No programa de hoje do Surra de Lúpulo, vamos falar de um assunto que tem a ver com cerveja e comida, mais especificamente Comida di Buteco. Estamos aqui com Felipe Tosta, que é formado em comunicação social e relações públicas pela PUC Minas, pós-graduado em gestão cultural, especialização em marketing, gestão pela Fundação Dom Cabral e muito mais. Ele está no Comida di Buteco desde 2010. Hoje é sócio-diretor de operações. Ouça o episódio na íntegra!
História do Comida de Buteco
O Comida di Buteco é um concurso incrível que elege os melhores botecos da cidade, ou melhor, das cidades. Considerado o maior evento gastronômico de Minas Gerais e um dos maiores do Brasil. Sua popularidade desafia barzinhos e bares a servir uma comida perfeita para ser petiscada junto com uma cervejinha. Com essa influência, os vencedores lotam restaurantes e barzinhos.
Como o Comida di Buteco começou?
Filipe, nosso convidado, explicou:
“As origens são sempre boas. Falamos muito sobre isso no Comida di Buteco. A maior inovação do Comida di Buteco é manter seu propósito sempre, ser fiel a ele. Muitas vezes, as pessoas associam inovação apenas à tecnologia ou a coisas novas, mas no nosso caso, a inovação é manter o propósito e ser fiel a ele. Vamos falar um pouco da história do Comida di Buteco, que começou em 2000, em Belo Horizonte, dentro da Rádio Gerais, uma rádio segmentada para um público adulto que gostava de música boa, como Skank, Jota Quest, Sepultura, Pato Fu, no fim da década de 90.”
O proprietário dessa rádio criou um programa chamado Momento Gourmet, que buscava pessoas para falar sobre comida em Minas, porém, Filipe complementa que falar de comida em Minas sem mencionar os botecos seria quase impossível. Uma das pautas desse programa [da rádio] eram os botecos, e naquele momento, em BH, começaram a surgir redes de bares, mas com um propósito diferente do Boteco Raiz, que é o boteco familiar. Através do programa e da participação de donos de botecos, surgiu a intenção de resgatar, valorizar e incentivar a criatividade dos pequenos botecos familiares. Tosta diz que esse foi o pilar do nascimento do Comida di Buteco: resgate, valorização e incentivo à criatividade do pequeno boteco familiar.
Em BH, chamava-se boteco, no Rio era botequim e em São Paulo era barzinho. O programa ficou na rádio por aproximadamente 3 ou 4 anos. A rádio foi vendida e, então, Eulália e Eduardo, juntamente com João da Rádio, abriram a empresa Comida di Buteco e começaram a realizar o concurso em Belo Horizonte e algumas cidades de Minas Gerais, sempre com o propósito de envolver botecos familiares. Desde o início, o conceito foi o mesmo: só podem participar do Comida di Buteco bares onde os donos e suas famílias estão à frente do negócio. Esse conceito é imutável, guardado como um grande tesouro do projeto.
“A missão do Comida di Buteco é transformar a vida dos donos de boteco através da comida deles, fazendo do boteco uma extensão da casa das pessoas. No início, falávamos muito sobre gastronomia e valorização da cozinha nacional. O propósito foi se mostrando através do dia a dia, quando os bares nos contavam como participar do projeto mudou suas vidas. Muitos passaram a ter orgulho de serem donos de boteco, conseguiram melhorar suas vidas e seus negócios.”
A história dos botecos no Brasil passa fortemente pelo Rio de Janeiro, com a chegada dos portugueses na região portuária, explica Filipe. Os botecos começaram como mercearias portuguesas, frequentadas por homens após o trabalho. As mulheres não estavam presentes porque os homens estavam trabalhando. A comida deu voz a essas famílias, mostrando que as mulheres podem estar lá e ter orgulho de seus botecos. Fazemos essa corrente do bem para dar visibilidade e melhorar os bares, promovendo um ciclo virtuoso onde os donos podem viver bem de seus negócios.
“Nosso propósito sempre existiu, mas só conseguimos materializá-lo ao longo do tempo, percebendo que o Comida di Buteco é uma plataforma de transformação de vidas.”
Com 24 anos de história, quais foram as lições mais importantes que vocês aprenderam com erros e com acertos?
Filipe reflete sobre o amplo espectro de tópicos relacionados ao projeto Comida di Buteco. Ele menciona que, no início, o evento era realizado em diferentes épocas do ano, o que mudou com o tempo. Hoje, o Comida di Buteco acontece simultaneamente em todos os circuitos durante o mês de abril, ao contrário do período até 2011, quando era fragmentado e realizado em diferentes locais a cada mês. Essa mudança operacional trouxe mais força ao projeto, pois permitiu uma maior fixação do evento no calendário brasileiro, transformando abril no “mês dos botecos” no Brasil, semelhante ao que ocorre com outras celebrações, como festas juninas, Páscoa e Carnaval.
“Nós nos tornamos guardiões desse boteco raiz. Por mais que vocês entrem na rede social, tem gente que fala que a gente gourmetiza o bar. Nós acabamos nos tornando os guardiões.”
Nosso convidado também destacou que essa unificação foi um grande aprendizado e contribuiu significativamente para o fortalecimento do evento. Ele mencionou que antes, o Comida di Buteco, apesar de forte, parecia ser composto por projetos distintos. A união desses eventos em uma única data trouxe uma maior visibilidade, tanto na mídia espontânea quanto no reconhecimento do público. Além disso, ele ressalta a importância de considerar as características continentais do Brasil e não focar apenas na Zona Sul das cidades, reconhecendo o valor das histórias que surgem das periferias.
Uma curiosidade mencionada por Tosta foi a questão do preço do petisco, que antigamente era livre, mas hoje é fixo. Isso aconteceu porque, no passado, alguns bares aumentavam os preços significativamente durante o evento, o que impactava negativamente a percepção do público. Para resolver isso, a organização do Comida di Buteco estabeleceu um teto e, posteriormente, um preço fixo para os petiscos, facilitando a comparação entre os participantes e mantendo a essência dos botecos tradicionais. Atualmente, o preço fixo do petisco é de R$35,00.
Por fim, Tosta enfatizou que o objetivo do Comida di Buteco é levar visibilidade aos botecos sem alterar sua essência, permitindo que eles sobrevivam e prosperem. Ele reconheceu a necessidade de uma estrutura mínima para que os estabelecimentos possam continuar operando de maneira sustentável.
Hoje o concurso ocorre em 25 cidades (nos estados MG, GO, RJ, SP, PR, RS, DF, PE, CE, PA, AM e BA), quais são os planos de crescimento e quais as cidades que têm a maior participação do público?
“A gente já está em Santa Catarina com três cidades, no Paraná com três, no Rio Grande do Sul com Porto Alegre e na região metropolitana, estamos no Distrito Federal, estamos no Ceará. Estamos em Pernambuco, estamos em Belém, estamos no Amazonas, Manaus.”
Filipe explica que a expansão do Comida di Buteco pode ocorrer de duas maneiras: A primeira é aumentando o número de bares participantes.
Ele destacou que no Rio de Janeiro, por exemplo, o número de bares participantes cresceu de 70 para 150, incluindo regiões como a Baixada Fluminense e Niterói, além de áreas dentro da cidade que antes não eram exploradas. Essa é uma forma de expandir o alcance do evento.
A segunda maneira é através da inclusão de novos municípios e estados no circuito. No entanto, Tosta mencionou que atualmente não há planos para abrir novas localidades, pois em 2023, o evento já se expandiu para Londrina, Maringá, Blumenau e Joinville, regiões do sul do Brasil. Ele enfatizou a importância de consolidar essa expansão recente antes de considerar novas adições.
Ele também ressaltou que a gestão do Comida di Buteco é artesanal e personalizada, diferente de grandes agências que organizam diversos eventos simultâneos. Ele e sua equipe mantêm um relacionamento próximo com os bares participantes, o que se torna um desafio à medida que o número de participantes cresce. Atualmente, com 1.200 botecos participantes, é difícil garantir cobertura e suporte adequado a todos.
Filipe diz que, embora a expansão seja um objetivo, é necessário cuidado para não comprometer a qualidade e a essência do evento. Tosta destacou o potencial de crescimento dentro das próprias regiões já atendidas, como a Baixada Fluminense e Niterói, além de bairros na capital do Rio de Janeiro que ainda não possuem bares participantes.
É importante também trazer inovação e oxigenar o circuito existente, considerando que abrir novos circuitos requer tempo e maturação. A expansão dentro dos circuitos atuais é uma forma de manter o evento dinâmico e atrativo.
Vocês já mapearam qual é o resultado do crescimento dos bares quando ocorre o Comida di Buteco? Vocês acompanham a vida dos bares vencedores?
“Os bares, em média, aumentam 40% de faturamento, mas não é incomum a gente ouvir bares falando que aumentaram 70%, 80%, dobrou, triplicou.”
Filipe conta que o Comida di Buteco usa um número conservador, mas realista, ao afirmar que os bares participantes registram um aumento médio de 40% no faturamento geral. Esse crescimento inclui, naturalmente, a venda de cerveja, pois a experiência de ir a um boteco envolve não apenas o consumo de petiscos, mas também de bebidas. Embora existam outras opções como destilados, drinks e vinhos, que antes eram menos comuns, o Comida di Buteco ajudou a ampliar o leque de ofertas nos bares, permitindo que o consumidor encontre mais variedade e não precise sair para outro local.
Falando especificamente do impacto econômico, os bares não só aumentam o faturamento, mas também contratam mais funcionários. Em 2023, foram gerados 13 mil empregos diretos nos bares em todo o Brasil, evidenciando o poder do movimento. Tosta mencionou que o Comida di Buteco movimenta cerca de 350 milhões de reais no Brasil, destacando a relevância do concurso para a economia brasileira.
Sobre o acompanhamento dos bares participantes, Tosta citou o exemplo da Manuela, da Peixaria Divina Providência, eleita o melhor boteco do Brasil. Ele ressaltou a proximidade que a organização mantém com os bares, acompanhando suas trajetórias e observando o impacto do evento em suas vidas e negócios. Outro exemplo mencionado foi o Bar do Davi, no Morro de Chapéu Mangueira, no Rio de Janeiro. Antes do Comida di Buteco, o bar não era formalizado e pouco frequentado fora da comunidade local. Após participar do concurso, o bar ganhou visibilidade, se formalizou e se tornou uma referência na cidade.
Tosta enfatizou que o trabalho do Comida di Buteco é contar histórias, e para isso, é necessário conhecer profundamente os bares e suas histórias. Ele destacou que a organização não atua como curadora ou gourmet, mas sim como contadora de histórias, acompanhando de perto os bares participantes e observando suas transformações ao longo do tempo. Estar próximo desses botecos é um pilar fundamental do trabalho realizado pelo Comida di Buteco.
Para finalizar, gostaríamos de dizer que nós, do Surra de Lúpulo amamos o Comida di Buteco justamente por aumentar essa comunidade de quem ama uma botecagem.
tim-tim e até a próxima
Beba com moderação.
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