No episódio 22 do nosso podcast sobre cervejas artesanais, Surra de Lúpulo, vamos entender mais sobre negócios no tema: criando uma cervejaria com Pedro Butelli, um dos fundadores da Hocus Pocus. Objetivo, transição de cervejaria cigana, linguagem visual, pandemia e muito mais no aniversário de 6 anos da marca.
Criando uma cervejaria: nasce a Hocus Pocus
Fundada em 2014 no Rio de Janeiro por Pedro Butelli e Vinicius Kfouri, a Hocus Pocus tem, de acordo com Butelli, a missão de evoluir a arte da cerveja.
“A gente tentou escrever em uma frase bem curtinha, pode soar grandiosa demais, mas acho que ela condensa muita coisa: ‘A razão de existência da Hocus Pocus é de evoluir a arte da cerveja’. Parece muito ambicioso, mas fala muito sobre a forma como a gente vê cerveja, como fazer cerveja e como queremos expressar o que tem dentro da gente em forma de cerveja”.
Antes uma cervejaria cigana, hoje conta com uma fábrica própria em Três Rios, interior do estado. E um dos pontos que mais chama atenção de seu público é a sofisticação da identidade visual dos rótulos, sempre contando com algum ‘easter egg’.
Sucesso da identidade visual
Leandro logo destacou os rótulos da Hocus Pocus pelo vislumbre e requinte visual, trazendo um ‘tempero’ a mais para os fãs de cerveja artesanal. Sobre o processo de criação, Pedro conta que depende bastante de produto pra produto e que os easter eggs ajudam a instigar os fãs de cultura pop em busca de referências.
“É bem passo a passo. Por isso que a gente fica surpreso ao olhar pra trás e ver que as coisas estão seguindo um certo padrão. Eu sempre fico muito feliz quando alguém fala que tem uma consistência entre os rótulos porque não tinha um plano desde o início. Acho que tinha uma base do tipo ‘do que a gente gosta?’, tipo de música, arte, a gente se baseou nisso e foi botando pra fora, meio que criando uma história entre um rotulo e outro. A preocupação não foi fazer um roteiro que fizesse sentido em longo prazo, mas foi fluindo e funcionou”.
O que é easter egg?
Para quem não está familiarizado com o termo ‘easter egg’, mais conhecido entre fãs de cultura pop, Pedro Butelli explica o que é e como costuma ser usado nas artes da Hocus Pocus.
“É como se fossem uns ‘presentinhos’, umas ‘curiosidades’, que você coloca escondidas em alguma obra como uma referência à alguma outra coisa. A gente costuma ter nos nossos rótulos. Em um deles a gente faz uma referência a Rick & Morty, o desenho. A gente gosta de brincar com isso”.
Processo de criação de cerveja da Hocus Pocus
Pedro conta que varia bastante de cerveja para cerveja e que, enquanto Vinicius fica mais focado no líquido, sua função é ficar de olho no visual, na personalidade do produto.
“Os rótulos e a comunicação dela, o nome, as peças de redes sociais, eu imagino essa cara toda baseado tanto nas características da cerveja quanto onde quero encaixar essa cerveja no mundo da Hocus Pocus, em relação às outras que a gente já fez”.
“Pego a ideia que quero criar pra imagem do rótulo, tento desenhar os elementos, perspectiva, referencias e tento construir uma imagem. Daí procuro um artista pra passar isso pro papel, o briefing costuma ser bem detalhado”.
De cervejaria cigana à própria fábrica
Situada em Três Rios, na região serrana do RJ, a criação da fábrica da Hocus Pocus mudou bastante a visão dos sócios em termos de negócios e pessoais. De acordo com Pedro, a responsabilidade fica muito maior, com muito mais em jogo e foi um passo importante em sua vida.
“Um dos motivos pra gente tomar essa decisão foi a liberdade criativa, liberdade da gente criar o que puder sem as amarras que a gente poderia ter em outras cervejarias. Você ter a sua casa é outra coisa. Você pode mudar processos, pode fazer o que quiser ali dentro. A responsabilidade é muito maior, mas a liberdade é muito maior, e a segurança, até certo ponto, é até maior, você tem uma estabilidade”.
Escassez de insumo
Com a crise econômica e política do país e o aumento do dólar, a escassez de insumos importados, como o lúpulo, é uma grande preocupação dos empresários cervejeiros.
“Esse é um problema que vai vir como um meteoro caindo na fábrica. Eu não consigo me precaver disso com muita certeza. O que a gente pode fazer? Isso acontecendo – o preço do lúpulo crescendo por causa do dólar -, a gente tem contratos que conseguem segurar um pouco esse preço. As IPAs vão ficar muito mais caras, o volume delas vai cair porque menos pessoas vão comprar, então o portfólio das cervejarias vai migrar para cervejas sem lúpulo”.
Sustentabilidade
Pedro afirma que esse é um dos pilares da Hocus Pocus e para isso, o foco é em ter uma unidade em envase de lata. Além de incentivar esse tipo de recipiente e forma de vender cerveja pela sustentabilidade, destaca os benefícios na conservação.
Outro ponto é ter uma fábrica autossuficiente, utilizando painéis solares, mas a pandemia atrapalhou os planos. Mas a Hocus Pocus já conseguiu diminuir em 40% o consumo da água ao reutilizá-la para a limpeza do local. E o bagaço do malte é doado para fazendas próximas.
Impactos da pandemia
Pedro conta que a Hocus Pocus tomou um susto e se viu em uma situação desesperadora na pandemia. Para aplacar os efeitos do momento, decidiram diminuir a fabricação e trabalhar outros canais de venda, como o delivery do bar e da fábrica e a implantação de um e-commerce às pressas. Com o objetivo para continuar com o negócio sem precisar demitir ninguém, o que conseguiu.