No episódio 102 do Surra de Lúpulo, nosso podcast sobre cervejas artesanais, falamos com Fernanda Ueno, food engineer (UFSC), beer sommelière (ABS), master brewer (UCDavis and IBD) e co-fundadora da Japas Cervejaria.
A Japas é uma marca de cerveja artesanal nipo-brasileira criada por Maira Kimura, Fernanda Ueno e Yumi Shimada, com objetivo de disseminar a cultura asiática com sabores e rótulos super criativos. E é incrível conhecer uma marca de cerveja feita inteiramente por mulheres, mostrando que cerveja não só pode como deve entrar na lista de opções do empreendedorismo feminino.
Confira nosso bate papo:
Empreendedorismo feminino no Brasil e EUA
Fernanda explica que a Japas começou em 2014 e, a princípio, cobria apenas o mercado brasileiro. Desde 2019, a Japas Cervejaria passou a ser distribuída também nos Estados Unidos. Mesmo que ainda não cubra toda a região norte americana, podemos falar que essa expansão da Japas já é um sucesso.
Como estamos em dois países, tentamos acompanhar tudo de perto! Temos planilhas, grupos de whatsapp (risos)… Acompanhamos a produção, maturação, as frutas utilizadas, enfim – cuidamos de tudo mesmo.
Para cada novo estado norte-americano que distribui a Japas, Fernanda explica que é necessário revisar contratos e procurar novos fornecedores, mostrando que todo esse processo é deveras trabalhoso.
Como funciona o processo de criação na Japas?
Assim como existem diferenças na produção da Japas nos EUA e no Brasil, o processo de criação de receitas também varia de região por conta da logística e sazonalidade.
Ficamos muito atentas aos ingredientes sazonais. Então estamos sempre trocando muito com nossos fornecedores para saber se o estoque de ingrediente x estará disponível na época y. No momento, já estamos falando sobre o estoque de limão yuzu, que usamos para produção da nossa cerveja sour. Enfim, varia muito – se é sazonalidade, nós trabalhamos os nomes, rótulos…
Fernanda ainda diz que nenhuma cerveja da Japas existe apenas por existir.
Todos os sabores tem um propósito dentro da marca, tendo como grande exemplo a Japas Kawaii Smoothie IPA, que apesar do nome significar “fofo” em japonês e seu líquido ser rosa, seu sabor tem notas super ácidas e seu rótulo possui uma framboesa vomitando arco-íris.
Cada cerveja é criada pensando nos mínimos detalhes do processo, sazonalidade, harmonização, rótulo e como dialoga com os ideais da Japas.
Empreendedorismo feminino: a cerveja e a carreira.
Fernanda começou sua carreira como cervejeira fazendo estágio em produção, na Colorado. Depois de concluir sua faculdade, voltou para a empresa em 2012 – desta vez como supervisora de produção. Além disso, Fernanda é food engineer, beer sommelière e master brewer. Chique demais esse currículo!
No final de 2020, surgiu uma demanda por melhoria de qualidade lá na Bélgica. Trabalhei muito próxima ao time de qualidade da Colorado e fiquei muito tempo em laboratório e estudando. Estava adorando! Ficava o dia todo na cervejaria. Hoje em dia sou gerente de integração de qualidade.
E a representatividade no mundo cervejeiro?
Ludmyla levanta a questão da representatividade do empreendedorismo feminino cervejeiro e o quanto isso é importante num cenário como esse. Estamos falando de um ambiente em que a maioria dos consumidores são homens cis-hétero e brancos. Ter mulheres criando marcas e sabores é incrível e, principalmente ter mulheres nipo-brasileiras é sensacional. É levar a representatividade um passo além.
Temos essa noção de que nosso papel na Japas é muito importante por conta da luta pela representatividade de mulheres no meio asiático. Aprendemos muito no dia a dia com tudo isso e compartilhamos nosso aprendizado. É óbvio que trabalhar com cerveja sendo mulher no brasil é bem difícil – aliás, nos EUA também é difícil. A gente sempre sente que precisa fazer muito mais sendo mulheres no meio cervejeiro.
Fernanda complementa dizendo que a Japas tem muito cuidado com quem trabalham. O discurso das empresas precisa estar alinhados com os ideais da Japas porque afinal, representatividade importa e muito. As mulheres japonesas geralmente são vistas como frágeis e o trio criador da Japas está aqui para quebrar todos os estereótipos.
O próprio nome Japas surgiu numa brincadeira, mas decidimos ressignificar o termo e usar pra gente. Usamos com orgulho e para difundir a cultura asiática. Em todo evento que fazemos, vem a comunidade japonesa em peso. As pessoas tem muito orgulho do nosso trabalho… Até nos aproximamos mais das nossas famílias com a Japas e fizemos rótulos especiais com os navios que trouxeram cada família ao Brasil.
Obrigada pelo bate papo incrível, Fernanda!
👉 Ouça também Surra de Lúpulo: Produção de cerveja caseira com Mariana Astolfi
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🍺 O que bebemos durante o programa? Fernanda bebe Cantillon Geuze, Ludmyla bebe Fumaçônica Flower APA, Leandro bebe água (hidratação é importante! 💦).
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