Neste episódio, o Surra de Lúpulo recebe Gregório Balarotti, da Cervejaria Louvada, para contar em detalhes a sua trajetória, a história da marca, os desafios, os dissabores e os sucessos dessa empreitada que hoje, emanando do Centro-Oeste, é destaque no mercado nacional.

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O início de tudo: da zootecnia à paixão pela cerveja

Formado em zootecnia e comércio exterior, Gregório jamais imaginava que terminaria à frente de uma das maiores cervejarias independentes do Centro-Oeste. No entanto, a curiosidade pela fermentação, herdada dos estudos em bioquímica, e o olhar analítico do mercado financeiro abriram caminho para a fundação da Cervejaria Louvada, em 2013, ao lado de um grupo de amigos investidores.

Na época, o Brasil vivia uma nova onda de crescimento do mercado artesanal, e Cuiabá tinha apenas uma pequena cervejaria. Dessa forma, o grupo decidiu apostar em um segmento promissor e numa região onde o calor intenso e o consumo de cerveja leve criavam um ambiente fértil. “Se o problema de todo mundo é o inverno, aqui não temos esse problema”, brinca Gregório. Assim, nasceu a Louvada, unindo estratégia, timing e uma boa dose de ousadia.

Cervejaria Louvada - chope

Planejamento, pragmatismo e pés no chão

Desde o início, a Louvada nasceu com uma visão clara: crescer com eficiência. Por estar distante dos principais fornecedores de insumos, a cervejaria precisou planejar cada detalhe logístico, desde fechar caminhões de malte até otimizar fretes para reduzir custos. Com isso, essa mentalidade moldou o DNA da empresa.

“Quem começou antes de 2015 aprendeu a se planejar à força”, explica Gregório. “A gente sempre teve uma visão pragmática: fazer a melhor cerveja possível, mas aquela que o público quer consumir”. Ou seja, nada de romantismo ou receitas que não se pagam. A Louvada construiu seu crescimento com base em números, disciplina e foco em consistência.

Do Centro-Oeste para o Brasil: uma expansão guiada por lógica

Hoje, a Louvada possui fábricas em Cuiabá (MT), Porto Velho (RO) e Indaiatuba (SP), além de uma unidade licenciada em Passos (MG). A motivação para expandir foi direta: tributação e logística. Nesse contexto, o modelo de múltiplas plantas permite reduzir custos fiscais e atender melhor cada mercado regional.

“São Paulo, por exemplo, não tem incentivo fiscal. Portanto, se você quer vender lá, precisa estar lá. A logística e os impostos inviabilizam mandar produto de outro estado”, detalha Gregório. Como resultado, a operação cobre boa parte do país, mantendo a identidade e o controle de qualidade da marca.

Fábrica Louvada

Cultura, consistência e a busca pela excelência

Manter o mesmo padrão de qualidade em diferentes estados é um desafio. Para Gregório, o segredo está nas pessoas: “A receita é importante, mas o essencial é ter gente comprometida e disciplinada para segui-la à risca”. Além disso, a Louvada criou uma cultura empresarial sólida, que valoriza higiene, controle e padronização, aspectos que, segundo ele, ainda são raros entre cervejarias independentes.

Por outro lado, o desafio vai além da produção: “O maior problema é comercial. Manter cultura e consistência na rua é mais difícil do que na fábrica”. Dessa maneira, a empresa aposta em vendas estruturadas, metas e acompanhamento diário, fugindo da ideia romântica do vendedor que “conhece três bares e acha que é suficiente”.

Preço justo e valor de marca

Outro diferencial da Louvada está no posicionamento de preço e valor percebido. Gregório não teme ser mais caro que a concorrência. Pelo contrário, “nós somos a cervejaria mais cara do nosso mercado e não damos desconto. Preferimos investir em imagem e experiência com o cliente do que em promoção”.

Consequentemente, essa estratégia, baseada em posicionamento de longo prazo, ajudou a construir uma marca forte e reconhecida por sua qualidade e seriedade, valores que a Louvada não negocia.

Louvada - Rótulos

Da pandemia à maturidade empresarial

A pandemia testou os limites de toda a cadeia cervejeira, e com a Louvada não foi diferente. Em Rondônia, a fábrica chegou a ficar meses de portas fechadas. Enquanto isso, em Cuiabá, a flexibilidade estadual permitiu continuar operando e desenvolver rapidamente um canal de e-commerce, que amenizou os prejuízos.

“Foi um momento de incerteza, mas também de união interna”, relembra Gregório. Assim, a empresa priorizou estabilidade da equipe e transparência na comunicação, garantindo que ninguém fosse deixado para trás.

Cervejas premium, sem álcool e o futuro do consumo

Hoje, a Louvada se posiciona como uma cervejaria independente de perfil premium acessível, uma marca que quer estar no dia a dia do consumidor, mas com qualidade acima da média. Seu trio de sucesso — Pilsen, Hop Lager e German Pilsen — define essa proposta: cervejas bem executadas, refrescantes e com preço competitivo frente às grandes marcas.

Gregório reconhece as mudanças no comportamento do público e aposta em novas categorias, como as cervejas de baixo teor alcoólico e sem álcool. “Estamos lançando nossa primeira sem álcool agora. O mercado ainda é pequeno, mas vai crescer. Além disso, o melhor é que ela facilita até a comunicação da marca, já que pode aparecer em mais contextos, respeitando as regras do Conar”.

Estratégia, resiliência e o jogo de longo prazo

Mesmo após uma década de história, Gregório não fala em conquistas definitivas. “Romper barreiras regionais é um processo que não acaba. É operação, operação, operação”, resume. Na prática, a consistência, para ele, é o verdadeiro motor de crescimento. “É como a padaria do bairro: o cliente vai onde confia. Por isso, você precisa estar lá todo dia pra ser essa padaria”.

O plano para 2026 é crescer com cautela, sem endividamento, aproveitando o que já foi construído e buscando mais eficiência. Nesse sentido, nada de abrir novas fábricas, apenas licenciamentos inteligentes e aprimoramento logístico, como a nova frota de caminhões refrigerados que garantem a qualidade da cerveja viva entre as plantas.

Conclusão: menos romantismo, mais estratégia

A história da Louvada é a prova de que o sucesso na cerveja independente vai muito além da receita. De fato, ele nasce de planejamento, visão empresarial, consistência e humildade para aprender e ajustar o rumo quando preciso. Gregório Balarotti e sua equipe entenderam cedo que fazer cerveja é uma arte. Mas, ao mesmo tempo, fazer uma cervejaria dar certo é ciência!

E talvez seja por isso que, no calor de Cuiabá, a Louvada segue crescendo, com os pés no chão, o copo cheio e a cabeça fria. 🍻

Gabriel Gurian

Historiador, com Mestrado e Doutorado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), meus estudos são pautados por bebidas e bebedores na história do Brasil, em diferentes períodos. Atualmente integro o projeto Comer História, desenvolvo pesquisa pós-doutoral na Universidade de São Paulo (USP), com foco no nascimento da cultura cervejeira brasileira no século XIX, e colaboro com o Surra de Lúpulo.

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