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As relações internacionais e a cerveja

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Relações internacionais e a cerveja

No episódio de hoje, trazemos uma visão global da cerveja nas relações internacionais do Brasil e do mundo. Para isso, nós convidamos Maurício Santoro, que é jornalista, cientista político e professor de relações internacionais, para ajudar a ampliar as nossas fronteiras ainda tão limitadas. Ouça na íntegra:

 

 

✨ Esse programa não aconteceria sem os nosso Mecenas Empresariais: ✨ Cerveja da CasaIris PayCervejaria UçáViveiro Van de Bergen, The Beer Agency, Prussia Bier.

 

 

Relações internacionais e a cerveja

 

Em algum momento da história o álcool facilitou ou dificultou as relações internacionais?

 

Duas pessoas com roupa social brindando e experimentando cervejas“O álcool está ali muito presente desde sempre na diplomacia. Porque servir bebidas alcoólicas num almoço, num jantar, numa recepção formal é algo muito comum no mundo da política externa, no mundo dos diplomáticos. Então, desde que a gente tem os primeiros registros ali de negociações, digamos, na Grécia Antiga ou na China, tem algum tipo de bebida alcoólica sendo servida circulando. Então pode ser cerveja, pode ser vinho, pode ser uísque, é alguma coisa que faz parte desse mundo, que faz parte desse ambiente. E é comum também que quando se tem esse tipo de interação entre diplomatas, quando eles estão servindo num outro país, que eles deem de presente para as pessoas daquela nação as bebidas típicas do seu próprio país. Então, por exemplo, esse ano eu fiz muitos trabalhos envolvendo diplomatas americanos ou japoneses. Os americanos me deram vinhos da Califórnia, porque eles estão promovendo a indústria vinícola naquele estado. Os japoneses me deram sake, uma bebida super típica do Japão, representativa da cultura japonesa. Então, por aí vai. Então, muitas vezes, as bebidas alcoólicas, em especial aquelas mais caras, mais sofisticadas, acabam sendo também uma espécie de embaixadoras dos seus países. E, em alguns países, esse hábito de beber, e de beber muito, é uma coisa que está muito embrenhada no cotidiano. Então, por exemplo, eu viajava muito para a China antes do início da pandemia, e os chineses bebem muito uma espécie de cachaça feita de arroz, chamada Baijiu. que é um negócio assim, se eu jogar aquilo no meu carro, eu acho que funciona o carro, sabe? Do motor pro motor roda, né? Então, assim, se você está na China querendo fazer amigos e influenciar pessoas, é legal beber Baijiu. É parte ali daquele ambiente, é parte daquele sentimento de descontração, de você estar entendido com as pessoas, né? É bom, em geral, eles bebem em pequenas doses, né? Mas, enfim, facilita muito a sua vida se você embarca nessa.”

 

Existem países em que o consumo de álcool é proibido, como é o trato destes países com os turistas?

 

“São situações que exigem uma certa sensibilidade cultural. Então, quando eu visito países muçulmanos, ou quando eu estou conversando com colegas muçulmanos, eu nunca tomo a iniciativa de álcool. Agora, em muitos casos, eles mesmos podem oferecer, dependendo das circunstâncias. Então, por exemplo, uma vez eu estava em Istambul, participando de um congresso, e eram ali ativistas de direitos humanos de vários países e muita gente de países do Oriente Médio. E a gente foi jantar em Istambul, tem uns restaurantes maravilhosos ali, e embora existam uma série de restrições hoje na Turquia, que lugares você pode comprar álcool, porque o governo que está no poder há 20 anos é um governo de um nacionalismo religioso, há também uma tradição na Turquia de você tomar um aguardente ali, como um aperitivo, para abrir os trabalhos da noite, que é muito apreciado. um aguardente chamado Raki. Então os colegas pediram ali, a gente estava ali tomando o nosso Raki e eu conversando lá com os turcos, com os egípcios, e numa boa, sem problema. Mas aí eu não tomaria essa iniciativa de ah, vamos tomar uma cerveja e tal. Não, deixa eu esperar um pouco, ver o que eles vão sugerir. Então tem que ter essa sensibilidade, sobretudo quando se está num local oficial. Você está numa reunião, por exemplo, num ministério, numa agência governamental. Um local privado, um restaurante, é diferente, sempre é mais ameno ali. Mas é claro que não dá para agir num país como esse, como a gente se comportaria no Brasil. É uma outra cultura, são outras regras, são outras expectativas. No Brasil, nós temos regras muito informais para o uso do álcool. Então, por exemplo, aqui as pessoas bebem álcool na rua. Então, aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, é muito comum as pessoas beberem, digamos, na mureta da urca, por exemplo, apreciando a vista, ou na praia. Tem muitos lugares onde esse consumo na rua é restrito. Inclusive nos Estados Unidos, não precisa ir num país islâmico, não. Tem outros lugares onde não, onde é muito tranquilo. Na Europa, por exemplo, era muito tranquilo. Agora, o exemplo do Catar na Copa do Mundo é excelente, porque ali, vamos dizer, é uma sociedade ainda bastante conservadora, mas que naquela circunstância especial ali da Copa do Mundo teve que ceder, teve que fazer concessões, porque, por exemplo, para muitos fãs de futebol… O momento do jogo é também o momento de tomar uma cerveja. Você não separa as coisas, elas estão ali muito presentes. Então, claro, o álcool é um lubrificante social, mas ele também é uma coisa que você usa para relaxar quando você está ali fazendo uma partida do seu esporte favorito, quando você está ali com os amigos. Então as sociedades vão também, de algum modo, se adaptando com relação a isso

 

Vamos trazer a China para essa conversa? Qual é a relação deles com a bebida? É possível que eles entrem na produção de cervejas ou de outras bebidas?

 

Amigos chineses bebendo shots de vodka“Tem uma parte da China o que hoje é a região nordeste da China, também aí nesse período semicolonial que a China viveu ela foi parte da Rússia foi parte do Império Russo e os russos deixaram uma marca muito profunda na cultura dessa região então você tem ali, por exemplo, catedrais ortodoxas têm orquestras sinfônicas é a única região da China onde se come pão no cotidiano, porque isso é um hábito que veio dos russos Música Eu realmente não sei se eles fazem vodka por lá, mas é muito provável que façam. Enfim, se os russos deixaram a marca do pão, certamente eles deixaram ali também a marca da vodka. Agora, essa cultura da réplica na China é muito interessante, porque de fato os chineses copiam muito, mas nunca é uma cópia, nunca é 100% uma réplica. Eles copiam fazendo mudanças, fazendo adaptações, às vezes melhorando, às vezes tornando aquele produto mais barato, mais simples. E aí tem várias razões para isso. Quer dizer, a lei chinesa é muito mais flexível do que a legislação ocidental na questão de patente e propriedade intelectual. Então é muito mais fácil copiar, você piratear. Vou dar um exemplo para vocês. Hoje em dia, todas as grandes cadeias de fast food americanas estão presentes na China. Então, digamos, o Starbucks está presente na China. Só que tem dezenas de imitadores do Starbucks. Então você está andando numa grande cidade chinesa e você pode ver um logotipo que de longe você vai achar que é o logotipo da Starbucks. Porque é muito parecido. Mas quando você chega de perto, você vê que é um pouco diferente, a cor não é a mesma, tem ali uns traços que não são… E aí, claro, é um café com vários tipos de opções e tal, mas é parecido, mas não é igual. E está lá. Coisas que no Brasil seriam proibidas. E você vê isso também com, digamos, Kentucky Fried Chicken, com lanchonetes de vários tipos. Então, claro, tem muito esse jogo na China. Agora, sobretudo entre a classe média alta e a elite chinesa, hoje, é o maior mercado do mundo para produtos de luxo. Então, você tem lojas na China, dessas grandes grifes europeias, como eu nunca vi aqui no Brasil. Lojas, por exemplo, de Pequim, três andares só com produtos de luxo, roupas, bolsas, acessórios. Porque tem uma elite ali com disposição para comprar, para gastar. E é claro que isso também está presente no ramo das bebidas. Então, esses novos ricos chineses têm muito dinheiro e uma das maneiras para eles mostrarem que eles se tornaram pessoas ricas e sofisticadas é exatamente consumir essas marcas de maior prestígio no Ocidente. Então as duas coisas estão lá muito presentes. Mas assim, a China está subindo muito rapidamente nessa escala de qualidade. Eu não vou dizer para vocês que hoje, digamos, um computador ou um celular fabricado na China seja melhor do que aqueles de ponta nos Estados Unidos e na Europa, que não chegou ainda nesse patamar. Mas já chegou numa espécie assim de classe média, cujo custo-benefício é muito bom. Então se você não precisa de um produto muito sofisticado, provavelmente aquele que os chineses estão te oferecendo é bom o suficiente, por um preço bem legal.”

 

A cerveja é a bebida alcoólica que teve o maior crescimento de exportação, representando R$ 583 milhões de reais (fonte: Comex Stat/Anuário do MAPA 2022). Você enxerga a cerveja ganhando notoriedade como um produto original brasileiro?

 

A resposta é um sim entusiasmado. Acho que existe um enorme mercado de potencial para a exportação das cervejas brasileiras. E aí, qual é o pulo do gato? É associar essa bebida a um determinado estilo de vida, a um determinado conjunto de valores, de imagens positivas. Associar a cerveja à imagem do Brasil. E aí, claro, que o governo brasileiro vai ter um papel muito importante em ajudar as empresas na promoção dessas vendas. Deixa eu usar o exemplo da Colômbia para ilustrar isso. Os colombianos têm uma presença muito forte no mercado mundial de café. Sobretudo do café gourmet, mais sofisticado, de maior valor agregado. E eles criaram uma rede de lojas fantásticas, chamada Juan Valdez, que é uma espécie de Starbucks colombiano. Então são lojas que vendem vários tipos de café, mas todos eles colombianos, só toca música colombiana, e as lojas são muito bonitas, são muito charmosas, são muito acolhedoras. Imagina uma Juan Valdez dar cerveja aos brasileiros. É perfeitamente possível a gente imaginar uma coisa assim. E aí o que a gente dizia, desta maneira informal, pela qual a gente bebe cerveja aqui no Brasil, um comercial, por exemplo, dos cariocas bebendo cerveja na praia, o pôr do sol em Ipanema, as pessoas aplaudindo o pôr do sol. Você está associando ali a cerveja a um estilo de vida relaxado, ao contato com a natureza, à beleza. Tem um potencial muito grande. Mas acho que é uma coisa que a gente ainda não faz bem no Brasil. E o próprio governo brasileiro, muitas vezes, é bastante limitado na maneira como faz esse tipo de promoção comercial. Então, por exemplo, tinha uma época em que você entrava no site das embaixadas brasileiras e todos eles tinham ali uma arara vermelha e tal. Eu acho que a essa altura já deve ser funcionário estável, né? Já conquistou ali a sua estabilidade. Cara, dá pra fazer melhor do que isso. Então, a gente tem essa promoção comercial pelas embaixadas e consulados brasileiros. E o Brasil também tem uma agência de promoção de exportações, a Apex. Só que a Apex é uma organização muito mal desenhada. A maioria dos funcionários da Apex trabalha dentro do Brasil e não no exterior, ao contrário do que acontece com as agências de promoção e exportação de outros países. E muitas vezes também a PECS abriu escritórios em países que não são realmente um mercado potencial grande para os produtos brasileiros, mas acabou que essas agências foram abertas por razões políticas e tal. Então, é um instrumento que tem que ser remodelado, mas ele é professor e ele pode dar um ganho muito maior para o país do que vem sendo atualmente. Então, por exemplo, você ter, digamos, 500 milhões de dólares em exportações de cerveja, é muito pouco o que é hoje o patamar das exportações brasileiras, de uma maneira geral.”

 

 

O MRE tem como um de suas políticas externas comerciais e econômicas a promoção do agronegócio. Quais são os produtos mais observados pelo ministério e como isso poderia apoiar o cultivo de lúpulo no Brasil?

 

LúpuloEu acho que é perfeitamente possível, e eu vou usar o exemplo da soja para ilustrar isso. A soja hoje é o produto agrícola que o Brasil mais exporta. Nem sempre foi assim. A gente tem um problema de solo, tínhamos um problema de solo no Brasil. de ser um solo ácido demais para o cultivo da soja, no sentido centro-oeste. Isso foi modificado pelo trabalho da Embrapa. Os cientistas brasileiros, de uma empresa pública, desenvolveram técnicas para reduzir a acidez desse solo e torná-lo propício, fecundo para o plantio da soja. O resultado disso foi essa expansão fabulosa da soja, que a gente viu primeiro pelo centro-oeste, agora em algumas regiões do Nordeste, da Amazônia, e um enorme impulso para o agronegócio brasileiro e o desenvolvimento econômico de várias regiões do país. Assim como foi feita essa pesquisa com soja, pode ser feita com o lúpulo também. Por que não? E desenvolver ali técnicas adaptadas para as condições brasileiras que permitam esse tipo de desenvolvimento e essa expansão do circuito do agronegócio relacionado com a cerveja no Brasil. Então a gente tem os instrumentos para isso. E claro, temos hoje um segmento do agronegócio no Brasil que é o que a gente vai falar. extremamente moderno, competitivo, sofisticado nos seus métodos de gerência. Então, assim, temos a faca e o queijo na mão, por assim dizer. No caso da soja, eu trouxe a soja para o Brasil, eu sou a plantar a soja aqui. foram os imigrantes japoneses. Porque a soja no Japão, na China, ela é um alimento muito presente no cotidiano. O leite de soja, o tofu, que é uma espécie de queijo de soja e tal. E os japoneses começaram a plantar aqui, no interior de São Paulo, depois foram para o Sul e começaram a chegar no Centro-Oeste como colonos. Isso foi na época da ditadura. E os militares queriam estimular a colonização do Centro-Oeste, porque era um vazio demográfico ali do Brasil. E tinham ali esses agricultores tentando plantar soja, mas enfrentando uma série de dificuldades. Então foi a partir daí que veio essa ideia, não, vamos botar em brava para pesquisar isso. Agora, o interessante é que na época o Brasil não exportava soja, era uma coisa muito mercado interno. E quando começou a exportar, lá pelos anos 80, 90, era principalmente para os Estados Unidos e para a Europa. Mas para a Europa, só no século XXI é que a China virou o grande comprador da soja brasileira. Então, quando se começou essa pesquisa científica para adaptar a soja melhor ao Brasil, lá nos anos 60 e 70, esse mercado chinês não existia nem em sonho. Mas quando esse mercado chinês de fato apareceu, o Brasil estava muito bem preparado, muito bem posicionado para explorar essas possibilidades. Então, por isso também que a pesquisa científica de base é importante e por isso que é importante ter o poder público estimulando isso. Porque o retorno pode ser fabuloso, pode ser maravilhoso, mas às vezes, como no caso da soja brasileira, ele vai levar 30 anos para aparecer. Então é difícil também você ter uma empresa privada disposta a apostar a tão longo prazo assim. Mas o poder público pode fazer isso.”

 

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Até a próxima!

 

✨Leia também: História da cerveja na América do Sul com Beber a História

✨O que bebemos durante o programa? Todos bebem água (nem parece carnaval!!).

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