No episódio 14 do nosso podcast sobre cervejas artesanais, Surra de Lúpulo, conversamos com o sommelier de cervejas e mestre em estilos Raoni do “Boteco do Raoni”. Beer geek e muitas histórias de bar fazem parte deste bate-papo insano de tão divertido.
De lutador profissional a sucesso nas redes sociais
Seu perfil no Instagram e canal no Youtube são famosos pelos vídeos e fotos irreverentes que fazem uma paródia dos rótulos de algumas cervejas. Há dois anos, o “Boteco do Raoni” se tornou um bar de verdade situado no Grajaú, zona norte do Rio de Janeiro. Pai de Arthur, filho de 7 anos com sua esposa Ana Lídia, conhecida no meio cervejeiro como Nalídia, nosso convidado conta que já foi de lutador profissional de luta livre à analista comercial até ingressar no mundo das craft beers.
Há dois anos sem atualizar o canal no Youtube por conta do ritmo acelerado do bar, o cervejeiro confessa que ainda está se acostumando com a rotina do local, que começou só com três funcionários além dele. Mesmo com o tempo escasso, Raoni afirma que não pretende abrir mão do espaço na Internet.
Histórias de bar…de um lutador
Fã de luta livre e praticante de artes marciais, sempre acompanhando as disputas do Brasil e principalmente dos Estados Unidos onde os combates tinham mais destaque, Raoni conta que foi um amigo que o incentivou a começar a treinar. Sem muitas pretensões, aceitou o desafio, chegando a participar de 10 disputas.
“Eu era bom personagem, interagindo com o público. O pessoal das artesanais vai ficar ‘bolado’, mas eu ainda desconhecia esse universo craft e entrava no ringue bebendo Itaipava, Antarctica. Bebia e jogava na cabeça. Comecei a me machucar durante as lutas, tenho clavícula quebrada, pé quebrado, coluna machucada, minha esposa que cuidava de mim. Meu último grande machucado foi um nariz quebrado. Na recuperação, tinha que dormir de barriga pra cima e roncava muito. Foi o estopim para Analidia não achar mais graça nisso e me incentivar a parar”.
Bares x Pandemia
Falamos sobre as providências tomadas pelo nosso convidado após o fechamento dos bares devido à pandemia e quais delas vieram pra ficar. Raoni já usava o sistema de delivery antes da quarentena, mas em menor escala. Ele explica que o preço do rótulo é calculado contando também o valor da experiência agregada. Portanto, é preciso reduzir um pouco o preço no intuito de tornar o produto mais competitivo.
Em relação à equipe de funcionários, nosso convidado conta que tem um tratamento bastante pessoal com eles pelo fato de serem poucos. Enquanto os grandes bares foram obrigados a demitir empregados ou instituir férias forçadas, Raoni conseguiu fazer um revezamento e não mandar ninguém embora, contando com a parceria e o entendimento por parte deles também. Para ele, o perfil de consumo via delivery vai continuar forte.
“No começo a gente batia muito a cabeça. Conseguimos uma base de clientes bem legal que continuou a comprar novidades mesmo durante a quarentena”.
Mesmo achando que o clima de boteco não vai acabar, Leandro perguntou se Raoni adquiriu uma visão mais aprimorada e sustentável sobre custos menores e uma eficiência maior durante a pandemia. O cervejeiro conta que tinha uma fama de comprador impulsivo e que toda semana tinha um lançamento no bar. Durante esse período, Raoni percebeu que é mais eficaz focar em determinados rótulos que tenham um preço final melhor, sendo mais cuidadoso com os produtos com valores mais elevados, traçando uma estratégia planejada.
Lud aproveitou pra lembrar do papo com Edu Passarelli, sobre os critérios usados ao montar uma carta de cervejas.
Relembre aqui o episódio com Passarelli.
Beer Geek
Leandro trouxe pra roda o termo beer geek e perguntou pro nosso convidado se ele se considera um deles. Para Raoni, um beer geek é alguém que está sempre correndo atrás de rótulos novos, seja pela raridade, qualidade ou preço. Mesmo sem se considerar um beer geek, Raoni confessa que gosta de experimentar novas cervejas sempre que possível.
“Eu chego num bar que tem dez rótulos. Se tem uma que já conheço e adoro e uma que eu nunca bebi, eu opto pela que eu nunca bebi. O que mais acontece no bar é o cliente parar na frente da geladeira e procurar o que ainda não bebeu. Geralmente os rótulos inéditos são os mais escolhidos”.
“No primeiro ano do bar, eram só raridades. Depois percebi que as pessoas também queriam variedade. Aumentamos a capacidade passando para dez torneiras, tendo mais diversidade de sabores e de preços principalmente”.
Papo de boteco
Pedimos para o nosso convidado contar algumas histórias vividas por ele nesse período como dono de bar. Raoni conta que, inicialmente, a maioria dos clientes não sabia falar os nomes dos rótulos pedindo a bebida pelo número da torneira onde é servida. Quando a “Cevaderia” lançou um rótulo chamado “N.10” a confusão começou.
“Plugamos a cerveja “N.10″ na torneira seis, que geralmente serve uma IPA, deixando a torneira dez para a Imperial Stout. O cliente pedia, dava uns goles e não reconhecia a cerveja, visto que tinha pedido a “N.10” referindo-se ao número da torneira e não ao rótulo “N.10”. Logo depois lançaram uma IPA chamada “N.06” mas dessa vez aconselhei a plugar na torneira de mesmo número para não ter o mesmo problema”.
Outra história que Raoni não se orgulha em contar aconteceu logo no começo das atividades do bar quando o cardápio ainda era muito extenso e a cozinha só servia porções frias e rápidas. Um dia, uma cliente levantou da mesa e bateu o cardápio no balcão perguntando sobre as opções veganas do lugar de uma maneira nada amigável.
“Fui tentando me explicar, mas ela insistia na opção vegana. Fui até a cozinha, peguei uma tábua, espetei dois palitos, levei pra ela a tábua vazia e disse que ali estavam as opções veganas do bar. Hoje em dia é diferente, aprendi que grande parte do trabalho é engolir sapo, não tem jeito”.
Futuro
Para finalizar nosso papo, perguntamos sobre os planos de Raoni para um futuro próximo. Ele garante que será um período de novidades e rótulos novos. O cervejeiro também aconselha quem conheceu o bar no início das operações a fazer uma nova visita ao local agora com a aquisição do bar “Expansão”, colado ao “Boteco do Raoni”.
“É o mesmo CNPJ, então é como se fosse um bar só com a mesma comanda. Para os amigos que não curtem as craft beers, o anexo conta com uma geladeira da Ambev com várias marcas mainstream”.
Para acompanhar nosso papo, Lud bebeu uma Baltic Base da cervejaria “Avós”, Leandro escolheu uma Amélia da cervejaria “Zapata” e Raoni uma Punk IPA da cervejaria “Brewdog”.