No programa de hoje do Surra de Lúpulo vamos para o 3º episódio da Série Eu, Cervejeira com a cervejeira Mariana Maranho, que é química, técnica Cervejeira, sommelière de cervejas, juíza BJCP e responsável pela Cervejaria Colombina, de Goiás. Para relembrar, nós já falamos nessa série com a querida e super premiada Ingrid Matos, da Cerveja Masterpiece e com a Fernanda Ueno, da Japas Cervejaria.
▶️ Ouça o episódio na íntegra:
Se apresenta para os nossos ouvintes contando um bocado da sua história antes e depois da cerveja. Como foi sua escolha de Cervejeira?
Mariana em 06 ’40”: Nunca imaginava trabalhar com cerveja na época da faculdade. Eu nem gostava muito de cerveja. Eu ia nos botecos perto da faculdade e eu tomava dois copinhos de cerveja e pensava “isso não é pra mim não”. E aí no meio da grade curricular entrou bioquímica industrial, então a gente começou a aprender sobre bebidas. E aí eu tive uma aula só sobre cervejas. E isso me deu um estalo, porque tinha um processo muito interessante de fazer cerveja. Então fui pesquisar um pouco sobre cervejas artesanais, e aí provei e gostei muito de cerveja artesanal. E aí, na época, eu não queria fazer mestrado etc, eu queria mesmo trabalhar na indústria. Antes, muito antes de fazer faculdade, eu pensava em fazer química, para a polícia, ser química de perícia criminal. Aí lá no meio da faculdade, tomei a primeira cerveja artesanal na vida e amei! Pesquisei “como faz pra ser cervejeira” no google. E aí ele me mandou um site que apontava para a escola de Manaus. Cliquei lá e tinha o curso técnico de mestre cervejeiro. Nunca tinha feito cerveja na minha vida, mas tinha me interessado muito pelo universo. Na hora que cheguei lá, a aula era introdução à cerveja, e eu como estudante de química, me senti em casa.
Mariana conta também que quando foi procurar emprego na área de indústria cervejeira, ao assumir a profissão cervejeira, se deparou logo de cara com o aviso “não aceitamos mulheres” 🤦🏼♀️ – o que foi uma grande frustração inicial (por motivos óbvios).
Como funciona o processo de criação das suas receitas? Existem receitas que são pensadas para ganhar concursos?
Mariana em 21’05’’: Vou quebrar vários paradigmas da profissão cervejeira agora. Mas sim, algumas criações a gente pensa exclusivamente para medalhas. Mas eu sou um pouco desapegada de medalhas, vocês acreditam? Eu já fui muito assim no começo, acho que o mercado vai moldando a gente. Eu entrei em cervejarias que não tinham foco nas medalhas. Aqui na Colombina, por exemplo, a gente inscreve muitas cervejas que não se encaixam no perfil de concurso. Então hoje estou desapegada quanto a isso. E as pessoas precisam entender também que tem muitas cervejarias que não dão muita autonomia. E às vezes não é a medalha que o seu chefe quer, ele pode querer só uma cerveja de entrada mesmo. […] Uma das coisas que as pessoas não entendem do mercado cervejeiro é sobre ser acessível, independente de medalhas. […] Quando a gente vai criar as receitas, principalmente aqui na Colombina, temos um grupinho. No grupinho temos eu, minha chefe, o Alberto, a Tati que faz toda nossa comunicação, e temos a Thais que trabalha com a parte de processo econômico etc. Então sentamos todos nós e aí a gente lembra de todo o marketing que a colombina trabalha com frutas do cerrado. E quando vamos nos inscrever para concurso, precisamos seguir com a base de frutas do cerrado. E aí criamos todos nós juntos, e o Alberto lembra a gente do marketing, e já desenhamos um rótulo junto. Quando sentamos para criar uma cerveja, ela já sai com o valor dos insumos e o rótulo desenhado. Tudo isso porque não fazemos testes, então nossa batelada é de 500 litros mesmo, e não temos muita brecha para erros.
Conta para a gente sobre a cena cervejeira no Centro Oeste do Brasil. Qual é a sua leitura, como profissional cervejeira, sobre o desenvolvimento da cerveja artesanal por aí?
Mariana em 33’18’’: Tem poucas cervejarias, comparadas ao sudeste, não são muitas. Tem por todo o estado, mas não são muitas. Uma coisa que acho muito legal aqui no centro oeste, a gente não cai em algumas modinhas, digamos assim. Quando saio para julgar em concursos, vejo muito acontecendo “ah, estão fazendo esse estilo lá nos Estados Unidos, vamos fazer”. E aqui na região, a gente tem vários estilos diferentes e únicos – uma variedade incrível – e sempre utilizando coisas da nossa cultura. Sempre com a ideia de beber menos, beber melhor e beber local. Não perdemos em variedade de estilos para nenhuma região brasileira. O que falta aqui é com relação aos equipamentos, mão de obra, manutenção.
Nossa pesquisa Retrato dos Consumidores de Cervejas 2022 trouxe algumas informações sobre os hábitos de consumo e comportamento das mulheres no mercado cervejeiro. Tais quais: apenas 29% das mulheres fazem cerveja em casa, mesmo começando a dominar a profissão cervejeira. O que você acha que poderia ser feito para mudar isso e aumentar esse percentual de cervejeiras caseiras?
Mariana em 43’34’’ : Sobre essa questão, eu já fiz cerveja em casa e estava pensando sobre minha maior dificuldade. A galera precisava criar umas automações aí, pra carregar menos peso, né? Mesmo com uma panela automática, você precisa da ajuda de alguém. Precisa estar com outra pessoa com você, para te ajudar a carregar o peso. Até as automáticas que você precisa puxar, e mesmo a de 30 litros, você precisa criar adaptações.
Quais são os projetos para o futuro?
Mariana em 48’56’’: Nossa, tem tanta coisa. Eu gosto muito de ser CLT, viu gente? A minha chefe trabalha muito mais que a gente, inclusive. Então eu busco trabalhar em cervejarias um pouco menores e que me traga essa parte de conhecimento de barril e cervejas de guarda, quero aprender na prática. Gosto muito dessa correria, de chão de fábrica. Então me falta aí trabalhar em cervejarias menores, e quero aprender fermentações diferentes. Também penso muito em dar consultoria para treinar a equipe no chão de fábrica. Daqui a uns 10 anos, quero trabalhar com consultoria mesmo.
Obrigada pelo papo incrível, Mariana!
Até a próxima!
Ouça também Surra de Lúpulo: Produção de cerveja caseira com Mariana Astolfi
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O que bebemos durante o programa? Mariana bebe Extra Stout, Poema, da cervejaria Colombina. Lud bebe Sandstorm, American Ipa da Cervejaria Deserta, do nosso mecenas, Tiago. Leandro bebe Repeteco, da Viena.
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