O retorno de um projeto que cresceu junto com o mercado
Quando Ludmyla Almeida anunciou, no microfone do Surra de Lúpulo, que a pesquisa Retrato dos Consumidores de Cerveja estava de volta, dava pra sentir aquele misto raro de alívio e responsabilidade. Poucas iniciativas acompanharam tão de perto a transformação do mercado cervejeiro brasileiro quanto essa pesquisa, que nasceu da curiosidade e virou ferramenta de referência para entender quem bebe cerveja no Brasil, porque e de que jeito.
A primeira edição, em 2020, foi quase um experimento sociológico. Lud e Leandro colocaram no ar um formulário simples, despretensioso, mas movido por uma inquietação real: quem é esse público que sustenta um mercado tão apaixonado quanto caótico? Mais de mil respostas chegaram de todos os estados. Então, no ano seguinte, o número dobrou. Em 2022, com um mínimo de verba, dobrou de novo. E em 2023, com o apoio conquistado na 1ª edição do edital Fermenta!, da Ambev e da Academia da Cerveja, veio o marco: 8.734 respostas, analisadas com rigor inédito.
Agora o Surra retorna com mais uma edição da pesquisa, e discute o que já foi visto e o que vem por aí, com um time renovado por trás dessa organização.
MAS ANTES, CONHEÇA E APOIE QUEM APOIA O SURRA:
🍺Cervejaria Stannis – Grande parceira oferece desconto para os nossos ouvintes! Use o cupom SDL12 e ganhe 12% de desconto em todo site
🍻Cervejaria Dogma – Ela, que tem uma gama de rótulos que vão desde os estilos mais simples até cervas mais elaboradas, agora também é nossa parceira! Use o cupom SDL7 e ganhe 7% em todas as cervejas no site.
🌿Lúpulos 1000alt – Lúpulos premiados para garantir a melhor qualidade da sua cerveja. Ouvintes do Surra têm 10% com o cupom SURRADELUPULO10.
🧪Pinnacle Leveduras – Leveduras especiais e selecionadas para atender as necessidades da sua cervejaria
A pausa e o olhar atento de 2024 dão lugar a um novo time para 2025-26
Se 2023 foi o ano da expansão, 2024 foi o ano da contenção. O mercado inteiro estava fragilizado: enchentes devastaram o Rio Grande do Sul, várias cervejarias fecharam, outras reduziram drasticamente operação, e o público, cansado, consumia menos. Forçar a pesquisa naquele momento seria insensível e, principalmente, improdutivo. A decisão foi observar. O silêncio, às vezes, produz mais dado do que a insistência.
Agora, em 2025/2026, a pesquisa volta mais estruturada, mais madura e com um time reforçado. Além de Lud e Henrique Boaventura, entram Bob Fonseca, com seu olhar para padrões numéricos, e Maurício Tkatchuk, que chega para organizar a área comercial, estruturar parcerias e ampliar a presença da pesquisa no mercado.

Quem viabiliza a nova edição: os apoiadores que acreditam em dados para transformar o setor
O retorno ao grupo dos agraciados pelo edital Fermenta! continua sendo parte fundamental da sustentação da pesquisa. Foi esse o edital que, lá em 2023, permitiu uma virada metodológica e profissional, e que agora novamente cria as condições para que a edição 25/26 seja ainda maior, mais profunda e mais responsável. Mas o Fermenta! não está sozinho.
Entre os apoiadores, o SINDICERV ocupa um papel central. Representando 85% da produção nacional e reunindo as principais cervejarias do país, o sindicato atua para qualificar o debate regulatório e fortalecer toda a cadeia cervejeira no Brasil. Assim, ao apoiar a pesquisa, ele reafirma seu compromisso com informação de qualidade e com o desenvolvimento contínuo do setor, reconhecendo que decisões melhores exigem dados melhores.

Também contamos com a Cervejaria Stannis, parceira histórica do Surra, que ajuda a dar corpo operacional ao projeto, especialmente no avanço das cervejas sem álcool, segmento em que tem investido de forma consistente. A Beba Luci, totalmente dedicada ao universo sem álcool, complementa esse cenário trazendo visão especializada de um mercado que cresce aceleradamente.
A operação também incorpora o olhar técnico da Beer Sales, plataforma de RP que conhece de perto as rotinas e desafios de produção das cervejarias, e o suporte da Pinnacle Leveduras, que acompanha o desenvolvimento técnico da produção de NA no Brasil e entende profundamente as limitações e possibilidades desse processo. Para completar esse ecossistema, a Rota Cervejeira do Rio se junta ao projeto aproximando turismo, cultura e cena cervejeira local — elementos que dialogam diretamente com os blocos de experiência e comportamento da pesquisa.
Esse grupo não está apenas apoiando financeiramente. Está ajudando a garantir que a pesquisa permaneça independente, aberta, acessível e tecnicamente sólida, devolvendo para o mercado dados que permitem decisões melhores em toda a cadeia.

De 2023: mulheres bebem cerveja, o mercado é que não chega até elas
A edição de 2023 trouxe um dado tão claro quanto desconfortável: mulheres gostam de cerveja! Entre quem bebe apenas cervejas comuns, 42% são mulheres. Mas entre quem consome cerveja artesanal, esse número cai para 26%. O problema não está no paladar feminino, mas no caminho até ele.
As barreiras são múltiplas: comunicação pouco acolhedora, ambientes onde a mulher não se sente pertencente, estilos agressivos como única porta de entrada, e preços que criam distância em vez de convite. Há também estigmas culturais e pressões recentes sobre o consumo feminino, especialmente entre mulheres de 25 a 45 anos, faixa que muitas pesquisas têm apontado como grupo de risco para consumo abusivo — o que influencia diretamente a forma como elas se relacionam com bebidas.
Ainda assim, há um legado que não pode ser ignorado. Mulheres como Cilene Saorin (33 anos de profissão), Luiza Tolosa (Cervejaria Dádiva), Ingrid Matos, Débora Lehnen (Proa) e Patrícia Mercês (Cerveja Colombina) abriram portas, formaram profissionais e criaram ambientes mais seguros. Provaram e seguem provando, com trabalho de anos, que protagonismo feminino não é tendência, mas ponto estruturante do ecossistema cervejeiro.
O ponto de ruptura do mercado: preço, ocasião e o “latão de 50 reais”
Outro tema que surgiu forte no episódio foi o preço. O meme do “latão de Juicy IPA a 50 reais” só se tornou piada porque representa uma realidade percebida por muita gente. A percepção de valor se rompeu em vários pontos do mercado, e a pesquisa 25/26 quer entender exatamente onde isso acontece.
Bob Fonseca fala claramente sobre suas barreiras pessoais, enquanto Maurício lembra que ninguém paga o mesmo preço em todas as ocasiões: supermercado, bar, viagem, jantar, evento e consumo doméstico acionam gatilhos diferentes. Entender ocasião é entender comportamento.
Lud complementa com outro ponto crucial: o problema não é existir cerveja cara; o problema é não ter uma linha de entrada acessível. Sem essa porta de entrada, a comparação com a Heineken do corredor continua sendo fatal.

O supermercado é ponto de acesso ou armadilha?
A pesquisa mostra que o supermercado é o principal canal de compra de cerveja no Brasil. Mas isso levanta outra questão: será que esse é mesmo o melhor lugar para a artesanal? Hoje, sem curadoria e sem diferenciação, o consumidor volta a comprar no escuro, repetindo a lógica que o vinho só conseguiu superar graças a figuras como Carlos Cabral.
Tudo se agrava quando lembramos que a maioria dos lares coloca as mulheres para fazer compras, justamente o público menos alcançado pela artesanal. Além disso, a própria gôndola mudou: artesanais sendo empurradas para fora das posições mais nobres, cada vez mais coladas nas mainstreams e afastadas das seções “premium” onde elas se justificam melhor.
Do hype ao cansaço, o mercado muda de assunto
Depois do auge das Juicy IPAs e da explosão de estilos ultraextremos, o consumidor cansou. Parte migrou para RTDs (coquetéis envasados e preparos mistos “prontos para beber”), chopes de vinho, água lupulada e outras bebidas sem álcool. Sendo assim, a pesquisa 25/26 quer medir essa mudança de forma objetiva, saber quem realmente trocou a cerveja por esses formatos e em que momento.
Dentro desse movimento, a cerveja sem álcool é um capítulo à parte. O levantamento do Bob, que hoje mapeia mais de 120 rótulos nacionais produzidos por microcervejarias, mostra um crescimento acelerado e consistente. O próprio SINDICERV aponta saltos percentuais enormes na categoria, impulsionados por grandes fabricantes. A tendência é estrutural, não episódica.
Experiência, comunidade e pertencimento: a nova disputa dos taprooms
A fala de Doug Velick, citada no episódio, acerta em cheio: o dono de cervejaria virou gestor de entretenimento. Além de fazer e entregar uma boa cerveja, é preciso prover uma experiência. E experiência cria comunidade.
Trivia, grupos de corrida, eventos temáticos, ambientes familiares, comida alinhada com o público, espaços que convidam e não intimidam. Isso muda a base do negócio. E muda o público também: grupos mistos, mais mulheres, mais diversidade.

Os erros que o mercado ainda comete, e que a pesquisa ajuda a corrigir
Perto do final do episódio, Henrique pergunta ao Bob quais erros as cervejarias continuam cometendo. A resposta é uma síntese precisa do que a pesquisa tenta iluminar:
- Fala-se sempre com o mesmo público.
- Ignoram-se oportunidades fora do digital.
- Subestimam-se experiências locais.
- Reinventa-se pouco.
- E quando a equipe é pequena, a primeira coisa que cai da lista é justamente o que ajuda a vender.
A pesquisa existe para reduzir o achismo e aumentar a autocrítica.
O que muda no formulário da edição 25/26
A nova edição traz blocos mais claros, construção mais objetiva e uma grande novidade: idade exata, em vez de faixas. Isso permite análises por geração com muito mais precisão e ajuda a responder uma pergunta que paira no mercado: a geração Z está bebendo menos, mas esse comportamento está influenciando outras faixas etárias?
O formulário também aprofunda temas como doses semanais, moderação, relação com RTDs, NA e comparação com outras bebidas.
E pela primeira vez, a pesquisa terá apoio de ferramentas de IA, não para “decidir”, mas para organizar grandes blocos de respostas e acelerar cruzamentos. A interpretação continuará sendo humana, com gente como o Bob dando sentido ao que a máquina encontra.

Datas, divulgação e um convite final
A pesquisa fica no ar de 12 de janeiro de 2026 até 13 de fevereiro de 2026, encerrando exatamente na sexta-feira de Carnaval. A comunicação começa forte em dezembro de 2025. É o período perfeito: antes da folia, com calma para responder, mas próximo o bastante para pegar as pessoas onde elas realmente estão.
E aí vem o ponto central: se você bebe cerveja, qualquer cerveja, essa pesquisa é sobre você. É um mapa do comportamento nacional, não uma corrida pela cerveja mais complexa.
Responder é um ato coletivo de construção. Vai servir como ferramenta para que o mercado pare de operar no escuro. E permitir que mais mulheres, mais pessoas negras, mais jovens e mais consumidores comuns sejam vistos, ouvidos e entendidos.
É isso que faz a pesquisa sobreviver ao hype do momento e se tornar parte da história do mercado brasileiro. E é isso que garante que, no próximo ciclo, a conversa continue evoluindo, mais madura, mais diversa, mais real. 🍻