O Papo de Guarda é uma colaboração entre a Academia da Cerveja e o podcast Surra de Lúpulo. No episódio de hoje, Ludmyla, Leandro e Alexandre Esber debatem o tema sustentabilidade e como isso pode ser aplicado ao universo cervejeiro. Ouça na íntegra:
♻️ Quando a sustentabilidade ganhou espaço dentro da companhia?
Caio: A gente sempre olhou com muito cuidado para todos os insumos e recursos naturais que a gente usa na nossa produção, então a ambev foi uma das primeiras empresas a ter um gerente de meio ambiente, uma equipe de meio ambiente em cada uma das nossas cervejarias, isso lá em 1990 e alguma coisa. Então sempre tivemos atenção a isso. Mas confesso que nessa época era uma pegada mais econômica porque você ter processos mais eficientes, permite menor uso de recursos. A grande mudança da companhia veio por volta de 2015 e 2016 quando a gente olha pro que a gente impacta a sociedade e pro que a gente impacta a comunidade, a gente refletiu que não poderíamos ter só essa visão. E fomos além disso, lançando nossas plataformas de sustentabilidade, pensando em como minimizar o nosso impacto e ter um impacto mais positivo para o meio ambiente.
Nosso convidado explica que há 10 anos, era comum que stakeholders não gostassem das pessoas que trabalham com sustentabilidade, mas que isso foi entendido com o tempo; quando a Ambev ganha, todo mundo ganha.
Caio: De tudo o que entra numa cervejaria, 99% é reaproveitado.
♻️ Quais soluções de sustentabilidade foram aplicadas às embalagens de cervejas?
Caio: Eu diria assim, hoje o maior desafio que a gente tem não só como empresa mas como indústria são as embalagens. Quando a gente olha que as grandes companhias colocam alguns milhões no mercado e essas embalagens não tem soluções para serem recuperadas, temos um problema. Só pra vocês terem uma noção, nosso CEO tem uma meta de retorno de embalagem, é uma meta de sustentabilidade. Mas não queremos entrar no lugar comum de reclamar do consumidor ou do governo, quem coloca a embalagem na rua somos nós, então isso precisa vir da gente. Estamos investindo muito em tecnologia. Tem uma startup que está trabalhando com a gente, chamada Growpack, ela está trazendo uma solução de palha de milho para fazer o label que junta as latinhas de alumínio de palha de milho. Outra solução é fazer garrafa de vidro a partir de caco de vidro. Então estamos investindo em soluções que aproveitam melhor nossas embalagens, que causem o menor impacto ao meio ambiente e tentando levar soluções favoráveis ao consumidor.
Para responder a próxima pergunta, convidamos Luiz Junior, especialista no processo de água cervejeira, da Academia da Cerveja.
A água como ingrediente essencial para produção de cerveja é uma das preocupações que toda cervejaria deveria ter. Quais são as ações de sustentabilidade no que diz respeito a ela?
Luis: Eu gosto de falar bastante que a gente tem que conhecer o nosso processo e entender como funciona. Mas pra isso a gente precisa ter medições, acompanhamentos, monitorar e agente ter uma visibilidade e pensar em ter consumo otimizado. Para pequenos produtores, o grande ponto interessante é começar a entender a quantidade de água utilizada. O outro ponto é em cada etapa conhecer qual é o volume que tenho da minha brassagem. Qual é o volume de água da minha medição? Colocar um balde e fazer cálculos simples para otimizar seu processo. É muito importante entender o tamanho do nosso negócio. Só a partir disso podemos entender os gaps e ir aprimorando o negócio. To falando no aspecto de sustentabilidade, aspecto econômico e socioambiental. Já para cervejarias maiores, a gente deve fazer correlações de consumo, buscar utilizar medidor nas etapas industriais.
♻️ Quando falamos de sustentabilidade, não é uma solução pontual. Envolve todo um sistema. Como esse processo de cultura e formação é apresentado aos funcionários da AMBEV?
Caio: Quando você olha para a AMBEV, a gente opera em oito países. A gente tem aproximadamente quarenta mil funcionários. Hoje a gente tem iniciativas internas, mas não acho que sejam suficientes. Temos escritórios sustentáveis, com lixeira para cada tipo de resíduo, temos soluções implementadas desde o banheiro. Conseguimos conectar a água da torneira para ser reutilizada para a descarga – e você economiza uma quantidade de água brutal. Convidamos nossos funcionários a fazer trabalho voluntário, e temos um programa de reflorestamento de florestas. A gente intervém numas bacias, e você plantando água nesses locais a água volta em volume maior.
🛑 Ouvi muitas perguntas que nos deixam na dúvida se são verdadeiras ou se é coisa de tia do zap. Vamos quebrar alguns mitos?
A indústria cervejeira é uma grande poluidora de rios e nascentes?
Caio: Isso é coisa de tia do Zap! Todas as grandes cervejarias têm processo de tratamento de todos os efluentes que são muito rigorosos. A gente tá submetido a fiscalização, a gente padrão de todo efluente que precisa sair de toda cervejaria e por aí vai. A cervejaria artesanal trata tudo com o sistema de esgoto comum, então não tem poluição de água.
A geração de gás carbônico durante o processo de fermentação tem impacto sobre o efeito estufa?
Caio: Não, hoje não tem impacto, mas vou explicar porquê. Hoje a gente captura todo gás carbônico que sai do processo de fermentação e a gente reutiliza ele no processo de produção. Hoje, dentro de uma cervejaria grande esse gás é recapturado e reutilizado, então tem zero impacto. Posso dizer que a quantidade de gás carbônico produzido é muito pequena.
Cervejas produzidas em locais com fontes de água são melhores?
Caio: Essa é tia do zap total! Mas respondendo a pergunta, existe a água cervejeira que você tem um parâmetro para fazer cerveja. Inclusive, você pode mudar o parâmetro dependendo do tipo de cerveja que você vai fazer. Mas você consegue chegar nessa água cervejeira em qualquer local e com uma qualidade muito alta. Obviamente você tem um ponto de impacto que volta para parte da eficiência. Se você tem uma cervejaria num local onde a água está próxima do parâmetro, será um processo mais rápido. Se você está num local onde a água está muito longe do parâmetro, você vai precisar trabalhar para ficar adequado a fazer cerveja. Mas o parâmetro existe para cada tipo de cerveja.
☎️ Agora, vamos seguir com perguntas dos nosso ouvintes: Quantos litros de água são necessários pra produzir um litro de cerveja?
Caio: Isso varia um pouco dependendo da eficiência de algumas cervejarias. Hoje, em maior eficiência, utiliza-se 2 litros de água para cada litro de cerveja. Esse seria o benchmark mundial. A gente tem algumas cervejarias do brasil que operam dentro desse parâmetro. Mas a média é de 3 litros de água para cada litro de cerveja.
☎️ Vi que existe no caribe uma cerveja feita com a água do mar. Eu realmente posso confiar?
Caio: Olha, tecnicamente falando seria possível fazer com água de mar [após processo de dessalinização]. Mas não existe cervejaria do caribe que trabalhe com água do mar.
♻️ Qual seria sua dica de sustentabilidade para cervejeiros caseiros?
Caio: Posso dar três dicas, uma que gosto muito é sobre ingredientes. Se os cervejeiros caseiros conseguirem comprar ingredientes que vêm de cultura orgânica, vai ser um produto melhor, de boa qualidade. A segunda, trabalhar com os bares que vocês conhecem pros bares fazerem a destinação adequada das embalagens. E a terceira é o cuidado da água. Começar a acompanhar o uso da água nos seus processos.
Caio finalizou o bate papo dando a dica para os consumidores: cuide das suas garrafas retornáveis, troque pelo líquido com desconto, e dê a destinação adequada à lata, ou garrafa plástica.
O bate papo foi incrível e voltaremos em dezembro! O Papo de Guarda é uma colaboração entre a Academia da Cerveja e o podcast Surra de Lúpulo. Até o próximo papo de guarda, pessoal!
