Um novo olhar sobre a cerveja artesanal no Nordeste
Neste episódio do Surra de Lúpulo, Ludmyla Almeida e Henrique Boaventura recebem Lissandro Turatti, fundador da Cervejaria Turatti. Localizada em Fortaleza (CE), a cervejaria é uma das artesanais pioneiras no Nordeste e hoje é um exemplo de como visão empreendedora, persistência e inovação podem transformar adversidades em crescimento.
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Da casa noturna no Sul à cervejaria Turatti no Ceará
A história da Turatti começa ainda em 1999, quando Lissandro e seu pai, vindos do ramo de casas noturnas no Rio Grande do Sul, abriram um restaurante com produção própria de cerveja artesanal em Florianópolis (SC). A cerveja era turva, sem filtragem, e rompia com o padrão das gigantes como Brahma e Antártica.
O convite de uma Secretária de Turismo do Ceará plantou a ideia de investir em uma cidade onde “é verão o ano inteiro”. A família, então, visitou Fortaleza, se encantou e, em 2002, inaugurou a Lupus Beer, uma das primeiras microcervejarias do Ceará.
No início, o mercado local não se mostrava disposto para cervejas “diferentes”, como a Weiss ou a Stout. Mesmo com adições de frutas tropicais como caju, morango e abacaxi, grande parte da produção era descartada. Por mais de uma década, a Turatti se sustentou apenas com sua Pilsen artesanal.
O ponto de virada veio com o surgimento de duas outras marcas locais: HeiHou e Cinco Elementos. Elas então introduziram IPAs, RISs e APAs no mercado cearense, abrindo espaço para estilos mais ousados. Isso fez Lissandro perceber que o paladar da região estava amadurecendo e que era hora de expandir.
Crescimento com estratégia e aquisições, e o chope artesanal como diferencial
A Turatti começou a diversificar seu portfólio em 2017, impulsionada pela mudança no regime tributário e pela aquisição da estrutura da cervejaria Capitose. Isso possibilitou o aumento da capacidade de produção. Pouco depois, veio a compra da marca Cinco Elementos, referência entre os cervejeiros geeks e já consolidada nacionalmente.
Com a chegada do cervejeiro Marcos Guerra, a Turatti passou a explorar uma linha premium de verdade: IPAs potentes, RISs envelhecidas em barris de carvalho francês e até Sours de baixa tiragem. O pub da Cinco Elementos em Fortaleza se tornou o epicentro dessa nova fase.
A Turatti também se destacou por sua forte presença no chope artesanal: com mais de 100 chopeiras em operação, a distribuição se tornou um dos pilares do negócio. E, para além da capital, a empresa vem se espalhando pelo interior do Ceará, mesmo enfrentando desafios logísticos — como longas distâncias entre cidades e a necessidade de refrigeração constante no transporte de produtos.
Esse enfoque no chope se reflete nos números: cerca de 85% do volume de vendas é de chope, com apenas 15% em latas e garrafas, que hoje já chegam a grandes redes de supermercado da região.
A pandemia e o nascimento de um modelo de delivery de sucesso
O maior desafio veio com a pandemia: em março de 2020, a empresa estava com 62 mil litros de cerveja estocados. A salvação veio de um projeto anterior: a criação de growlers PET próprios, o que permitiu iniciar rapidamente a operação de delivery.
Com lives de forró e promoções, a Turatti chegou a vender 1.500 growlers em um único dia. Também investiu em chopeiras menores para entrega em domicílio. Assim, a estratégia não só evitou prejuízos como fortaleceu a relação com os consumidores. “O foco era fazer com que as pessoas se acostumassem com o nosso paladar em casa”, resume Lissandro.
Excelência técnica e cervejas premiadas
A Turatti montou então um laboratório com equipamentos de padrão Ambev e Heineken, contratou profissionais de ponta e implantou um processo rigoroso de controle de qualidade. O resultado? A cervejaria é hoje a mais premiada do Nordeste, com 56 prêmios só no último ano.
Destaques incluem medalhas de ouro no Brussels Beer Challenge, no BBA e The Best of Show no Sul-Americano. A Premium Lager da Turatti já ganhou ouro na Colômbia e no CBC Brasil, sendo, pois, o carro-chefe da marca e concorrente direta de Heineken, Stella Artois e Spaten no mercado regional.
Expansão da marca e novos horizontes
Hoje, a Turatti está presente em 12 estados e segue um plano estruturado de expansão no Nordeste. A logística de saída de Fortaleza ainda é um gargalo — poucas transportadoras fazem o caminho de volta para o Sul e Sudeste —, mas a empresa trabalha para superar isso com parcerias e envios aéreos.
A linha Itamar, com latas irreverentes como a “Vai Se Lascar”, e os rótulos para os clubes de futebol Fortaleza, Ceará e Ferroviário, mostram como a empresa sabe dialogar com o público local. Além disso, vem aí um novo produto fabricado dentro da cervejaria, mas que não é cerveja — a identidade ainda é segredo, mas deve seguir a linha divertida e acessível que caracteriza a marca.
Conclusão: quando visão e coragem desafiam o eixo tradicional
Finalmente, podemos dizer que a Cervejaria Turatti é prova de que inovação, estratégia e conexão com o público local podem romper barreiras geográficas. Em um país onde o mercado cervejeiro é predominantemente concentrado no eixo Sul-Sudeste, a Turatti mostra que o Nordeste também sabe fazer e beber cerveja premiada e de alta qualidade.
Do delivery de growlers à RIS na beira da praia, do pub geek ao “Vai Se Lascar”, a história da Turatti é, acima de tudo, uma de coragem, ousadia e talento. Um case cervejeiro brasileiro que merece ser celebrado e degustado. 🍻