No programa de hoje do Surra de Lúpulo, voltamos com o Dueto Cervejeiro! Desta vez, com uma cervejaria regional do Paraná e a outra do Espírito Santo. Podem entrar nossos convidados: Tedesko Almeida, da Piwo Cervejaria (ES) e Lucas Luciano, da Cervejaria Três Morretes (PR).
Antes de mais nada, deixamos o nosso agradecimento aos Mecenas Empresariais: Cerveja da Casa, Iris Pay, Cervejaria Uçá, Viveiro Van de Bergen, The Beer Agency e Prussia Bier.
Convidamos você a ouvir o episódio na íntegra!
Conhecendo a Três Morretes e a Piwo, cervejarias regionais
Lucas em 05’44’’: A Três Morretes nasceu para explorar o turismo na cidade. Morretes é uma das cidades mais visitadas do estado, ela tem um potencial gastronômico muito grande. Somos conhecidos pelo famoso barreado. E viemos com a ideia da cervejaria de agregar na experiência do turista na cidade. Então com os rótulos trazemos insumos locais, ou que harmonizem com a gastronomia local, ou que tenha também algum conceito com a história ou cultura da cidade. Trabalhamos com rótulos de fabricação local, como nosso rótulo que leva maracujá e gengibre, temos nossa IPA com a erva mate, escoada em Morretes, etc.
Tedesko em 06’48’’: A Piwo compartilha muita coisa que o Lucas falou da Três Morretes, ficamos num ponto turístico do Espírito Santo, na região serrana, aqui faz frio também. Blumenau é a capital nacional do agroturismo. E a Piwo fica em uma pequena propriedade rural. Nosso grande objetivo é criar cervejas únicas, mas sempre com ingredientes da nossa região. Então, nós fizemos uma Pale com limão, fizemos também um rótulo com café da região. Cada época do ano fazemos cervejas com as frutas da estação.
Como a Três Morretes e a Piwo se posicionam no mercado?
Lucas em 08’28’’: Eu vou mais pro lado de turismo e experiência do que pro lado de turismo cervejeiro. Como somos uma cervejaria cigana, iniciamos nosso trabalho junto aos restaurantes da cidade. Então é justamente pra complementar a experiência do turista na cidade, principalmente pela questão gastronômica, né. Hoje a gente vende muito pro nicho de souvenir. Em vez da pessoa que visita a cidade levar uma camisa, ela leva uma cerveja com um rótulo legal daqui, insumo local… E também junto com isso não estamos no hype da cerveja, mas tentamos trabalhar como porta de entrada pro nicho cervejeiro. Mostrar que existe vida além da pilsen. Mostrar a importância de usar produtos da agricultura familiar.
Tedesko em 10’00’’: A Piwo também não é uma cerveja hypada, mas também não é ligada ao turismo em si. Mas é uma cerveja única, porque sempre colocamos muito do que está à nossa volta nela. Somos muito ligados ao processo cervejeiro, do que rola aqui e lá fora. Principalmente do ponto de vista de inovação e reutilização de insumos. A gente sempre tenta trazer características locais, mas somos uma cervejaria acessível. É uma cerveja regional.
De acordo com o anuário do MAPA, o Espírito Santo foi o estado que mais cresceu em número de cervejarias. Tedesko, conta para gente um pouco dessa sua percepção vivendo essa expansão?
Tedesko em 19’34’’: A sensação é de levedura no momento exponencial. Cada hora a gente olha pro lado e tem uma cervejaria nova. E vejo isso de forma positiva, ninguém vai vir ao ES pra tomar a Piwo. Mas no raio de 30km da Piwo nasceram mais vinte cervejarias aqui. E com certeza tem gente que viria fazer esse turismo cervejeiro. Então isso é fundamental pra gente e temos que fortalecer o movimento. A gente vê isso com ótimos olhos. Hoje a gente tem apoio do IFIS, que tem um programa de pesquisa cervejeira, e tentamos alinhar o volume de cervejarias com uma área turística muito bem estruturada hoje. É um desafio, mas com isso, vem a possibilidade de um polo cervejeiro novo no país.
Lud questiona se o paladar dos clientes já está mais apurado, por conta do movimento cervejeiro crescente no ES. Tedesko explica que atualmente a sensação que existe é que há uma bolha, onde muitas pessoas buscam os mesmos clientes. Ao mesmo tempo, muitas cervejarias também estão fugindo do lugar comum – o que só traz benefícios à cena local.
Lucas, a Três Morretes está no Paraná, um estado já muito conhecido por ser amplamente cervejeiro, com 158 cervejarias. Como é conviver com tanta concorrência?
Lucas em 23’33’’: Eu acho que essa questão, a gente pode tomar os dois pilares. A questão de ter uma boa quantidade de bebedores, né, de entendedores de cerveja artesanal. Saber que existe uma cervejaria em Morretes. Saber que é a cerveja local. E ao mesmo tempo, a nossa linha de rótulos não fica muito longe da drinkability consumida no mercado. E a partir da nossa, o bebedor possa procurar novos rótulos também. Acho que a gente tá mais na porta de entrada para novos cervejeiros do que competir com as outras 157 cervejarias do estado. […] Mesmo a nossa IPA, a gente trabalha com um IBU bem abaixo, com menos amargor. É um amargor limpo que vai passar logo no paladar da pessoa. Não vou me estapear com outro nicho, queremos furar a bolha pra mostrar que nem toda cerveja artesanal é amarga.
Qual é a relevância do turismo nas suas cidades para a construção da marca e do desenvolvimento da cervejaria regional?
Tedesko em 32’12’’: Ajuda muito a gente, a Piwo fica na Venda Nova do Imigrante, que é tido como capital nacional do agroturismo. Se você vier aqui vão ter grandes propriedades, mas também tem as pequenas famílias produzindo queijo, etc. Inclusive temos um produto de produção exclusiva aqui que é o socol, um tipo de presunto feito do lombo do porco. Então obviamente que esse fluxo de turistas ajuda muito. A gente tem um número grande de cervejarias na região, então isso atende ao turismo cervejeiro. Isso gera um público interessante pra gente, além de um público disposto a experimentar coisas novas. As pessoas vem querendo experiências, o que faz a gente querer criar cervejas únicas.
Lucas em 33’53’’: A nossa marca é bem baseada no turismo, né. Desde o nome, o logo e os rótulos. Mas a gente também percebeu que não podemos depender somente do turismo. Em novembro do ano passado, deu uma chuva muito forte na região e as duas estradas de acesso ficaram interditadas. Ou seja, o início da temporada de turismo foi lá pra baixo. Não só a cervejaria, mas todo mundo que depende de turismo na cidade. Quase 100% da cervejaria é turismo, mas vimos que não podemos depender só disso. Então a abertura da loja foi feita para os moradores experimentarem cervejas artesanais feitas com produtos locais. E também vamos pra São Paulo para escoar nossas cervejas.
Adoramos saber qual a forma de envase que as cervejarias que recebemos no Duetos Cervejeiros mais usam. Conta pra gente o envase de vocês e os motivos.
Lucas em 39’20’’: Hoje a gente utiliza duas cervejarias que produzem pra gente. Uma com lote de 500 litros e outra com lote de 1000 litros. Então fazemos uma escadinha, fazendo receita de 60 litros, vai pra cervejaria produzir 500 litros e depois vai produzir 1000 litros. Como a gente começou trabalhando pros restaurantes, a gente iniciou o processo de cerveja em garrafa. Na questão de pasteurização é um produto mais premium. Os restaurantes da região são de classe A-B, então combina muito mais com o ambiente, você receber uma garrafa do que uma lata ou growler. Mas foi a partir do momento da criação da nossa loja que começamos a trabalhar com latas pra tornar nosso produto mais acessível.
Tedesko em 40’25’’: Basicamente, a gente sempre usou a lata, e obviamente barril também pra pontos de venda. Fomos os primeiros capixabas a usar lata, e passamos por todo aquele processo de “po, lata é pior”. E a gente teve que, aos poucos, ir quebrando esse pensamento. Mas eu particularmente acho que a lata preserva muito melhor a cerveja, do ponto de vista do cervejeiro artesanal. Tem ganhos importantes no isolamento da luz, sem muita oxidação da cerveja, então acho que ganhamos bastante com a opção da lata. Fora que, geramos menos impacto ambiental com as latas.
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O que bebemos durante o programa? Tedesko não está bebendo. Lucas bebe American IPA, da Três Morretes. Lud bebe água. Leandro bebe Douple Ipa, da Nalata.