Nesse dueto cervejeiro, série do nosso podcast Surra de Lúpulo, as perspectivas sobre o mercado de cervejas artesanais foram além do que esperávamos. Raul Schuchovsky, da Frohenfeld Craft Brewery, e Victor Morandi, da Cervejaria Mestra não mediram as palavras e as questões polêmicas. Ludmyla (a Ipacondriaca) e Leandro (o Mineiro d’Água) deitaram e rolaram nas tretas cervejeiras.
Dueto de cervejarias jovens
A Cervejaria Mestra surgiu no Espírito Santo em 2019. Seu nome vem pelo desejo de atender a produção própria, facilitar a criação de novas marcas por meio do modelo “cigano” e estar localizada logo na base do monte Mestre Álvaro. A fábrica produz 18 mil litros. Enquanto isso, a mais de 1300 km de distância, em Curitiba (PR), a Frohenfeld foi inaugurada no meio de 2021 e conta com uma produção de 4 mil litros. Seu primeiro objetivo é atender ao mercado local.
As diferentes cenas
No Espírito Santo a cena é nova e acelerada e o Paraná está em um momento de renovação.
“O Espírito Santo, de 2018 para cá, começou um boom de cervejarias. Com quase 50 registradas nesse período. Só na capital temos 8 registradas”, afirma Victor.
Nesse momento de aceleração do mercado local capixaba, o público tem preferido marcas com bar próprio ou brewpubs. Da capital do Paraná, Raul fala sobre esse momento.
“Curitiba sempre foi um polo cervejeiro nessa nova era das artesanais. Desde 2009, já tinha algumas cervejarias aqui entrando na artesanal, como a Way, ou a Bodebrown e várias outras já estavam fazendo história por aí. Eu estou vendo agora em Curitiba uma renovação. As próprias cervejarias que existiam também estão se renovando.”
Ambos ressaltaram a importância da Way e da Bodebrown para o mercado nacional. De acordo com o Raul e o Victor, enquanto a Way focava em cervejas de ótima qualidade a Bodebrown borbulhou o mercado dando cursos para cervejeiros caseiros.
Os estilos alemães e a Reinheitsgebot
Raul reforça que a Frohenfeld não faz apenas estilos alemães, mas dá preferência para estes estilos.
“Hoje, a Frohenfeld acabou focando na escola Alemã e principalmente em estilos que acabam não sendo produzidos no Brasil.”
Sobre a Lei de Pureza Alemã, ele explica como se preocupa em sua produção.
“Todo nosso equipamento é preparado para fazer o estilo alemão da forma como deve ser feito. A gente tem tanques de fermentação abertos, onde fermento Bocks, Dopplebocks e principalmente a Weiss.”
O mestre cervejeiro percebe a vantagem de oferecer para o público brasileiro cervejas alemãs frescas. Já que, normalmente, o público é acostumado a experimentar cervejas desses estilos que viajaram e chegam cansadas ao paladar.
Quer saber tudo sobre os estilos da escola alemã? Escute o episódio com a Káthia Zanatta, que deu uma aula sobre esse tema.
Notícias do Espírito Santo
Depois do relato sobre o momento que o mercado vive no estado do Espírito Santo, a dúvida foi por que no Rio de Janeiro chega tão pouco do estado vizinho e o Victor foi direto ao ponto e mencionou sobre a dificuldade que os capixabas tem com o turismo, a falta que faz um chamariz e fluxo de visitantes. Claro, também existe o objetivo dos produtores.
“A maior parte das cervejarias daqui produzem para o consumo local.”
Concursos de cervejas profissionais
Não fugiu do debate a questão de como funciona o relacionamento dos concursos profissionais e os juízes. Ambos apontaram a importância do concurso para as cervejarias e para o mercado como um todo. O movimento ajuda a divulgar as cervejas artesanais e, claro, as premiadas, a ponto de ser um fator de estimulo para o turismo cervejeiro. Devido a toda essa relevância, ao menos nos concursos profissionais, os juízes deveriam ser remunerados e terem seus custos de transporte e hospedagem pagos. Victor ainda ressalva outro problema pela falta de remuneração.
“Apesar do número de juízes na cena aqui do estado ser relativamente alto, a gente tem dificuldade de fechar juiz para julgar em concurso. Alegam falta de disponibilidade por ter que abrir mão de dias de trabalho ou mesmo tempo com a família.”
Raul e Victor indicam que hoje muitos juízes só trabalham para pontuar e poder aumentar seu papel no BJCP.
Esse debate vem sendo provocado desde a conversa que tivemos com a Beatriz Ruiz. Os concursos também abasteceram o tema de uma Sala de Brassagem dos amigos do podcast Brassagem Forte.
Latas, garrafas ou barris
Barris é a preferência para a Cerveja Mestra e para a Frohenfeld. Victor tem uma máquina manual de envase em latas, que usa para apenas algumas cervejas específicas enquanto as garrafas são deixadas para as aquelas que demandam esse envase, como por exemplo as Belgian Strong Ale. Já Raul, tem uma envasadora híbrida. Mas, devido a falta de garrafas no mercado, acaba optando pela lata para a venda do e-commerce e o envase local, já que possui dificuldades de encher growler, ele aproveita que a bebida dura mais em lata e estimula que os clientes levem o produto neste recipiente.
Dueto cervejeiro com temas polêmicos
O dueto cervejeiro poderia ser chamado de treta cervejeira. Por que, se até aqui você achou que o Victor estava satisfeito com as tretas, achou errado… o clima bom do papo foi aproveitado para a conversa seguir sobre uma possível repulsa dos beer geeks pelas cervejas que estão nas gôndolas do mercados/hipermercados e quanto isso pode ser fruto do nosso complexo de vira-lata.
Victor também trouxe uma questão complexa, em concursos, devem ser julgadas apenas as cervejas já comercializadas ou as produzidas unicamente para o concurso? Claro que o Raul não deixou barato e também provocou, qual é o prazo de validade de uma medalha? São tantas questões…
Você pode ouvir o outro dueto cervejeiro que fizemos com o o Guto Pinho da Cevaderia e o Humberto Fröhlich da Babel.
Nesse papo, Raul bebeu a sua Krispy Leicht Bier. Victor também estava saboreando uma leve, a German Pilsner da Mestra. Já Leandro, degustou a Dom Hanks, Session IPA da Cervejaria DOM e a Lud estava bebendo a Eclipse da Captain Brew (cerveja que ela ficou devendo de beber no dueto com a participação da Captain). uma Double Juicy IPA.