Você já se perguntou por que a cerveja que você bebe para “ficar leve” pode, na verdade, estar te enganando? Neste episódio do Surra de Lúpulo, Ludmyla Almeida e Henrique Boaventura embarcam numa conversa que aborda contexto histórico, curiosidades de mercado e muitos insights sobre as famosas — e nem sempre tão leves — cervejas de baixo teor alcoólico.
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Muito antes do hype: a origem histórica das low alcohol
Apesar de parecer uma tendência recente, as cervejas com pouco álcool existem “desde sempre”. E, ao contrário do que se pensa, elas não nasceram com a proposta consciente de “pegar leve”.
Na verdade, muitas tinham baixos teores alcoólicos por limitações técnicas da época: falta de controle de fermentação, leveduras pouco eficientes e até em função do reaproveitamento de malte. Por isso, uma porção de estilos clássicos como Bitters e Milds britânicas (muitas com menos de 3% de álcool), Czech Pale Lager, Berliner Weisse e a Patersbier belga acabam sendo exemplos históricos de cervejas naturalmente leves.
Durante o período que envolveu as duas guerras mundiais, na primeira metade do século XX, o baixo teor alcoólico também foi uma forma de baratear a produção diante da escassez de insumos e das dificuldades de transporte e abastecimento internacional ocasionados pelos conflitos. Era o que se conseguia fazer, e isso abriu caminho para costumes e tradições que seguem até hoje — ainda que as razões atuais sejam bastante diferentes.
O que diz a legislação sobre “baixo teor alcoólico”?
A definição do que é uma cerveja de baixo teor alcoólico varia bastante entre os países:
- Brasil: de 0,5% a 2% de álcool (de acordo com a Instrução Normativa n.º 65/2019 do MAPA).
- Estados Unidos: as “non-alcoholic” têm até 0,49%, e as “low alcohol” até 2,49%.
- Reino Unido: as “free from alcohol” até 0,05%, as “low alcohol” até 1,2%.
- Alemanha: segue normas similares, sempre respeitando a Reinheitsgebot, a Lei da Pureza Cervejeira, promulgada em 1516.
O curioso é que rótulos “light” nos EUA muitas vezes ultrapassam os 4% de álcool, enquanto aqui no Brasil, isso já é considerado padrão. Uma questão que mistura marketing e percepção do consumidor.
Produzir low alcohol é fácil? Spoiler: não!
Transformar um estilo clássico em uma versão de baixo álcool é um desafio técnico!
Ao reduzir o teor alcoólico, é preciso compensar a perda de corpo e sabor da cerveja. De modo que exige controle preciso na mosturação (em temperaturas mais altas para gerar açúcares não fermentescíveis), redução no uso de malte e ajustes sensoriais delicados.
Além disso, essas cervejas têm menos margem para erros. Numa IPA, o excesso de lúpulo pode mascarar falhas; numa Session IPA, não. É necessário equilíbrio e técnica para manter a identidade da cerveja mesmo com menor teor alcoólico.
Outro ponto importante: mesmo usando leveduras comuns, a fermentação precisa ser ajustada. Menos malte, menos “comida” para a levedura, resultando em menos álcool — mas também em menor estabilidade microbiológica. São cervejas frescas, para consumo rápido. Nada de guarda!
Mercado americano: o império das cervejas leves
Nos EUA, o mercado de cervejas de baixo teor alcoólico já ultrapassou o das versões padrão. Dados da Nielsen mostraram que 6 das 10 cervejas mais vendidas são “light”. Bud Light, Coors Light, Miller Light — todas com teores que beiram os 4.2%.
Mas o “light” americano vende mais do que leveza. Vende saúde, esportes, estilo de vida ativo e… muita propaganda. O marketing, assim, é agressivo, associa a bebida ao bem-estar e entrega packs com dezenas de latas ou até barris para consumo doméstico.
Estamos bebendo “light” sem saber?
Assim, a grande provocação do episódio surge quando percebemos que as cervejas consideradas “light” nos EUA têm o mesmo teor alcoólico que Brahma, Skol e Heineken no Brasil. Ou seja: estamos bebendo cervejas leves, só que ninguém está nos contando isso.
É uma questão de narrativa. Lá, “light” vende. Aqui, nem tanto. E talvez esteja na hora de mudar esse discurso…
Conclusão: entre técnica, tradição e marketing
As cervejas de baixo teor alcoólico têm história, técnica, mercado e propósito. Vão muito além de um modismo ou de uma “cerveja aguada”.
Dos monastérios belgas à Session IPA moderna, elas mostram que é possível consumir menos álcool, sem perder o sabor e o prazer de se beber uma boa cerveja. Mas tudo isso exige precisão técnica, cuidado no processo e uma boa dose de narrativa para conquistar o público — em particular, o público brasileiro.
E você? Já se aventurou pelas cervejas leves? Faz em casa? Conta pra gente, aqui nos comentários ou no perfil do Surra de Lúpulo! 🍻