferenças nos anúncios de cerveja?

 

Sérgio em 28 ’53”: As revistas ilustradas começam a surgir no último terço do século  XIX, e elas apresentam um projeto gráfico que não era a preocupação dos jornais. A revista ilustrada, o projeto gráfico dá destaque a ilustração, cor e imagens. São nas revistas ilustradas que vão aparecer grandes cartunistas, grandes caricaturistas. Outra característica, as revistas se dedicam muito a costumes, moda e vestimentas, porque ali pode ilustrar os modelos de vestidos de Paris. E aí, a França entra como um modelo de civilização a ser seguido. Apesar de tratar de assuntos variados, as revistas acabam atingindo o público feminino. Nessa época, 1914, não tenho confirmação se já havia comercial de cerveja em revistas ilustradas. […] O anúncio da Malzbier era muito atrelado ao público feminino lá no comecinho.

 

Lud comenta sobre a construção do hábito de consumo da cerveja, e Sérgio fala sobre o anúncio da cerveja como uma bebida benéfica à saúde, algo que acontecia por todo o mundo no momento. Outro ponto importante levantado é sobre quem patrocina pesquisas que tentam provar que cerveja faz bem para a saúde, e como o assunto beber com moderação deve sempre estar na boca dos comunicadores cervejeiros além das marcas. Sobre a mudança das propagandas cervejeiras ao longo do tempo, Leandro e Lud relembram marcas que fizeram repaginação de antigas propagandas que possuíam um viés misógino.

Propaganda da Skol repaginada com uma personagem feminina de pele preta retinta, cabelos azuis longos e cacheados e em cima escrito redondo é sair do seu passado

 

 

Sérgio em 45 ’25”: É importante dizer que a campanha da Lei Seca também existiu no Brasil e as indústrias de cerveja, naquele momento, como elas tentaram fugir de ser alvos dessas campanhas? Justamente fazendo a propaganda da cerveja de baixa fermentação, a cerveja Ale. É isso que distingue a Brahma e a Antártica no século 19. As cervejarias começam a fazer propagandas das qualidades terapêuticas das cervejas de baixa fermentação, como aquilo mais avançado em termos tecnológicos. Seria uma bebida higiênica. E as cervejarias usam isso como forma de sair do foco.

 

No começo do século XX, temos o crescimento das grandes cervejarias (Brahma e Antarctica). Quais eram as características dos anúncios cervejeiros dessas companhias?

 

Sérgio em 49 ’54”: É muito interessante porque já até fiz um vídeo sobre isso há muito tempo atrás, sobre a evolução das propagandas da Antárctica no século vinte. O que aparece naquela época é a qualidade terapêutica da cerveja. Com uma mulher com uma criança no colo e uma garrafa de cerveja, dizendo que a qualidade do leite materno vai ser melhor. Então elas vão evoluindo a partir daí para entrar nas propagandas de cerveja do século XX, com o machismo. A mulher começa a sair e o homem começa a figurar mais. E na década de 80, a mulher volta a aparecer como produto a ser consumido junto com a cerveja, ou depois da cerveja, digamos assim. 

 

Lud menciona a Prohibition americana e Sérgio comenta que após a grande depressão, o mercado precisava conseguir produzir um produto barato, com o paladar mais insípido. 

 

Sérgio em 1 ’00’ 01′: Então a propaganda vai sair da saúde e vai passar pela fase machista, o que eu acho que é um grande erro até de público alvo. Agora, eu acho interessante a propaganda da Malzbier porque a mulher é sempre o alvo. 

 

Obrigada por mais um episódio incrível, Sérgio!

 

👉 Escute também: Surra de Lúpulo #159 – Propaganda cervejeira

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🍺 O que bebemos durante o programa? Sérgio bebe Beck’s. Lud bebe Orange Sunshine, da Hocus Pocus. Leandro bebe Coffee Blond, da Odin

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Nana Ottoni

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