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Surra de Lúpulo #216: A história das Alewives

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No programa de hoje do Surra de Lúpulo, seu podcast favorito de cervejas artesanais, vamos ao segundo episódio da série documental na qual falamos de situações e personalidades históricas que marcaram o universo da cerveja. Hoje falaremos sobre as mulheres cervejeiras da Inglaterra, sua importância para a cerveja e muito mais com as Alewives. Essa série contou com a colaboração do Sérgio Barra (sommelier e historiador), que foi responsável por toda pesquisa para o tema selecionado. 

 

Ouça na íntegra:

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A participação feminina na cerveja e as Alewives

 

A temática da participação feminina na produção, comércio e consumo de cerveja ao longo da história veio a ganhar a atenção merecida apenas muito recentemente, talvez nos últimos 5 anos mais ou menos. A partir de então, passou a chamar mais a atenção para o fato de que desde a Antiguidade as mulheres desempenharam um papel fundamental na produção da cerveja. Ao longo dos séculos, enquanto a produção de cerveja se manteve como uma tarefa doméstica, ela foi responsabilidade das mulheres.

Uma classe particular de cervejeiras é sempre citada quando se fala sobre esse tema: as ale-wives, ou “esposas da cerveja”. Mulheres responsáveis pela produção de cerveja na Grã-Bretanha entre os séculos V e XIV, aproximadamente. E que, apesar do nome, não eram necessariamente casadas. É o caso mais bem documentado a partir do qual se pode estudar não apenas o predomínio feminino na produção de cerveja, mas também o seu processo de afastamento. E, no campo das representações, a interessante associação que foi feita, por meio de discursos e representações, entre a alewife e a bruxa. 

 

Ale-houses e as origens da cerveja na Inglaterra

 

Descobertas recentes sugerem que a produção de cerveja estava bem estabelecida na Irlanda já na Idade do Bronze – mais ou menos entre 3.300 e 1200 a de JC. Mas a Grã-Bretanha nesta época era uma grande floresta e portanto, inadequada para o cultivo de grãos. Teriam sido os anglo-saxões que a colonizaram depois do fim do domínio romano, lá pelo século V d.J.C., vindos do norte da Europa, ou seja, os atuais Dinamarca, Norte da Alemanha e Norte dos Países Baixos, que teriam trazido consigo a cerveja. O termo “ale”, que denominava a bebida na Grã-Bretanha deriva das palavras em dinamarquês “öl” e em saxão “ealu”.

Durante o período da História da Inglaterra anglo-saxônica, a produção de cerveja era uma atividade eminentemente doméstica. Preparar cerveja, assim como assar, era uma atividade que todas as famílias realizavam. Mas algumas famílias construíram uma reputação pela qualidade de sua cerveja e começaram a se especializar na sua produção. Sempre que um novo lote de cerveja estava pronto um membro da família colocava na porta ou na janela um galho, parte de arbusto ou estaca, a ale-pole ou ale-stake. E as pessoas vinham comprar essa cerveja ou para levar para casa ou para consumir ali mesmo. Estas casas se tornaram pontos importantes de encontro das comunidades, onde eram realizados negócios e onde se passava o tempo livre. Eram conhecidas como ale-houses (“casas de cerveja”).

Segundo Roger Protz, a expansão das ale houses foi lenta no início, pois a Igreja Católica tentava não apenas regular o consumo de álcool, mas controlar a produção de cerveja. Os mosteiros criavam as suas próprias cervejarias e, além de oferecer alojamento aos viajantes também lhes forneciam bebidas. Ainda segundo o autor, os peregrinos recebiam cerveja extremamente fraca nos mosteiros, para sanar esse problema eles recorriam às ale houses na estrada para beber cervejas mais fortes. Os mosteiros tinham concorrentes mais diretos em outros dois tipos de estabelecimento: os inns, ou seja, pousadas e as tavernas. Ale-houses, Pousadas e Tavernas darão origem aos atuais pubs, isso claro, muitos séculos depois. O termo pub, que é uma abreviação de public house, parece ter surgido ou se disseminado apenas no século XVIII.

 

O primeiro licenciamento de ale houses data do reinado de Eduardo VI, que ocorreu entre os anos de 1547-1553. Esse reinado introduziu duas leis:

A primeira legislação definia estritamente o papel de três locais públicos para beber:

1 – as ale houses só podiam vender cerveja;

2 – Já taverna era obrigada a oferecer comida, vinho e outras bebidas alcoólicas, além de cerveja; 

3- Enquanto a pousada tinha que fornecer comida, bebida e acomodação.
A segunda lei do reinado de Eduardo VI deu aos juízes de paz o poder para autorizar a abertura ou fechar cervejarias. Os licenciados deveriam garantir o bom comportamento e a prevenção da embriaguez em suas instalações.

 

Um censo de locais para bebidas em 1577 mostrou que havia cerca de 14.000 ale houses, 1.631 pousadas e 329 tavernas na Inglaterra. A população do país nesta época foi estimada em 3,7 milhões de habitantes, o que significava que havia um estabelecimento para cada 187 pessoas, em comparação com os dias atuais onde há um estabelecimento para cada 657 pessoas.

 

AS ALE-WIVES

Nas ale-houses a cerveja era produzida pelas ale-wives (as esposas cervejeiras), também chamadas de brewsters. Segundo a historiadora norte-americana Judith Bennett, os registros públicos no período pré-Peste Negra (1348-1350) mostram a fabricação de cerveja como uma profissão exclusivamente feminina.

A falta de especialização e de uma localização física necessária, podendo ser feita dentro da casa, fez da cerveja uma atividade acessível para que as mulheres adicionassem renda para a casa nas cidades e nas comunidades rurais.

Fabricar e vender cervejas permitiu que as mulheres trabalhassem e obtivessem seu  próprio sustento, concedendo a elas algum grau de independência em relação aos homens. Em um período histórico no qual elas eram impedidas de tomar a maior parte das decisões sobre a sua própria vida.

Como explica Judith Bennett, as mulheres medievais, particularmente as solteiras, jovens e viúvas, eram quase exclusivamente impedidas de muitos métodos que pudessem garantir seu próprio sustento. O trabalho da maioria das mulheres no período medieval era de baixa qualificação, status e remuneração. Comparativamente, a fabricação de cerveja era uma atividade predominantemente feminina, e em que as mulheres podiam operar de forma independente ou em conjunto com o marido.

De acordo com Roger Protz, a fabricação de cerveja doméstica cresceu rapidamente após a invasão da Inglaterra em 1066  e as ale-wives podiam ser contratadas para fornecer cerveja para as casas da nobreza.

Embora a fabricação e venda de cerveja fosse um comércio lucrativo e estável para todas as classes de mulheres urbanas da Idade Média, mulheres casadas e não-casadas tiveram experiências diferentes nesse comércio.

Mulheres não casadas, incluindo moças solteiras, viúvas, mães solteiras, concubinas e esposas que abandonaram o marido ou foram por ele abandonadas, às vezes se envolviam no comércio de cerveja e faziam dinheiro o suficiente para se sustentar de forma independente. Mas trabalhavam na fabricação de cerveja apenas ocasionalmente, recorrendo a ela para se sustentar temporariamente (antes do casamento, entre casamentos, em tempos de pobreza e durante a viuvez).

Em alguns casos mais raros algumas mulheres não casadas continuaram o comércio de forma ininterrupta. Os registros medievais mostram alguns exemplos raros de cervejeiras permanentes sem menção a um marido, incluindo Emma Kempstere, de Brigstock, Maud London, de Oxford, e Margery de Brundall, de Norwich, que viveram e fabricaram cerveja nos séculos XIV e XV. 

De acordo com os registros fiscais de cobrança de impostos, os lucros e o status legal das cervejeiras não-casadas indicavam que elas viviam de forma mais independente e tinham um padrão de vida mais alto comparados a outras mulheres do mesmo status social.

Elas também raramente tinham os recursos para pagar aprendizes ou empregados na fabricação de cerveja e eram menos propensas a ter famílias numerosas para ajudar no trabalho de fabricação de cerveja. Esses fatores limitavam a lucratividade de cervejeiras solteiras em comparação com outros cervejeiros e tornavam a sua participação na indústria uma prática menos consistente e mais ocasional.

Cervejeiras casadas ​​geralmente fabricavam cerveja em conjunto com seus maridos, como parceiros relativamente iguais nos negócios e na produção. Consequentemente, tinham mais acesso a dinheiro e servos por meio dos empreendimentos econômicos, terras ou herança de seus maridos. Isso fez com que as cervejeiras casadas ​​sustentassem, expandissem e estabilizassem seu comércio. Como resultado dessa estabilidade e acesso a recursos, as cervejeiras casadas ​​”colheram lucros consideráveis ​​com o mercado de cervejas”, ganhando mais do que cervejeiras não-casadas ​​e mais do que mulheres casadas em outros ofícios.

Antes do século XVI, esposas e maridos dividiam as operações diárias da fabricação de cerveja de forma relativamente igual, com esposas trabalhando independentemente, em vez de subordinadas a seus maridos. A divisão do trabalho entre casais cervejeiros era tipicamente dividida entre papéis públicos e gerenciais. O marido ocupava quase exclusivamente as responsabilidades públicas, incluindo as atividades de guilda e servindo como representante legal do estabelecimento. As esposas tipicamente tinham jurisdição sobre as responsabilidades da “família conjugal”, que incluía a parte física da fabricação da cerveja, a administração de qualquer empregado e, se o comércio resultasse de uma alehouse, a administração da própria alehouse.

Como evidenciado pelos registros dos pagamentos para as guildas medievais, as ale-wives geralmente pagavam grandes impostos que eram listados independentemente de seus maridos cervejeiros. Isso indica que as mulheres receberam crédito como parceiras iguais aos seus maridos dentro do negócio.

 

Afastamento e representações negativas

 

Após a Peste Negra, o comércio de cerveja passou por mudanças significativas que o tornaram mais especializado. A sociedade medieval passou por muitas mudanças que tiveram efeitos significativos no comércio de cerveja, tais como a consolidação dos mercados urbanos, o aumento dos padrões de vida, maior acesso ao capital, acesso mais barato aos grãos, maior demanda por cerveja como alimento básico da dieta medieval e crescente popularidade das ale-houses

Assim, ao mesmo tempo que teria ajudado no desenvolvimento do negócio dessas mulheres, o mercado cervejeiro também se tornou maduro para um maior investimento de capitais. Essa mudança pode estar relacionada também à crescente difusão da cerveja lupulada na Inglaterra a partir dos séculos XIV e XV, a qual exigiria maior mão-de-obra e investimento financeiro.

Como resultado de todas as mudanças do setor após a Peste Negra, as e alewives enfrentaram um dos dois destinos: maior lucro ou marginalização no comércio. As cervejeiras não-casadas ​​começaram a desaparecer lentamente do comércio. Já as cervejeiras ocasionais ou em período parcial, perderam a facilidade de entrada no mercado e a estabilidade econômica que tinham anteriormente. 

As mulheres que conseguiam permanecer no comércio de cerveja eram geralmente casadas, viúvas ou tinham acesso incomum a dinheiro e capital para uma artesã. Seu casamento garantia o acesso aos recursos e investimentos necessários para se manter no mercado. À medida que a comercialização e a maior lucratividade traziam um número crescente de homens para o comércio, o lugar das mulheres casadas na fabricação de cerveja foi fortalecido, embora seu trabalho no comércio tenha mudado.

Com a saída da maioria das mulheres não casadas do comércio de cerveja, a produção independente de todas as mulheres tornou-se menos aceita. Portanto, as cervejeiras casadas, após o século XIV, tornaram-se menos independentes de seus maridos.

Já no século XVI, as guildas também centralizaram e regulamentaram mais fortemente a produção e comércio de cerveja nas áreas urbanas, o que também contribuiu para o declínio das mulheres neste comércio.

À medida que a cerveja comercial se espalhou, as ale-wives passaram a ser estigmatizadas negativamente. O imaginário ainda marcadamente medieval da sociedade britânica do século XIV chama a atenção para a aproximação que se fazia entre as ale wives e as bruxas. Mulheres que trabalhavam com ervas e caldeirões e que conheciam receitas por meio das quais produziam, quase que por magia, uma bebida que entorpecia os homens, deixando-os vulneráveis.

Quando falamos em quase que por magia, vale ressaltar que naquela época, nada ainda se conhecia sobre os processos de fermentação. Somava-se a isso os chapéus altos, usados como forma de publicidade nas feiras e a vassoura do lado de fora da casa (objeto que as bruxas teoricamente usariam para voar) e tínhamos aí um conjunto de símbolos que permitiam a associação entre a fabricação de cerveja e a bruxaria, dando pretexto para uma verdadeira caça às bruxas.

É importante fazer um parêntese para esclarecer que não são os trajes e apetrechos utilizados pelas alewives que dão origem à representação atual que fazemos das bruxas. E que o certo seria afirmar que as alewives foram acusadas de serem bruxas.

Sobre a indumentária dessas cervejeiras, foi uma série de representações da bruxaria, que já existiam desde a Idade Média ou que foram criadas logo no início da Idade Moderna, em diferentes partes da Europa, que foram reunidas na figura da alewife como uma forma de estigmatizá-la.  

Essa caça às bruxas-cervejeiras pode ter tido diversas motivações para além da misoginia característica da época. Entre as quais, a motivação econômica. A cerveja feita em casa para o consumo doméstico se tornou de repente, um bem de consumo com um preço e clientes. E como sempre acontece quando há dinheiro em jogo, tem sempre alguém que procura o maior monopólio possível, em detrimento da concorrência. Acusações de bruxaria ajudariam a afastar as mulheres do negócio, principalmente após o início dos processos inquisitórios, no século XVI.

A pesquisadora Judith Bennett aponta como as cervejeiras se tornaram o bode expiatório da comunidade cervejeira como um todo pelos vícios que o mundo medieval temia da produção de álcool. As mulheres que trabalhavam na fabricação e venda de cerveja foram acusadas de serem desobedientes a seus maridos, sexualmente desviantes, e também de frequentemente enganarem seus clientes com cerveja diluída e preços mais altos. Em 1540, a cidade de Chester ordenou que nenhuma mulher entre 14 e 40 anos pudesse vender cerveja, na esperança de limitar o comércio.

Também na cultura popular da época, a alewife era algo comum de piadas difamatórias.  Ela foi retratada em pinturas do Julgamento Final ou murais da igreja como alguém que pertencia ao inferno. Sendo, até mesmo, parentes do próprio Diabo. Em uma das Peças Milagrosas de Chester do século XIV, Cristo redime todos os personagens do fogo do Inferno, exceto a ale-wife, devido aos seus pecados comerciais na venda de cerveja adulterada.

alewives
Alewife sendo levada para o inferno. Detalhe da pintura do Juízo Final, Igreja de St. Thomas, Salibury, Inglaterra.

Representações dessa natureza não faltam em pinturas e esculturas de igrejas inglesas. A alewife é uma figura muitas vezes retratada como uma habitante do Inferno, nua e brandindo alegremente uma enorme caneca. Em uma pintura do Juízo Final na igreja de St. Thomas, em Salisbury, uma alewife com uma caneca na mão é levada para o inferno por um demônio. E não aparenta estar nem um pouco preocupada com a situação.

As Ale-wives eram frequentemente associadas a comportamentos pecaminosos, seja como sexualmente promíscuas ou empregadoras de prostitutas.

Por fim, o estudo de caso das alewives é fértil para se estudar a importante participação das mulheres na produção, comércio e consumo de cerveja ao longo da história. No entanto, é importante tomar muito cuidado para não fazer extrapolações indevidas e nem interpretações erradas. 

Sabemos que, enquanto atividade doméstica ligada ao provimento da alimentação para a família, a produção de cerveja deve ter sido uma tarefa que cabia para as mulheres em maior ou menor grau por toda a Europa. Porém, a partir das informações disponíveis sobre as alewives, não se pode expandir essa mesma certeza para outros povos não-ocidentais (Ásia, África e, até mesmo, Américas). O caso das alewives se refere à Europa Ocidental da Idade Média e início da Idade Moderna (séculos V a XVI, aproximadamente).

Espero que vocês tenham aprendido e aproveitado tanto quanto nós sobre a história das Alewives e por aqui encerramos mais esse passeio histórico.

 

🍻 tim-tim e até a próxima 🍻

 

Referências bibliográficas:

 

BENNETT, Judith M. Ale, Beer and Brewsters in England: Women’s Work in a Changing World, 1300–1600. New York: Oxford University Press, 1996.

BROOKS, Laken. Why did women stop dominating the beer industry? Strict gender norms pushed them out of a centuries-lomg tradition. Smithsoniam Magazine. 8 de março de 2021. Disponível em: Why Did Women Stop Dominating the Beer Industry? | History| Smithsonian Magazine

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MORBIDELLI, Francesca. La storia delle Alewives: um po’ birraie, um po’ publican, um po’ streghe nell’Inghilterra mediovale. La Pinta Medicea: news di birra artigianale e di qualità. 13 de abril de 2020. Disponível em: https://www.pintamedicea.com/birra/2020/un-po-birraie-un-po-publican-un-po-streghe-le-alewives/

PROTZ, Roger. Ale houses. In: OLIVER, Garret (org.). The Oxford Companion to Beer. Oxford Universitary Press: New York, 2012, p. 89-92.

PROTZ, Roger. Ale Wives. In: OLIVER, Garret (org.). The Oxford Companion to Beer. Oxford Universitary Press: New York, 2012, p. 93-95.

VAUGHAN, Theresa A. The Alewife: changing images and bad brews. Avista Forum Journal: Medieval Science, Tecnology & Art. Vol. 21.1/2. 2011. p. 34-41.

WADE, Christina. Witchcraft, Alewives and Economics. Braciatrix. 7 de agosto de 2021. Disponível em: Witchcraft, Alewives, and Economics – braciatrix

 

 

👉 Ouça também: Surra de Lúpulo #211: Pasteurização da cerveja, com Duan Ceola

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