No episódio 78 do nosso podcast sobre cervejas artesanais, Surra de Lúpulo, empreendedorismo feminino na Bahia é o tema para debate e reflexão com Debora Lehnen, proprietária da PROA Cervejaria, e Priscila Pessôa, Presidente da Acerva Baiana.
Mulheres potentes no mercado cervejeiro baiano
Ainda tímido, o mercado cervejeiro baiano vem caminhando aos poucos a fim de se destacar no Nordeste e ganhar o Brasil, batendo de frente com cervejarias do Sul e Sudeste. No entanto, Debora Lehnen e Priscila Pessôa têm competência o suficiente para ajudar a Bahia a se desenvolver na educação cervejeira.
Nascida no interior do Rio Grande do Sul, desde pequena Debora lidou com o artesanal, pois seus pais fermentavam pão e refrigerante. Em um estado onde a cultura cervejeira é tradicional, logo veio a curiosidade de saber como fazer cerveja.
“Sempre tive curiosidade de ver como água, malte, lúpulo e levedura dão tantos resultados diferentes. Em 2010, comecei a fazer cerveja em casa bem despretensiosamente e quando me mudei para a Bahia, em 2014, fui trabalhar como gerente de projetos em uma empresa química e não tinha cervejas artesanais locais. Então me vi no compromisso de fazer minha própria cerveja pra me abastecer e a produção começou a ficar mais interessante do que meu trabalho, despertando meu lado empreendedora. Vi nisso um gap de mercado e para investir na área me organizei financeiramente para conseguir estudar”.
Em 2017, Debora voltou para Salvador para colocar de pé seu projeto e em 2018 nasceu a PROA Cervejaria.
Ouça o episódio sobre representatividade no mercado cervejeiro com Madu Vitorino!
Já Priscila tem uma história parecida, mas ao mesmo tempo diferente. A presidente da Acerva Baiana já fez um pouco de tudo, como solda industrial, trabalhando embarcada… fez Biologia e trabalhou em um laboratório de inseminação artificial.
Mas foi após a transferência do marido do Rio de Janeiro para a Bahia que encontrou a paixão pela gastronomia.
“Na gastronomia, comecei a ver que eu era consumidora de cerveja. Vi que o pessoal gostava de outras bebidas e aquilo me incomodava do porquê não usar a cerveja. Aí sugeri ao meu professor se eu podia fazer uma cerveja. Nunca tinha feito uma cerveja na minha vida. Foi quando eu achei a Acerva para fazer o workshop de produção de cerveja”.
Seu projeto final foi uma cerveja que tinha coco como um dos ingredientes. Encantada pela gastronomia baiana, fez várias especializações cervejeiras e seu foco é misturar cerveja com comida, de preferência comida regional.
Empreendedorismo baiano
Ter uma empresa no Brasil já é difícil por inúmeros motivos, mas de acordo com Debora, segundo pesquisas, a Bahia é o pior estado para empreender. Com uma carga tributária dificultando a competitividade, a capital Salvador não permitia a instalação de cervejarias em qualquer lugar, apenas em locais distantes.
Por conta disso, a PROA Cervejaria está instalada em Lauro de Freitas, cidade da região, mas que contém inúmeras dificuldades para o sucesso do negócio. Sem saneamento básico, instabilidade na rede elétrica e problemas de logística, aumentando o preço do frete, Debora ainda precisa lidar com o monopólio das grandes cervejarias em Salvador, como os contratos de exclusividade com bares e no Carnaval, dificultando a penetração no mercado.
Apesar das dificuldades, Debora acredita que a Bahia é um oceano azul de possibilidades, pois a concorrência ainda é pequena entre as cervejarias artesanais.
Mulheres e a cerveja
Em relação aos outros estados do Nordeste, a Bahia tem um cenário bem particular, já que o tabu é grande com a cerveja. De acordo com Priscila, as pessoas ainda não têm educação cervejeira, optando por quantidade em vez de qualidade.
Em um ambiente e mercado dominado pelos homens, a presidente da Acerva Baiana foi quebrando aos poucos a resistência por sua presença na associação. Primeira mulher no cargo, Priscila lembra que os homens monopolizavam as decisões e que o cargo é bem complexo, ainda mais em um período pandêmico como o que vivemos.
Empreendedorismo feminino
Com uma visão histórica e trazendo as famosas baianas para o debate e reflexão, Debora lembra que muitas mulheres são chefes de família na Bahia, muito pela questão histórica pós-escravidão e os tabuleiros de acarajé sendo passados de uma geração a outra.
Em relação ao mercado cervejeiro, Debora conta que 67% de seus funcionários são mulheres e aproveita para destacar que o consumo local de cerveja vem aumentando entre o público feminino.