A convidada do episódio 44 do Surra de Lúpulo, nosso podcast de cerveja artesanal, é a engenheira agrônoma e mestra em biologia Fernanda Lazzari, sócia fundadora da Morada Cia. Etílica fabricante de cervejas e outras bebidas fermentadas desde 2011. Além de tuuuudo isso, Lazzari é juíza certificada na categoria National do Beer Judge Certification Program, o nosso bom e velho BJCP e, nesse episódio do Surra de Lúpulo, conservou com a gente sobre como se tornar um juiz BJCP – ou desistir da ideia!
A história da empresária, juíza e sommelier de cervejas começa depois de uma incursão no mercado cervejeiro norte-americano durante a temporada em que Lazzari esteve no país cursando um doutorado. “Eu, que até então achava que cerveja era só um jeito de ficar loucona nos eventos da faculdade, fui apresentada às craft beers. Nos Estados Unidos, as artesanais são um produto bom, barato, acessível, e quando voltei ao Brasil eu senti falta desse produto no nosso mercado. Foi quando eu e o Junka, meu sócio, decidimos colocar a mão na massa e entrar nesse nicho. Em 2011 abrimos nosso primeiro barril de cerveja profissional, mas, como apreciávamos outras bebidas além da cerveja, decidimos nos aventurar por tudo que era etílico e foi nesse momento eu esbarrei como BJCP. Nesse mesmo ano de 2011 eu participei pela primeira vez de um concurso de cerveja como staff e fiquei encantada com esse universo. Uma coisa foi levando à outra e acabei fazendo todas as provas e certificações até me tornar juíza com certificação na categoria National”.
O que é o BJCP?
O BJCP incentiva o conhecimento, a compreensão e a apreciação de diversos estilos mundiais de cerveja (hoje também do hidromel e das cidras); reconhece e promove a degustação dessas bebidas e fomenta as habilidades de comunicação e avaliação dos juízes que certifica. Usando o BJCP enquanto diretriz, são criadas ferramentas, métodos e processos padronizados para avaliação estruturada, classificação e feedback dessas amostras de bebidas. Trata-se de um programa completo que ensina a degustar, compreender, classificar e ser capaz de falar sobre a cerveja de forma organizada e assertiva.
Fernanda Lazzari
Nossa convidada ressalta que o BJCP não é o único nem melhor guia de estilos, e que sua função primordial não é ser um critério de avaliação, mas sim de instrução e de educação para produtores de cerveja artesanal, ensinando todas as características técnicas dos estilos de cerveja mundialmente reconhecidos. “Se tornar juiz BJCP é uma escolha que a pessoa envolvida no universo cervejeiro pode fazer, mas é uma que demanda muito tempo, estudo e determinação por se tratar de uma certificação de alto nível. Portanto, mesmo quem não quer ser juiz ou participar de concursos, pode e deve estudar o guia para se aprimorar”, explica.
Como me tornar um juiz BJCP?
O primeiro passo é fazer a prova on-line disponível no site da instituição. Fernanda recomenda que os interessados comprem o pacote que permite realizar essa etapa três vezes. “A primeira tentativa serve para o candidato testar o ritmo e o estilo da avaliação e, através do feedback dado ao final, entender quais pontos de estudo precisa aprimorar. Só depois dessa análise e de estudar mais a fundo seus pontos defasados é que recomendo que a pessoa tente fazer a prova pra valer”. Mas é importante frisar que o título de aprovação dessa etapa tem duração de apenas 12 meses e somente dentro dessa validade é possível se inscrever para a seguinte, que é a prova de degustação. “Sugiro que a pessoa antes consulte o calendário das provas degustativas a serem realizadas em sua região e só depois faça a avaliação on-line, para não perder o timing”.
Fernanda destaca que se tornar um juiz BJCP é uma opção interessante para quem está disposto a passar por toda a jornada de aprendizado e dedicação que a certificação demanda, mas que ela não é necessariamente essencial para que a pessoa se envolva com os concursos de cerveja. “Se a pessoa tem interesse em ingressar nesse mundo, é legal antes de tudo começar a se envolver na realização desses eventos. Ela pode mandar um e-mail para os organizadores de um evento X, se oferecer como voluntário para algum cargo de staff e começar a entender como funciona a dinâmica da coisa, estar em contato com outros juízes, provar amostras, etc. É um caminho legal, que ajuda a balizar interesses e conhecimentos com outros profissionais, a ter um jargão cervejeiro mais fluido. Nada disso demanda necessariamente uma certificação BJCP. Se a pessoa quiser, acho muito positivo e recomendo que ela corra atrás porque estudar nunca é demais. Mas fato é que hoje existem excelentes juízes no Brasil que não são certificados”.