Nos últimos tempos, por onde quer que se ande no universo cervejeiro, o burburinho é um só: cerveja sem álcool. Mas será que estamos diante de uma nova revolução parecida com a que vimos em 2010, quando a cerveja artesanal começou a conquistar o Brasil? Ou será mais uma onda que morre na praia?

A quantas anda a revolução das cervejas sem álcool?

Com o objetivo de entender melhor esse fenômeno, o Surra de Lúpulo conversou com David Figueira, fundador da Sim! Cerveja, uma das pioneiras no país a se dedicar exclusivamente à produção de cervejas sem álcool artesanais. E o papo não poderia ter sido mais revelador. ⏯ 

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A Sim! Cerveja e o pioneirismo no mercado brasileiro

A Sim! Cerveja surgiu como a primeira cervejaria artesanal nacional com planta própria dedicada 100% à produção de cervejas sem álcool. David conta que, embora outras marcas tenham aparecido no mesmo período, o mais importante foi o início conjunto desse movimento, que vem ganhando força.

Ele e seu time, experientes no meio cervejeiro desde os anos 2000, decidiram explorar o universo das cervejas sem álcool com um olhar estratégico e técnico. “Já somos os vovozinhos do meio”, brinca David, ao falar da bagagem acumulada ao longo de décadas.

Sim! Cerveja - sem álcool

Da inspiração americana ao desafio nacional

A ideia de criar a Sim! não nasceu de um estalo súbito, mas foi o resultado de anos acompanhando o movimento nos Estados Unidos, especialmente inspirado na Athletic Brewing, pioneira no setor americano.

Inicialmente, o plano era licenciar a marca norte-americana e produzir no Brasil, mas questões comerciais e de propriedade intelectual impediram a parceria. O projeto ficou em hibernação até que, em um evento de inovação em São Paulo, uma pergunta do público reacendeu a chama: “Se vocês sabem fazer cerveja tão boa, por que não fazem uma boa sem álcool?”

Foi o empurrão que faltava. Dali até o lançamento da Sim!, foram três anos de testes, laboratórios, cervejas quase jogadas no ralo e muita persistência.

Athletic Brewing - cerveja sem álcool

Cerveja boa é para todo mundo — até sem álcool

Apesar de a Sim! ter nascido como um projeto voltado inicialmente para o próprio grupo de fundadores — que, ao se aproximarem dos 40, começaram a sentir mais os efeitos da ressaca — a marca rapidamente passou a atrair públicos variados.

“Não foi para o público fitness”, reforça David. “Foi para a gente que gosta de cerveja, mas quer diminuir o álcool.” No entanto, o produto encontrou eco entre quem busca um estilo de vida mais saudável, pessoas que seguem preceitos religiosos e até novos consumidores curiosos com sabores diferentes.

Ainda que a intenção inicial fosse atingir os mais jovens, preocupados com saúde e bem-estar, o preço ainda representa uma barreira. Uma lata da Sim! Cerveja pode chegar a R$15 no ponto de venda, o que limita o alcance entre os mais novos que ainda não têm poder aquisitivo elevado. Assim, a marca acabou conquistando um público mais velho, com poder de compra maior e interesse em reduzir o consumo de álcool.

Sim! Cerveja - latas

Cerveja sem álcool, mas com muito sabor (e impacto!)

Durante eventos, David percebe um fenômeno curioso: muitas pessoas que só conheciam cervejas sem álcool mainstream, como Heineken e Corona, descobrem com a Sim! novos sabores, aromas e estilos. Isso tem provocado uma espécie de conversão ao mundo da cerveja artesanal — ainda que, por enquanto, sem álcool.

Em vez de cortar o álcool de vez, muita gente passou a alternar entre cervejas com e sem álcool, principalmente quando o objetivo é evitar a embriaguez ou minimizar a ressaca. David afirma: “Hoje, eu me vejo mesclando. Às vezes tomo uma com álcool, depois uma sem. Não sinto falta.”

É um costume conhecido em países falantes do inglês, sobretudo na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, como zebra striping, ou “listrando a zebra”, uma referência à alternância de cores na pelagem do animal, como alegoria para a alternância entre uma dose com álcool e uma dose sem álcool.

Esse movimento de adesão às cervejas sem álcool pode até se tornar uma porta de entrada para que novos públicos, especialmente os jovens, descubram o universo das especiais. Uma forma de rejuvenescer o mercado, que nos últimos anos enfrentou dificuldades.

Zebra striping - cerveja sem álcool

Redução, não abstinência: uma nova lógica de consumo

O foco na moderação — e não necessariamente na abstinência — é uma das grandes chaves para entender o crescimento do segmento. Pessoas que não querem parar completamente de beber, mas desejam reduzir os efeitos colaterais do álcool, encontram nas cervejas sem álcool uma alternativa interessante, especialmente agora que a qualidade sensorial desses produtos evoluiu drasticamente.

Durante um festival em Blumenau, tradicional reduto das cervejas alcoólicas, David ficou surpreso ao notar que conseguiu passar os cinco dias do evento tomando apenas suas cervejas sem álcool, sem sentir falta do álcool. “Me saciou, me satisfez. Foi um desafio e uma surpresa.”

Cerveja sem álcool: tecnologia, ciência e controle

Quando o assunto é técnica de produção, David reforça: não existe uma receita única para produzir boas cervejas sem álcool. O processo envolve uma série de decisões, desde a escolha dos maltes até o controle rigoroso da fermentação.

A Sim! optou pela fermentação controlada, também conhecida como fermentação interrompida. É o método mais viável para pequenas e médias cervejarias, mas requer uma estrutura sofisticada de laboratório para garantir que o teor alcoólico esteja dentro dos limites permitidos.

E o mais interessante? A Sim! não utiliza leveduras especiais para isso — aquelas famosas que não consomem maltose, como a LA01. Em vez disso, usa leveduras comuns, com uma técnica bem ajustada de controle de fermentação. Um diferencial que só é possível graças ao know-how técnico e científico da equipe, composta por mestres e doutores com formação em áreas diversas que dialogam com o universo cervejeiro, como a Física.

Fábrica da Sim! Cerveja

Inovação compartilhada, mercado fortalecido

Com um conselho científico interno e foco em pesquisa, a Sim! pretende não apenas crescer como marca, mas compartilhar conhecimento e elevar o padrão do setor como um todo.

“Tudo que fazemos aqui, queremos dividir. Se a gente descobriu um caminho melhor para uma cerveja sem álcool boa, ótimo que outras cervejarias aprendam também. Isso fortalece o mercado, aumenta o market share e melhora a oferta para o consumidor”, diz David.

Conclusão

A trajetória da Sim! Cerveja mostra que o futuro da cerveja sem álcool no Brasil não é apenas promissor — ele já começou. Com produtos tecnicamente bem executados, respeito ao paladar do consumidor e um olhar atento ao cenário cultural e regulatório, essa nova geração de cervejas sem álcool está aqui para ficar. O que antes era visto com desconfiança hoje é sinônimo de sabor, inovação e responsabilidade. 🍻

Gabriel Gurian

Historiador, com Mestrado e Doutorado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), meus estudos são pautados por bebidas e bebedores na história do Brasil, em diferentes períodos. Atualmente desenvolvo pesquisa pós-doutoral na Universidade de São Paulo (USP), com foco no nascimento da cultura cervejeira brasileira no século XIX.

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