“Eu, Cervejeira” é a nova série do nosso podcast. E para iniciarmos com o pé direito, convidamos Ingrid Matos, mestre da cervejeira da Masterpiece, uma das cervejarias mais premiadas dos últimos anos.

O currículo da cervejeira

Ingrid é nascida em Salvador, criada em Minas e agora vive no Rio de Janeiro. Ela é formada em engenharia química, já focou em gestão ambiental e processos químicos, até que descobriu o processo de fazer cerveja e começou em casa. Começou sua carreira na cervejaria Verace, em Nova Lima (Minas Gerais) e já no local experimentou participar da conquista dos primeiros prêmios. Logo depois, foi para Angra dos Reis (Rio de Janeiro) para trabalhar como cervejeira da Mistura Clássica e pode viver a experiência de um mercado completamente diferente do mineiro.

“O mercado carioca é muito diferente do mercado mineiro. O público é diferente, o gosto do consumidor é outra coisa. Minas, ao menos na região ao redor de Belo Horizonte, tem mais conhecimento, mais hora copo e aqui no Rio eu descobri uma cultura maior de ciganas, um público que gosta de tomar uma cerveja sob um sol de 45ºC. Então aqui, a forma que a bebida envolve as pessoas é diferente de Minas.”

No início da pandemia, ela assumiu um novo desafio, ir para Niterói e aceitar a proposta e planejamento da cervejaria Masterpiece.

A criação de uma receita na cervejaria Masterpiece

Uma grande diferença que ela destaca na Masterpiece é o quanto ela é uma empresa planejada e que este fator a apoia muito na produção de suas cervejas.

“A primeira coisa que ele (o André) pensou foi a possibilidade de fazer batchs menores. Porque como a gente não tinha visibilidade no mercado, não tinha como fazer dois mil litros e esperar a cerveja sair. Isso viabiliza qualquer criação minha. Eu basicamente posso acordar e falar, hoje eu quero fazer uma cerveja com café.”

O tão destacado planejamento permite que a fábrica tenha tanques de cem a quatro mil litros. Além disso, existe uma troca constante com o comercial e com a produção.

Ingrid conta um pouco sobre o que a inspira.

“Eu associo muito o que eu estou comendo com o que poderia combinar, harmonizar. O que poderia estar ali naquele momento. Então, todo o meu processo de criação eu sempre penso no resultado final. O que eu queria ali naquele momento e eu venho fazendo o caminho contrário, sabe? Qual malte eu preciso para ter essa sensação de boca? Qual lúpulo? Qual levedura?”

A rotina dentro de uma fábrica

“O ‘glamour’ cervejeiro é incrível. Eu tenho uma rede que fica entre os tanques de quatro mil, no qual eu fico deitada experimentando as cervejas.” Ingrid brinca gargalhando.

Falando sério, a cervejeira destaca que todo dia é uma caixinha de surpresa e que apelida de “Caverna do Dragão”. Por que você não sai nunca, sempre que você estiver saindo algo vai acontecer e irá exigir sua atenção.

O trabalho vai muito além de conhecer as receitas, é necessário ter um conhecimento e atenção para saber entender o que a fábrica está “dizendo” por seus sinais. Reconhecer barulhos de bomba, ver motor, sistema de frio está refrigerando.

“É interessante para a pessoa que queira assumir uma fábrica, ela tenha conhecimento de elétrica, de mecânica, de humanas. Por que lidar com funcionário não é uma coisa simples.”

Como se os imprevistos dos equipamentos não fossem o suficiente, existem as surpresas comerciais e oportunidades de aquisição e uso de insumos específicos.

“Uma alta de venda de um produto do nada que você não consegue assumir aquilo com o comercial, então você se desdobra, você se vira, se mata para deixar uma cerveja maturar. Você corre atrás de qualidade, de repetitividade. Então, são muitos fatorezinhos e o glamour cervejeiro é um mito muito bonito.”

Os prêmios da Masterpiece

No Concurso Brasileiro de Cervejas:

  • Queen Elizabeth I (English Pale Ale);
  • Jan Matejko (Pale Schoeps);
  • Dortmund (Adambier);
  • Halio Blumenau (Amercian Oktoberfest);
  • Brussels Beer Challenge:
  • Dark Sour com Mirtilo e Framboesa (Sour Ale);
  • Mona Lisa (Catharina Sour com Morango e seriguela).

The Internacional Beer Challenge 2021:

  • Mona Lisa;
  • Dark Sour com Mirtilo e Framboesa.

Brasil Beer Cup:

  • melhor cervejaria do Brasil de pequeno porte;
  • sete medalhas, entre ouro e prata.

Mondial de La Bière.

  • Van Gogh (Dark Sour com Mirtilo e Framboesa);
  • Barley Wine.

A tendência de cervejas para 2022 pelo olhar da cervejeira

“A tendência do mercado brasileiro é bem variada. A gente aposta em alguma coisa e outras, do nada, vem e abrilhantam o mercado. Eu acredito muito que as lagers estão voltando.”

Em contraponto ao interesse em lúpulos, amargores e aromas mais definidos a Ingrid percebe que pode ser o momento dos consumidores começarem a buscar algo que exija mais sensibilidade e seja menos direto.

A cervejeira também destaca a mudança de comportamento dos consumidores, que passaram a pedir cervejas artesanais de casa, pelo delivery – algo que ainda não era considerado e o consumo estava sempre vinculado a um ambiente expecífico.

“A tendência é exatamente essa, acolher quem está em casa querendo descansar e tomar uma cerveja muito boa e que cause uma explosão de sensações. E eu acho que para não assustar ninguém e afins, a lagger vai poder abraçar esse mercado.”

Nesta edição a Lud bebeu água, Ingrid estava com uma Heineken para encerrar o dia e Leandro abriu uma Kawa Kawa da cervejaria Tábuas.

Se você gostou desse programa, escute também:
O programa com o Jr. Bottura, da cervejaria Avós.
O programa com o Padilha.
O programa com a Roberta da Zapatista.

Leandro Bulkool

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