No episódio 103 do Surra de Lúpulo, Ludmyla e Leandro recebem Pedro Miranda, da Cervejaria Cruls, e Rafael Leal, da Caatinga Rocks, para um dueto cervejeiro sobre cervejaria local. A Cruls fica em Brasília e a Caatinga Rocks é de Maceió – a troca foi incrível. Confira o nosso papo!
Sobre a Cruls Cervejaria:
Pedro conta um pouco da história da cervejaria Cruls, que começou como uma cervejaria cigana. E o que isso quer dizer? Cervejarias ciganas são aquelas que não possuem fábrica própria e precisam alugar equipamentos para produção artesanal em altas quantidades, com registro do MAPA.
Lá atrás você nem ouvia falar em cervejaria no DF e fábrica também, fomos a primeira implantada. A Cruls começou como um sonho da faculdade, sou engenheiro de produção, e numa das últimas matérias tinha que desenvolver o modelo de uma fábrica e eu e meus sócios pensamos “Por que não montar uma cervejaria?”.
Em seguida, Pedro e seus dois sócios buscaram se profissionalizar em ramos cervejeiros diferentes. Com o agrupamento de know-how nasceu a Cruls Beer.
Começamos bem pequenos, com apenas 3 mil litros de adega. Mas já no primeiro ano conquistamos as primeiras nove medalhas para o Distrito Federal. Então logo no primeiro ano tivemos essa validação e foi uma surpresa muito positiva. No mesmo ano, subimos para 10 mil litros de adega e estamos montando um espaço que possibilite a visita às fábricas.
Ele explica também que o nome Cruls é muito importante pra eles; é em homenagem ao Louis Ferdinand Cruls, belga responsável por marcar o quadrilátero central que viria a se tornar o Distrito Federal.
Sobre a Caatinga Rocks:
Rafael explica que em determinados pontos, a história da Caatinga Rocks é parecida com a Cruls. O projeto da Caatinga Rocks começou de forma caseira, bem no começo em que a cena da cervejaria caseira estava bombando no nordeste.
Eu e meu sócio – que é meu irmão – começamos a montar um plano de negócio, estudamos o processo de desenvolvimento de cerveja. Abrimos a empresa em 2015, terminamos de construir a fábrica em 2016, e lançamos nossa primeira cerveja, a Serelepe, em 2017.
A Caatinga Rocks sempre busca se posicionar de forma regional com orgulho, e Pedro justifica dizendo que é de fato algo muito pessoal. Por isso, a Caatinga Rocks abraça sem medo as raízes nordestinas (Made in Nordeste).
Como foi entrar no mercado cervejeiro como uma cervejaria local?
Leandro aponta que a impressão que temos do mercado cervejeiro é que é um mercado faminto por novos sabores e rótulos, mas ainda há muito o que se falar sobre cervejaria local. Rafael concorda, mas faz alguns adendos.
Beleza, o público está faminto, mas as chances de dar errado eram grandes e a primeira cerveja que lançamos foi uma extra amarga (risos). Mas ao mesmo tempo sempre tivemos um lance de feeling… O caminho foi difícil e acho que a Caatinga Rocks conseguiu por conta da consistência do projeto – e alguns temperos de sorte.
Pedro diz que sua visão de mercado é um pouco enviesada por morar em Brasília e ter proximidade com cervejarias de fora.
Na verdade, ainda temos a grande missão de educar e formar nosso público. Eu coloco muito pra minha equipe que um dos principais valores que a Cruls tem pra passar é referência, qualidade e acessibilidade. Temos uma responsabilidade gigante com a qualidade do produto porque a gente sabe que o consumidor artesanal, se ele tomar uma cerveja artesanal que não gostar, ele não vai tomar mais; Independente da marca.
Ele ainda diz que sempre dá atenção a todos os feedbacks que recebe – ruins e bons – porque sabe o quanto a experiência do consumidor é importante não só para a marca, como para o mercado. Isso levanta um ponto excelente de que as cervejarias não são rivais, pelo contrário: todos querem o bem desse mercado, e se ajudar no processo é o caminho certo da vitória.
Caatinga Rocks e o processo de abrir fábrica em Maceió
Um cervejeiro é antes de tudo forte. É um mercado muito novo no país e a legislação é arcaica, feita para grandes empresas. Quando você vem com um modelo de negócio diferente, você tem que desbravar a mata. No caso da cervejaria da Caatinga Rocks, ela não fica na capital de Maceió, fica afastada – cerca de 40 a 45 km, em uma cidade pequena, justamente por essa questão de viabilidade. E aí você tem todo um contexto que dificulta, sendo a legislação da região, tem a questão do saneamento…
Dilemas Cervejeiros: carga tributária e logística
Sabemos que muitos de nossos ouvintes têm interesse em abrir uma cervejaria, por isso perguntamos aos nossos convidados como funciona todo o processo de criação de uma cervejaria local.
Pedro: São várias condições de negócio, você pode atender ponto de venda, pode atender e-commerce, pode atender cigana, pode atender restaurante… Na Gruls trabalhamos praticamente com todos os tipos de negócio, que são 16 modelos. Cada modelo de negócio é um projeto, né, cada modelo de negócio é um CNPJ diferente e isso é o que mais consome o empreendedor brasileiro hoje. Você pensar em operações, além de passar ⅓ do seu ano pagando imposto, tem uma carga mental de operações tributárias. Você sai do “como você tá fazendo” pro “não fazer do jeito errado”. Na Cruls temos um escritório de advocacia por trás e estudamos tributação para ter certeza das coisas.
Rafa complementa:
A logística não facilita, né. Eu ainda acredito na cerveja artesanal como um modelo de negócio local/regional. Tanto que a Caatinga quando nasceu ela sempre teve como foco, o Nordeste. Sempre que penso na nossa empresa crescendo, eu penso em regional – e lógico que quero mandar pro país inteiro, mas como sustentação, o mercado da cerveja artesanal você tem que pensar e focar na sua região (seja bairro, estado). A gente sofre muito com essa questão logística e conseguimos dar uma enxugada no processo. É um negócio novo no país, então as coisas acontecem e a partir dos fatos criam-se problemas e a partir das problemáticas, criam-se soluções. Fazendo um paralelo do que é hoje e de quando a gente começou, percebo nitidamente uma evolução não só do mercado quanto da estrutura.
Apoie a cervejaria local do seu bairro e ajude a fomentar esse mercado.
Até a próxima, pessoal!
Ouça também Surra de Lúpulo: Dueto Cervejeiro com Raul Schuchovsky e Victor Morandi
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O que bebemos durante o programa? Pedro bebe Cruls Lager, Rafael bebe Serelepe Brasileira, Ludmyla bebe Zumbi Republic, e Leandro bebe Double Blend, da Everbrew.
SURRA DE LÚPULO é apoiado por MECENAS EMPRESARIAIS, CERVEJA DA CASA, BRO’S BEER e CERVEJARIA NARCOSE