O melhor de se ter um podcast sobre um tema muito amado é poder falar com pessoas que a gente respeita e admira. O programa de hoje é sobre a trajetória cervejeira da Maíra Kimura, que atualmente é uma das sócias da Japas Cervejaria, mas que tem um currículo extenso e chegou aqui quando tudo era mato. Ouça na íntegra:

✨ Antes de mais nada, deixamos o nosso agradecimento aos Mecenas Empresariais: Cerveja da CasaIris PayCervejaria UçáViveiro Van de Bergen, The Beer Agency e Prussia Bier.

 

Já está sabendo da novidade? A Pesquisa Retrato dos Consumidores de Cerveja 2023 já está no ar e você pode responder clicando aqui. Entendemos que um mercado sem dados está operando no escuro e que a descoberta dessas informações contribui para diversos setores. Compartilhe com os amigos, hein!

 

Trajetória cervejeira com Maíra Kimura

 

Sua trajetória cervejeira começou em 2011. De onde veio esse desejo de estudar cerveja quando o nosso mercado artesanal era tão incipiente? 

 

Maíra Kimura e sua trajetória cervejeiraMaíra em 07’17’’: Minha trajetória cervejeira começou quando estava dividida na carreira de marketing. Eu estava morando em Paris porque meu ex marido foi transferido para lá, e eu pedi demissão aqui. Aí eu tava pensando o que eu podia fazer da vida que fosse diferente de marketing. Aí comecei a estudar sommelieria de vinho, em Paris, mas percebi que não queria vinho pra minha vida profissional. Eu queria trabalhar com cerveja. E eu já conhecia pessoas que faziam cerveja em casa. E comecei a procurar cursos cervejeiros pra fazer. E aí eu fui fazer um curso de cerveja na Inglaterra, em julho de 2011, Brew Lab. E aí eu me apaixonei completamente. Comecei a entrar em contato com o pessoal daqui que fazia cerveja e comecei a conhecer todo mundo. Em 2012 eu voltei pro Brasil e comecei a ir em festival e comecei a conhecer um monte de gente. E aí descobri que era com isso que eu queria trabalhar.  

 

Você consegue trazer um relato sobre a trajetória cervejeira do mercado brasileiro? O que melhorou e o que piorou? 

 

Maíra em 10’22’’: Eu acho que muita coisa mudou. Algumas coisas pra melhor e outras pra pior. Uma coisa que melhorou muito é que está cada vez mais profissional; não que esteja num nível muito alto. Mas é que antigamente não tinha benchmarking pra você se basear, era tentativa e erro. Tinha muita distribuidora no começo, que não existe mais. Muitas cervejarias ciganas começaram a surgir. Melhorou realmente a questão do profissionalismo, as pessoas estão sabendo os parâmetros para trabalhar no mercado cervejeiro. O que piorou… não vejo muitas pioras, as coisas mudaram muito. No começo era todo mundo muito ingênuo, e agora alcançamos uma maturidade.

 

Tivemos o enorme prazer de bater um papo com a Fernanda Ueno, no quadro Eu, cervejeira, uma das suas sócias na Japas. Mas esse papo tem mais de 1 ano. Quais são os planos da Japas, não apenas no Brasil, mas no mundo (Japão e Estados Unidos)?

 

Ilustração do crisvector para japas cervejaria
Ilustração por @crisvector (IG)

Maíra em 21’30’’: A gente está indo para vários lugares, na verdade. A gente tem um milhão de ideias e o problema é priorizar. Mas temos planos de expandir nos EUA, por exemplo. Estamos no décimo primeiro estado, e lá cada estado tem uma lei diferente. Estamos num momento em que precisamos tangibilizar a marca, precisamos sair um pouco da bolha. A gente já vende para mercados japoneses, bares japoneses. Queremos expandir a presença física da Japas. É um projeto bem complexo, mas queremos um ponto de venda fixo, tipo um bar. Nosso sonho é um brewpub, mas seria uma operação complexa. Para os EUA, é um licenciamento de marca. No começo eu fui para lá, pra fazer as primeiras brassagens, pra acertar receita e a operação. 

 

Maíra explica também que geralmente a Japas faz lançamentos simultâneos, no Brasil e EUA, mas que alguns ingredientes são difíceis de encontrar fora do país e o lançamento pode ser adiado.

 

Como foi ser sócia da 1ª fábrica cigana do Brasil? 

 

Maíra em 35’23’’: A maior dificuldade era convencer as cervejarias de que a gente não queria roubar as receitas deles. Teve muita porta fechada na cara. A gente chegava falando que só queria produzir as cervejas nas cervejarias dos outros, e gerava uma suspeita. Então teve essa dificuldade de convencer outras cervejarias para abrir portas. Hoje em dia já tem cervejarias especializadas nisso. […] A gente chegou a passar por muitas fábricas; chegamos a produzir na Imperial, Mistura Clássica.

 

Qual é a sua percepção no papel da criação da Japas Cervejaria para a representatividade da mulher nipo-brasileira no mercado cervejeiro?

 

Foto de tres rotulos da Japas e ao fundo, famosos predios de nova iorqueMaíra em 48’36’’: Até peguei essa cerveja, a Tigresa, que lançamos em parceria com mais três mulheres asiáticas justamente para falar dessa questão do estereótipo. Porque existe um preconceito em relação ao japonês que é um estereótipo positivo: são certinhos, limpinhos, honestos, trabalhadores. E isso acaba sendo agressivo com outros grupos raciais também. É meio violento e esquisito. E não é verdade também. Não é todo japonês que é inteligente, gosta de matemática… Então criamos essa cerveja para celebrar entre amigas que tem ascendência asiática como a gente. Entendemos que estamos num grupo não muito compreendido pela sociedade brasileira. Acaba sendo uma coisa assim “é bonitinho”, mas ninguém fala sobre as coisas que acontecem. Quando eu era criança, o padrão era Barbie, padrão de beleza eurocêntrico. Hoje em dia isso está mudando, né. E a gente quis se reafirmar de que somos brasileiras, mas também somos coreanas, chinesas e japonesas. E o próprio nome da cervejaria é um comentário sobre isso, Japas. Você não pode chegar pra gente e chamar a gente de japa. É ofensivo! E fizemos essa cerveja [a tigresa] para falar sobre esse assunto.

 

Foi um prazer enorme ter esse papo contigo, Maíra!

Até a próxima, pessoal!

 

Se você gostou desse episódio, com certeza também vai gostar de: Ep.103 – Cervejaria Local com Pedro Miranda e Rafael Leal

🍻 O que bebemos durante o programa? Maíra bebe Kapibara, da Japas Cervejaria. Lud bebe Boque 22, da Trilha Cervejaria. Leandro bebe Nero, da Cervejaria Escafandrista.

Nana Ottoni

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