No programa de hoje, temos o nosso Episódio 4 do Boteco do Surra, com uma figura carioca que talvez seja o maior especialista, apreciador e registrador de botequins do Brasil! Estamos aqui com Eduardo Freitas, mais conhecido nas redes sociais como Preá.
✨ Antes de mais nada, deixamos o nosso agradecimento aos Mecenas Empresariais: Cerveja da Casa, Iris Pay, Cervejaria Uçá, Viveiro Van de Bergen, The Beer Agency e Prussia Bier.
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Convidamos você a ouvir o episódio na íntegra! 👇
Apresentação do convidado e sua história com botecos:
Eduardo em: 07’01’’: Sou o Preá, tenho 41 anos, sou pai de Inácio, esposo da Mariana. Nascido em Volta Redonda, atualmente moro no Rio, em Copacabana, e sou trabalhador da área da educação; Tem duas coisas nisso que eu acho muito curiosas assim, uma que to a um ano e um ano e pouquinho, me acostumando que o que eu faço é um trabalho, uma categoria socialmente validada. Quando falavam “legal seu trabalho” eu achava estranho. Hoje, acredito que trabalho é tudo que alguém reconhece como tal, eu hoje tento olhar mais com calma. Isso começa não como um objetivo em si e muito menos como fruto de trabalho. Começa como algo que todo mundo tem uma rede de fotos, né, tipo de tirar uma série de fotografias. Mas para a surpresa de vocês, a minha conta desde 2013 é somente de rótulo e copo de cerveja artesanal. Das mais diversas expertises e tal, sou ex beer geek. E aí, o território do botequim pra mim é o meu território. Não é fetiche ou curiosidade, é um lugar que sempre encostei pra tomar uma cerveja. Ao longo desses registros, percebi que eu tinha um olhar que não era o do zoom na comida. Eu sempre achei mais sensível para mim, o olhar do botequim como um todo. Da prateleira, o balcão. Todos os elementos que compõem esses ambientes. Faço esse registro há 8 e 9 anos.
Lud, animada com a fala de que o convidado é um ex-beer geek, levanta o ponto de que mesmo enquanto sommelier, às vezes ela só quer tomar um bom chope da Brahma, em copo limpo, com dois dedos de colarinho – e está tudo bem!
Eduardo em 16’42’’: Talvez tenhamos que contar baixinho pra uma galera que a vida é uma série de contradições. O que eu acho mais curioso, é que para mim, falar disso não é falar de universos opostos. Será que a cerveja especial/artesanal entrará nos botequins do brasil algum dia? O que eu gosto sempre de tentar pensar é que existem movimentos que parecem exclusivos de certa categoria, mas no fim, cabe para todas. Assim, quanto mais você refina – no sentido não de proselitismo que refinar é bom – então, quanto mais você refina e especializa, você exclui. […] Acho que o movimento de especialização por si só não é um movimento de massas.
Leandro concorda e aponta que um grande fator de exclusão é, também, o preço.
Quantos botequins você já visitou e fotografou? Em que Estados?
Eduardo em 23’24’’: Minha conta, que eu falo, tá em 500. Mas listado nominalmente tem 317, aí jogo por baixo que tem uns
50 que eu estava embriagado que não lembro, mais 50 que a memória me trai. Mas é por aí. […] Eu tenho uma ligação com MG, porque minha avó morava lá, também estive em Juiz de Fora, então também conheço botecos de lá. E minha companheira é do Pará, então também conheço muitos botecos de lá. Também gosto muito dos botequins de Curitiba, Porto Alegre e São Paulo. Se eu fosse coach eu falaria “sempre tem, talvez não na Barra da Tijuca, mas se cutucar, sempre tem”.
Você acredita que sua formação enquanto cientista social impacta na hora de perceber e interpretar o ecossistema de um boteco?
Eduardo em 42’22’’: Acho que faz, mas eu não acho que tenha a primazia da minha lente. Eu vou no botequim com meu óculos de grau, não a paisana. Existem estudos acadêmicos em que o cara está ali observando, categorizando. E eu to ali só bebendo minha cerveja quieto, porque é o que eu gosto de você. Mas é claro que eu tenho noções da sociologia e antropologia que vem com os meus estudos. Será que o psicólogo que vai ao botequim usa seu olhar de psicólogo para observar o botequim? Acho que não. O botequim é um ambiente recheado de todas as contradições. É um ambiente repleto de alcoolismo, é um ambiente extremamente machista, senão a gente coloca como simplesmente um lugar incrível, mas como tudo na vida, é recheado de contradições.
Vamos filosofar um pouco: Por que botequim é bom se na verdade é uma merda?
Eduardo em 46’26’’: Essa é a pergunta de um milhão de Brahmas. Mas eu acho que essa pergunta tá no âmago da discussão que a gente teve. Você definir o que é ruim é subjetivo. O banheiro é ruim, o banheiro pra mulher é ruim. Não tem papel higiênico nem tampa na privada, esses são critérios objetivos. Então por que a gente vai? Por que a mensuração do botequim tá na subjetividade. Tem um conjunto de coisas ali, seja uma primeira ida, uma memória, um afeto de território, ou é “aqui eu bebo e ninguém me conhece”. Tem uma série de coisas que tá dentro da subjetividade que não tem como tentar mensurar que é bom. E tem bares que emulam botequim, e eles emulam para uma parcela da população que sabe que é um ambiente controlado. […] O botequim não cabe nos guias.
Leandro diz que “Botequim é o fruto da fermentação selvagem”, e Preá continua “e ele respeita o terroir”. Lud complementa que gostou muito do Preá trazer a questão do seu relacionamento com o botequim, de aceitar o espaço como ele é. Aceitar, inclusive, as coisas ruins no botequim é uma aula de relacionamento.
Obrigada pelo bate papo maravilhoso, Preá!
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🍻 O que bebemos durante o programa? Preá bebe Antarctica Latão. Lud bebe Pérola, do Devaneio do Velhaco. Bulkool bebe Prussia Bier, RIS.